Publicado em 06/11/2023 às 12:59 - Atualizado em 13/11/2023 às 07:58
Como conciliar a academia e a maternidade? Durante o mês de agosto, foi este o assunto de um grupo de mães que, no dia a dia, passam por essa rotina. Lays Braga, da foto acima, é uma delas. A estudante de 29 anos, está no curso de Pedagogia noturno da Universidade Federal de Uberlândia. Ela tem um filho de dois anos, mora com o pai dele, que também estuda na UFU, onde cursa Matemática.
Nesses encontros, promovidos pelo projeto “Festival Mães da UFU", ela percebeu que dividia os mesmos sentimentos de outras mães: “Foi importante para podermos nos reconhecer em outras mulheres, que também passam por esses desafios”. A futura pedagoga conta que nas atividades encontrou "um espaço para discutir, falar, buscar melhorias e questionar por que não existem regimentos, dentro da instituição, para atender as mães”.
O projeto “Festival Mães da UFU” foi um dos contemplados pelo Programa Institucional de Apoio à Cultura (PIAC - Estudantil), da Diretoria de Cultura (Dicult), por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) e com o apoio da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae).
A ideia veio da estudante do curso de Artes Visuais Malu Teodoro, que também é mãe. “Fiquei muito assustada de como os espaços não acolhem as crianças e, dessa forma, as mães também são excluídas da vida social e ficam presas na esfera doméstica. A sensação de exclusão e solidão que as mães experienciam, nos primeiros anos da maternidade, é enorme e preocupante”, comenta.
Desta forma, Malu resolveu associar vida artística às questões sociais que perpassam a maternidade, realizando ações que contemplam mães e crianças, trazendo visibilidade a este tema. Mas o que o PIAC teria a ver com ação social? De acordo com o diretor de Cultura da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Alexandre Molina, “trata-se de um programa de fomento à cultura e, nesta perspectiva, a arte faz parte". E prossegue: "O aspecto social acaba sendo impactado, pois a cultura é viva e é resultante das diferentes dinâmicas sociais”.
A estudante Lays conta que, quando ingressou na faculdade, experienciou diversas outras dificuldades, tais como não ter onde deixar a filha e, assim, poder participar de eventos de extensão. Por encarar esses e tantos outros desafios, de acordo com ela, as mulheres mães "acabam por não ingressarem na universidade, ou, se entram, muitas vezes, não conseguem seguir e progredir na carreira acadêmica”.
Malu acrescenta: “Muitas universidades no Brasil já têm um grupo de mães para gerar inclusão dessas mulheres dentro do contexto acadêmico, mas a UFU ainda não. Este é o meu objetivo, com esse projeto.”
Lays ressalta que o projeto foi importante para que as mães se reconhecessem em outras mulheres que passam pelos mesmos desafios. “A gente pôde debater alguns problemas e também contar coisas boas, como, por exemplo, de professores que permitem que a gente leve a criança para a sala ou, até mesmo, escutar relatos de pessoas que viram que os filhos não eram bem-vindos dentro de uma sala de aula. Lembrando que uma mãe nunca leva um filho porque ela quer, mas sim porque precisa, porque acontecem eventualidades”, argumenta.
Ações do projeto
O projeto consistiu em quatro ações. A primeira delas, intitulada “Residência artística - Atenção Mães Trabalhando”, aconteceu no Museu Universitário de Arte – MUnA. “A proposta foi que, em três dias de encontros, criássemos um coletivo de mães e pensássemos em ações para chamar a atenção para a existência das mães universitárias e a ausência de iniciativas da universidade que atendessem as demandas específicas dessas mulheres. Uma equipe de duas auxiliares ajudou nos cuidados com as crianças, enquanto as mães trabalharam”, explica Malu.
A segunda atividade foi intitulada “Nave Mãe - Festa para mães e suas crias” e aconteceu também em agosto, com uma festa na Lona Olívia Calábria. A atividade foi pensada para mães e suas "crias", sendo aberta a toda a comunidade.
