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Clima

Como a redução do uso de combustíveis fósseis pode afetar o Cerrado?

Decisão tomada na COP 28 visa amenizar as mudanças climáticas

Publicado em 29/12/2023 às 11:20 - Atualizado em 02/01/2024 às 13:21

Cerrado ocupa cerca de 25% do território nacional. (Foto: Milton Santos)

Às vésperas da 28ª Conferência das Partes (COP 28), da Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Mudança do Clima, foi divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o aumento de 3% no desmatamento do Cerrado, entre agosto de 2022 e julho de 2023, em relação à apuração do período anterior. O número equivale à perda de 11.011 km² de vegetação nativa derrubada em um ano. 

O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, abrigando mais de 11 mil espécies de plantas nativas, onde aproximadamente 4.400 são espécies endêmicas – existentes apenas nesse bioma. Caracteriza-se por conter nascentes de rios que integram as principais bacias hidrográficas brasileiras, além de hospedar diversas comunidades indígenas. O bioma abrange os estados de Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Piauí, Bahia, Maranhão, Rondônia e Paraná, além de alguns enclaves — território encaixado em um território estranho —  no Amapá, Amazonas e Roraima. E, ainda, compreende alguns territórios do nordeste do Paraguai e também no leste da Bolívia.

“No Cerrado, um dos impactos mais diretos da remoção da cobertura vegetal é a redução da evapotranspiração naquela região”, relata a professora Samara Carbone, também coordenadora do Laboratório de Climatologia e Meteorologia Ambiental (Clima), ligado ao Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia (Iciag/UFU). De acordo com a docente, o processo de evaporação da água é essencial para o transporte de umidade, formação de nuvens e precipitação.

Portanto, o desmatamento altera esses processos, ao remover a cobertura vegetal, podendo ocasionar a supressão da precipitação, ou seja, menos chuvas. Já as queimadas, que costumam acompanhar a prática do desmatamento, são responsáveis por emitir gás carbônico (CO2) e outros gases poluentes para a atmosfera, intensificando o efeito estufa e resultando em mudanças climáticas.

Foto da vegetação do Cerrado
O clima do Cerrado é tropical sazonal, evidenciando duas estações definidas: uma seca e outra chuvosa. (Foto: Milton Santos)

O documento final da COP 28 relata que foi acordada entre 195 países a necessidade de uma transição energética e, pela primeira vez, foi sugerido que todas as nações devem optar pela redução dos combustíveis fósseis até 2050. Mas, como essa decisão pode afetar o Cerrado? 

O controle do uso desses combustíveis é um caminho para limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC, o que majoritariamente pode ser causado pela emissão de CO2 para a atmosfera — gás também emitido com o alastramento das queimadas. “Quando a gente pensa em um cenário em que não há redução de combustíveis fósseis, o planeta vai continuar aquecendo e aquecendo em taxas bem rápidas [...] No nosso bioma, a questão com o fogo em um planeta mais quente faz com que seja mais difícil de contê-lo”, relata Carbone. Esse fenômeno acontece porque as temperaturas elevadas fazem com que o fogo se alastre com mais facilidade. E isso faz com que ações governamentais sejam rapidamente tomadas em relação às queimadas no Cerrado, ainda quando o bioma possui leis mais permissivas que na Amazônia, por exemplo.  

 

Conferência das Partes (COP)

A COP 28 aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes, com início no dia 30 de novembro e término em 12 de dezembro. O encontro ocorre anualmente e reúne todos os representantes dos países signatários da convenção — um Estado ou entidade política que assente a um contrato ou acordo internacional, incorporando as normas nele previstas —, com o objetivo de analisar as mudanças climáticas e definir acordos e metas que solucionem os problemas ambientais que afetam o planeta. 

No penúltimo dia do evento, foi confirmado que o Azerbaijão sediará a COP 29 e que o Brasil receberá a COP30. Esta edição do evento será em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, ocorrendo pela primeira vez em uma cidade amazônica. “Sinaliza para o mundo que o governo está empenhado em promover a transição energética, bem como a redução dos gases de efeito estufa no Brasil. A COP 30 será importante porque, a cada 5 anos, os países devem revisar suas metas de redução de emissão de GEE – Inventário Ambiental de Gases do Efeito Estufa – e 2025 será o momento disto ser feito e apresentado”, enfatiza Carbone.

 

 

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Palavras-chave: cerrado Queimadas desmatameto

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