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Ciência

Pesquisadores da UFU conseguem avançar com reformulação de antibióticos e seguem para nova fase

Resultado aponta que a droga reformulada ultrapassa os limites da resistência das bactérias

Publicado em 21/11/2023 às 09:20 - Atualizado em 22/11/2023 às 13:29

Trabalho fica em primeiro lugar na conferência Escola de Nanotecnologia Aplicada à Farmacologia Veterinária & Simpósio Internacional de Farmacologia e Terapêutica Veterinária. Da esquerda para a direita está Fabiana Notário e André Schlemper (Foto: Marco Cavalcanti)

Com a evolução dos casos de resistência bacteriana às formulações antibióticas atuais e o crescente número de casos de superbactérias, surge a necessidade de criar métodos para melhorar a eficácia dos medicamentos já conhecidos no mercado. Foi a partir dessa observação que André Eduardo Schlemper, doutorando em Ciências Veterinárias na Universidade Federal de Uberlândia (Famev/UFU), direcionou sua pesquisa de mestrado à reformulação de antibióticos. 

Sob orientação da professora Bia Fonseca, o trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Epidemiologia Molecular Experimental (Lamox), também em parceria com a professora Lígia Nunes de Moraes Ribeiro. 

Em sua pesquisa, o então mestrando avaliou a eficácia de diferentes doses e administrações de fármacos e antibióticos usados para infecções do trato urinário. No trabalho, foi testada uma nanopartícula híbrida à base de norfloxacina desenvolvida por Lígia Ribeiro. A intenção era diminuir o custo dessas moléculas, buscando novos formatos acessíveis para o uso em pessoas e outros animais. 

O teste em roedores mostrou que a formulação desenvolvida permitiu menor dose do fármaco com maior intervalo entre as doses, melhorando a disponibilidade de um antibiótico que na sua fórmula comercial já não é tão eficiente e tem pouca absorção intestinal. Além disso, o resultado já mostrava que a droga reformulada ultrapassa os limites da resistência das bactérias. 

Para o pesquisador, não é necessário produzir uma nova droga, atualmente. Os estudos têm caminhado para o desenvolvimento de novas formulações de drogas já utilizadas, como é o caso de sua pesquisa. Observa-se que, mudando a sua veiculação, ou seja, a forma que ela entra na bactéria, é possível que aconteça a potencialização do antibiótico. Schlemper acrescenta que, em seu trabalho, lançou mão de drogas que eram menos utilizadas por conta de seus efeitos colaterais e principalmente pela resistência das bactérias no organismo e as potencializou. 

 

Em primeiro plano o pesquisador André Schlemper que tem se dedicado à reformulação de antibióticos.
Para o pesquisador, mudar a forma como a droga é entregue no organismo, já representa uma potencialização do antibiótico (Foto: Marco Cavalcanti)

Análises e resultados 

Finalizada a primeira etapa de pesquisa durante o seu mestrado, Schlemper concluiu o funcionamento do fármaco. O processo inicial de experimentação se iniciou com galinhas, no entanto, comercialmente usar a nova formulação seria inviável. Os testes, então, passaram a ser feitos em camundongos. Nessa fase, verificou-se que a quantidade do fármaco a ser utilizado poderia ser menor.

Após essa confirmação da eficácia do fármaco em camundongos, o comitê de ética aprovou a testagem em cães. Schlemper acrescenta que esse próximo passo será a fase clínica. Nela, serão tratados animais atendidos no Hospital Veterinário da UFU que possuem infecção urinária crônica ou multirresistentes, causadas por bactérias que resistem aos antibióticos.  

Os resultados mostraram alta eficiência em doses menores da formulação nanohíbrida em relação às comerciais. Se os próximos resultados forem promissores, é possível que o medicamento siga para ser testado em humanos.

“Um exemplo prático é que em humanos e gatos, o fármaco apresenta muitos efeitos colaterais, como náuseas, problemas renais e intestinais. Quando colocada nessa nanoformulação, ele diminui significativamente a toxicidade. E aí eu posso utilizar em pacientes que não poderiam e também em menores quantidades. E isso seria revolucionário para a terapêutica animal”, comenta Schlemper. 

 

Premiação 

O resultado da pesquisa de mestrado foi apresentado e premiado na conferência Escola de Nanotecnologia Aplicada à Farmacologia Veterinária & Simpósio Internacional de Farmacologia e Terapêutica Veterinária pela aluna de mestrado Fabiana Notário, que também é orientada pela professora Bia. 

O evento é uma iniciativa do Núcleo de Estudos em Farmacologia Aplicada (Nefarm) da Universidade Federal de Lavras (Ufla), da  Embrapa Gado de Leite e da Liga Acadêmica de Farmacologia Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia, com a proposta de divulgar os avanços da farmacologia veterinária e reunir os profissionais que atuam nessa área.

Notário relembra que, durante o simpósio, muitas das palestras foram direcionadas à problemática da resistência das bactérias aos antibióticos, algo que tem preocupado os especialistas da área. Para ela, o evento foi a oportunidade de médicos veterinários esclarecerem dúvidas sobre antibióticos, legislação, regulamentação e nanotecnologia aplicada à farmacologia, que foi o eixo temático em que o trabalho do André Schlemper foi premiado. 

Para a mestranda, pesquisadora de embriões de galinhas, participar do evento e receber a premiação foi a oportunidade de aprendizado, principalmente sobre a regulamentação de fármacos.

 

Fabiana Notário representou o colega de laboratório André Schlemper no evento que aconteceu na Universidade Federal de Lavras  - (UFLA) (Foto: Arquivo pessoal)
Fabiana Notário representou o colega de laboratório André Schlemper no evento que aconteceu na Universidade Federal de Lavras - (UFLA) (Foto: Arquivo pessoal)

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Palavras-chave: nanotecnologia antibióticos hospital veterinário Medicina Veterinária

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