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Ciências Agrárias

Grupo de pesquisa da UFU estuda a 'tropicalização da canola'

Objetivo dos ensaios é viabilizar a produção do grão na região do cerrado

Publicado em 25/08/2023 às 17:38 - Atualizado em 30/08/2023 às 13:42

Cultivo da canola é feito tradicionalmente no sul do país. (Imagem: Freepik)

Você já ouviu falar em canola? Ela é uma planta pertencente à família das crucíferas, que compreende também as couves, o repolho e o brócolis, alimentos mais comuns no dia a dia do brasileiro. Porém, a canola vem se popularizando nos últimos anos por conta do óleo que pode ser extraído de seus grãos, cujo consumo pode trazer diversos benefícios à saúde.

Tradicionalmente cultivada na região Sul do país devido a limitações naturais, ela integra o segundo ciclo de plantações, conhecido como “safrinha”, que é quando os produtores buscam garantir a rotatividade dos solos para otimizar seus recursos e aumentar a produtividade das terras, mesmo durante a estação seca do ano.

Nas regiões centrais do Brasil, onde está compreendido o cerrado, o cultivo durante a safrinha é preferencialmente do milho, sorgo ou girassol, mas as opções podem aumentar. Isso porque intensificaram-se nos últimos anos pesquisas para que seja possível a chamada “tropicalização da canola”, processo que busca romper as limitações existentes e levar o cultivo do grão também ao cerrado.

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é uma das principais frentes de pesquisa nessa área por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas em Canola (GEPCA), do Instituto de Ciências Agrárias (ICIAG). Coordenado pela professora Flávia Nery, do curso de Agronomia, o grupo iniciou suas atividades em 2014 e, nesses quase 10 anos de atividade, desenvolveu ensaios de campo avaliando a cultura da canola no município de Uberlândia, a fim de adaptar o cultivo do grão às condições tropicais da região.

Professora Flávia Nery, coordenadora do GEPCA, em um campo de canola
Professora Flávia Nery, coordenadora do GEPCA, em um campo de canola. (Imagem: Acervo pessoal/Flávia Nery)

A professora explica que esses testes foram necessários para avaliar aspectos importantes do desenvolvimento da canola no cerrado. “Nestes ensaios foi observada a incidência de pragas e doenças, que, em alguns casos, se diferenciavam do que acontecia com acontecia com os cultivos de canola na Região Sul do Brasil”, explica Nery.

 

Importância da pesquisa

As pesquisas desenvolvidas no âmbito do GEPCA buscam ampliar o cultivo da canola por conta do alto valor agregado do grão, que é capaz de gerar o óleo de canola, produto que se popularizou nos últimos anos devido às suas características saudáveis. Isso porque ele possui um alto percentual de gorduras insaturadas saudáveis (93%), não contém colesterol nem gorduras transaturadas, e o menor porcentual de gordura saturada (7%) de qualquer óleo comestível comum. Esta composição ajuda a reduzir o risco de cardiopatias vasculares, com a redução do colesterol total do sangue e da lipoproteína de densidade baixa, popularmente conhecida como “mau colesterol”.

Além de promover uma maior produção do óleo de canola, os estudos comandados por Nery visam a trazer benefícios também à agricultura brasileira, ampliando as opções de cultivo durante o período da safrinha. “Na região do cerrado, por suas características de solo e clima, para além do retorno financeiro, é imprescindível a adoção de sistemas de cultivo que visem à cobertura do solo o máximo de tempo possível. Portanto, apresentar mais uma opção de cultivo ao produtor rural que possa entrar no sistema de rotação, após a retirada da safra de verão, é uma das vantagens da canola”, afirma.

Outro benefício que a tropicalização da canola pode gerar, como explica Nery, está relacionado a melhorias no sistema produtivo. “A expansão da canola está associada a melhorias no sistema produção, como redução na incidência de pragas e doenças nos cultivos subsequentes, menor gasto com defensivos e adubação do que os demais cultivos de grãos, resistência à seca e aos veranicos comuns na região, maior teor de óleo e produção no período de sazonalidade da soja.”

 

Resultados são apresentados em congresso

Os nove anos de pesquisas transcorridos no GEPCA foram suficientes para que os estudos desenvolvidos recebessem reconhecimento. Em 2023, a professora Flávia Nery foi convidada a ministrar uma palestra na abertura do 2º Simpósio Latino-Americano de Canola, realizado nos dias 22 e 23 de agosto na cidade de Três de Maio, no Rio Grande do Sul.

Professora Flávia Nery no 2º Simpósio Latino-Americano de Canola
Professora Flávia Nery foi convidada a participar do 2º Simpósio Latino-Americano de Canola (Imagem: Acervo pessoal/Flávia Nery)

 

A palestra intitulada “Tropicalização da canola: pragas e doenças potenciais” buscou apresentar aos congressistas presentes os resultados que foram observados pelo grupo de pesquisa e estão relacionados à incidência de pragas e doenças na canola. “Nos trabalhos foram avaliadas, dentre outras coisas, a incidência de pragas e doenças na cultura da canola em região tropical. Por possuirmos esse registro de informações, surgiu o convite para realizar a palestra de abertura do Simpósio”, revela Nery.

Além disso, a professora explica que os resultados da pesquisa vão além do que foi apresentado no congresso. “Ao longo destes anos, nos ensaios desenvolvidos na Fazenda Experimental Água Limpa e na Experimental do Glória, com a participação dos alunos do curso de Agronomia, foram analisados, também, o desempenho de híbridos de canola cultivados em diferentes épocas de semeadura, buscando a inserção do grão no sistema produtivo na região do cerrado.”

 


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Palavras-chave: agronomia ciências agrárias canola

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