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Dezembro Vermelho

Como enfrentar o avanço da aids na população idosa?

Tese desenvolvida na UFU avalia percepções dos profissionais de saúde

Publicado em 12/12/2023 às 15:46 - Atualizado em 18/12/2023 às 08:24

Prevenção é etapa importante não somente entre jovens, mas também entre os idosos (Foto: Freepik)

No ano de 2011, no Brasil, 360 pessoas com 60 anos ou mais foram diagnosticadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), que pode causar aids. Esse número foi subindo a cada ano, até 2019, quando foram registrados 1.517 casos de HIV nessa mesma faixa etária. Nos dois anos seguintes, mesmo com a possível subnotificação, devido à pandemia de covid-19, o número de testes positivos na população idosa continuou alto, de acordo com os dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.

As causas do avanço dos casos de HIV na população idosa são múltiplas e envolvem fatores biológicos e comportamentais. Mas uma tese desenvolvida na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) aponta outra possível causa para o problema: muitos profissionais de saúde não estão preparados para atender idosos sem desconsiderá-los como pessoas com vida sexual ativa.

Durante o mestrado e o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, na Faculdade de Medicina (Famed/UFU), a cirurgiã dentista Patrícia Aparecida Borges de Lima, sob orientação do professor Wallisen Tadashi Hattori, entrevistou 41 profissionais de saúde do Ambulatório Municipal de IST/HIV/Aids “Herbert de Souza” e 115 profissionais que atuam na atenção primária em Uberlândia (MG). Entre eles estavam médicos, farmacêuticos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas, dentistas e trabalhadores de outras áreas.

Foto colorida mostra mulher de jaleco em frente a um computador
Patrícia Aparecida Borges de Lima atua no Ambulatório Municipal de IST/HIV/Aids de Uberlândia (MG) e pesquisou a doença na população idosa (Foto: Marco Cavalcanti)

Um dado preocupante observado nas respostas, segundo Lima, é que apenas 34,1% dos profissionais consideram que o teste de HIV deve ser incluído na rotina após os 60 anos. Outro resultado que surpreendeu os pesquisadores, ainda que pequeno (2,4%), foi que houve quem dissesse que não considera a ocorrência de HIV/aids em idosos um problema de saúde pública. De acordo com o estudo, fatores sociodemográficos e características de profissionais, como gênero e religião, estão relacionados com a percepção em relação ao idoso vivendo com HIV.

“Esse idoso está chegando com diagnóstico tardio, porque lá na atenção primária verifica todas as outras doenças e vê o idoso como ser assexuado. As comorbidades que um idoso tem muitas vezes se interligam com aqueles sintomas e sinais clínicos que a própria aids dá. Então, na maioria das vezes, esse profissional da atenção primária não acende um alerta que aquele idoso tem uma vida sexual e que ele tem uma vulnerabilidade e que pode ser um HIV/aids”, afirma Lima.

 

HIV/aids hoje

A cientista explica que, diferente do que ocorreu nas primeiras décadas de descoberta da aids, hoje é possível viver bem com o vírus HIV, desde que haja uma boa atenção ao tratamento. Ainda que não haja uma cura para a doença, graças à medicina atual, o paciente que faz o tratamento correto passa a ter uma carga viral indetectável. Considera-se indetectável a quantidade de vírus inferior a 40 cópias por ml de sangue. Com essa carga viral, já não há mais a transmissão do HIV.

A principal forma de contágio é através da relação sexual. O uso de preservativo ainda é muito ligado à gravidez, mas o uso dele é a principal forma de prevenção, não somente à aids, mas a outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis e hepatite, por exemplo. Há também a transmissão por transfusão sanguínea, mas Lima destaca que, no Brasil, ela é mínima, pois há um grande controle e regulamentação nos hemocentros.

Existe também a chamada transmissão vertical, passada de mãe para filho durante a gravidez. Por isso, é de suma importância a realização do pré-natal e de um acompanhamento eficaz na gestação. Neste mês, Uberlândia recebeu o certificado de eliminação da transmissão de HIV de mãe para filho. O certificado foi dado pelo Ministério da Saúde e reconhece que a cidade zerou a transmissão vertical do vírus graças às políticas públicas de pré-natal.

 

Dezembro Vermelho e prevenção

Foto colorida mostra duas embalagens de preservativo masculino
O uso de antirretrovirais não descarta o uso do preservativo (Foto: Pixabay)

O Dezembro Vermelho é uma campanha nacional de prevenção à aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O intuito é chamar a atenção para a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.

O mês é destinado à causa porque o Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi instituído no primeiro dia de dezembro de 1988 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) explica que “esta data constitui uma oportunidade para apoiar as pessoas envolvidas na luta contra o HIV e melhorar a compreensão do vírus como um problema de saúde pública global”. 

A prevenção é o primeiro passo para o combate à doença. Em Uberlândia, o Ambulatório Municipal onde Lima atua é também um Centro de Testagem e Acolhimento (CTA). De acordo com a pesquisadora, lá são realizados de 600 a 700 testes rápidos mensais. De forma gratuita, toda população pode realizar a testagem, basta fazer o agendamento pelo número (34) 3215-2444. O paciente passa por um aconselhador e o teste também detecta outras doenças para além da aids, como sífilis e hepatite B e C.

Por fim, Lima destaca que o uso de antirretrovirais não descarta o uso do preservativo e que não se deve ter ignorância ou preconceito sobre a doença, seja na população jovem ou idosa. “Imagina hoje uma pessoa de 60 anos. Ela está super bem, né? Ela está praticando atividade física, muitos deles já aposentaram… Então, ela vai viajar, ela tem turmas, ela namora. E por que não falar de atividade sexual, da vida sexual dessa pessoa? Então, é ter educação com o idoso, com os profissionais e lá na base, nas escolas”, finaliza.

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

Palavras-chave: Dezembro Vermelho aids HIV idosos

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