Por fim, a terceira ação vai envolver a publicação do livro "A Mãe Monstra”, com lançamento marcado para 22 de novembro, durante o Festival EntreArtes, promovido pelo Instituto de Artes (Iarte/UFU). A obra conta a história da revolta de uma mãe exausta e sem recursos, criada no laboratório do patriarcado e desmantelada pela pandemia.
De acordo com Malu, “as imagens e os textos de ‘A Mãe Monstra’ têm ampliado o debate sobre a questão da maternidade real e essa abordagem tem sido determinante para repensar a maternidade, o feminino e o trabalho da manutenção e do cuidado na sociedade contemporânea, que tem sofrido alterações, em virtude da luta pela equidade de gênero”. Após o lançamento do livro, acontecerá uma roda de conversa.
"A Mãe Monstra" é um trabalho de fotografia e texto, desenvolvido por uma mãe e sua criança durante a pandemia, diretamente relacionado ao tema do projeto. Depois do lançamento, que terá distribuição gratuita, haverá uma roda de conversa. "O livro seria como 'disparador' para iniciar uma discussão, até hoje muito pequena, a questão das mães dentro da universidade”, pontua Malu.
Milane Natália é artista da dança, mãe de duas filhas - uma de sete e outra de cinco anos - e também participou das ações do projeto. “Desde que fiquei sabendo, desejei participar e movimentar para melhorarmos os caminhos da minha relação como mãe e graduanda da UFU, além de poder mostrar para essas comunidades interna e externa, o quanto a universidade pode melhorar, enquanto espaço público a serviço desse coletivo: mães. Tive a honra de participar das etapas de preparação da 'Festa Nave Mãe' e pude vivenciar a festa. Foi incrível ver a Lona Cultural Olívia Calábria e a universidade habitadas por mães, mães com suas crianças, pais e apoiadores do movimento”, relata.
O que a UFU oferece aos estudantes
Conforme a pró-reitora de Assistência Estudantil, Elaine Calderari, a UFU segue a legislação prevista pelo Ministério da Educação e oferece o auxílio-creche, garantido para pais e mães que são responsáveis legais pelos filhos, por meio do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Atualmente, 48 estudantes da graduação da UFU (dois pais e 46 mães) recebem esse benefício. O valor é de R$ 300 mensais e é concedido até que a criança complete 6 anos de idade. Para se candidatar ao auxílio, o estudante deve ficar atento ao lançamento do edital, apresentar a documentação e passar por uma análise socioeconômica.
Ainda segundo Calderari, “uma proposta que foi conversada com a Faculdade de Educação (Faced) é de pensar uma brinquedoteca que fosse auxiliada pelos pelos estagiários do curso de Pedagogia, para que, em horários específicos, pudessem dar um apoio às estudantes, mães e pais”. Ela revela que a iniciativa está em fase de análise: "A gente ainda vem estudando como e de que forma viabilizar, porque também é uma questão muito sensível, do cuidado da criança, fluxos de urgência, emergência, como a gente de fato conseguiria funcionar, sem colocar nenhuma criança em risco. Essa é a nossa maior preocupação.”
A pró-reitora informa que algumas instituições federais, como a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de São Carlos (UFSCAR), possuem sistema de creche. "No entanto, mesmo que conseguíssemos abrir nesse momento uma creche, a gente teria que fazer o mesmo movimento da Escola de Educação Básica (Eseba), ou seja, abrir para a sociedade e fazer de forma que todas as comunidades interna e externa pudessem participar”, pondera.
Além disso, também é realizado na UFU um trabalho de sensibilização, por meio do “Projeto Mais Contigo”, que consiste em oficinas de acolhimento. “Nós já estamos indo para o terceiro módulo no Campus Pontal e para o segundo em Monte Carmelo, Patos de Minas e Uberlândia”, comenta Calderari. Por fim, ela cita que foram criados núcleos de apoio e atenção ao estudante, dentro das unidades acadêmicas ou unidades especiais: “Esses núcleos têm a função de sensibilização, concentração, escuta e acompanhamento dos estudantes, incluindo as estudantes mães e pais.”
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Palavras-chave: piac 2023 Projeto nave mãe
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