Publicado em 22/04/2024 às 16:21 - Atualizado em 02/05/2024 às 08:06
Cheerleading, ou líder de torcida, como a modalidade também é conhecida, não é coisa apenas dos filmes estadunidenses. Pelo contrário, é um esporte que pode ser vivenciado em qualquer lugar, principalmente dentro das universidades. Para quem já viu de perto, além das telas, uma apresentação de cheers pode ser impressionante, principalmente quando os membros da equipe fazem movimentos aéreos e que parecem envolver muita força. E a pergunta que todos fazem: como a equipe consegue? E, caso estejam pensando que o esporte é para poucos atletas habilidosos, ou algo inatingível, é necessário ressaltar que existem muitas oportunidades de aprender sobre ele.
Graduada em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Laura Quaglio foi uma das brasileiras a vencer o Campeonato Americano de Cheerleading 2024, disputado no último mês de março. Os outros atletas que compuseram a equipe eram Bárbara Lamounier, Marco Túlio Mundim e Frederico Maradei - todos também formados pela UFU. A presença dos quatro em contextos internacionais demonstra como o cheer apresenta novas possibilidades dentro e fora dos muros universitários. Para Laura, tudo começou aqui: “Eu comecei o cheer, na primeira semana de aula, quando eu entrei em Direito aí na UFU. Foi meio que uma decisão. Eu fui para a UFU por causa do cheer, para falar a verdade [...] quando eu tinha que escolher, lá no Enem, para onde eu ia eu pesquisei, né? E aí eu achei um vídeo das Olimpíadas da UFU em que tinha uma apresentação de cheer. Eu amei as Arlekings [cheers da Atlética de Artes]”, afirma a egressa.
Laura conta que, na época, chegou a pesquisar alguma apresentação do Direito, mas não encontrou. Mesmo assim, ingressou na universidade disposta a participar de alguma equipe. “Eu entrei na UFU falando que eu ia ser das Arlekings. Eu nem sabia o que era o cheer. Eu só sei que falei assim: ‘nossa; isso é muito legal!’. E eu fiz ginástica artística, quando era pequena; então, era uma oportunidade de voltar a fazer o que eu fazia antes. Assim, logo que entrei na UFU, na primeira semana eu já perguntei quando seria o primeiro treino? E já me levaram...”.
A bacharel em Direito começou sua trajetória na equipe ‘La loba’, que representa o curso de Direito e foi uma das primeiras a surgir na Universidade Federal de Uberlândia, no ano de 2014. “Desde a primeira semana até meu último dia de UFU, eu fui da ‘La Loba’, praticamente. Minha mãe até brincava comigo, perguntando assim: ‘Filha, você tá fazendo Direito ou cheer?’”, revela. No ano em que Laura se formou, surgiu a oportunidade de uma bolsa para atletas na Califórnia. Como ela atualmente está morando nos Estados Unidos, aproveitou a chance e foi fazer um MBA em Administração.
Suporte institucional
Na UFU, a Divisão de Esporte e Lazer Universitário (Diesu), que é vinculada à Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae), oferece apoio aos estudantes quando o assunto é esporte na universidade. Conforme conta o assistente em administração e coordenador da Diesu, Adilson Henrique de Souza, a divisão tem como papel fomentar e incentivar a prática de atividade física e lazer, atendendo demandas de estudantes e trabalhando com a gestão das unidades do Centro Esportivo Universitário (CEU).
Por acompanhar essas demandas, Souza comenta sobre algumas mudanças em relação às cheers. “Na Olimpíada Universitária, o cheer agora é uma das modalidades que são disputadas. Deixou de ser uma modalidade de exibição e passou a ser de competição. [...] Ele está sendo reconhecido, aqui na instituição, como esse tipo de atividade [esportiva]; ou seja, como uma modalidade, e não apenas para distração, apresentação e lazer nos intervalos. Passou a ser tratado como uma modalidade esportiva como qualquer outra que é incentivada no setor”, ressalta o coordenador. Inclusive, para que as cheers possam treinar com melhor estrutura para as futuras competições, os campi da UFU receberam durante o Agita UFU 2024/1 novos tatames - recebidos a partir de uma emenda parlamentar municipal.
A UFU conta com 15 equipes que representam diferentes cursos. A "La loba" também acompanha mudanças nesse esporte. O time completa dez anos em 2024, numa trajetória de aprendizados e de muito envolvimento pelo cheer. A atual capitã do time, Maria Julia Garcia, é estudante do sétimo período de Direito e fala, com brilho nos olhos, que conheceu o esporte na UFU, em 2021. Aliás, ela também não sabia da existência do cheer para além de filmes. Hoje, a atleta ama o que faz e, mais do que isso, enquanto capitã, assume a função de incluir todos no time, integrar a equipe e fazer com que se dediquem também a esse universo e às vivências ao longo do que eles chamam de “rotina” - todas as etapas de uma apresentação, sendo elas "estandes", "tumbling", "jumping" e "dance".
“O cheer, aos olhos de quem não conhece, é muito difícil [...] A questão é que, com treino e técnica, você vai ver que vai tudo na técnica”, resume a capitã da “La loba”, que completa dizendo que ninguém chega no time já sabendo. “A gente realmente ensina tudo, desde o começo. Eu gosto de brincar que a gente fica treinando mais de seis meses para apresentar dois minutos e meio. [...] É, realmente, uma obra de arte que você coloca ali, que você pinta durante meses”, expressa Maria Julia.
Sobre o treino no esporte e o processo, Laura Quaglio também aponta que todo mundo tem um início. "Eu, quando comecei, não fazia as coisas que faço hoje. No ano passado, eu não fazia as coisas que eu faço hoje. Então, é todo um caminho, é todo um processo." Sobre as etapas, ela comenta o seguinte: “Confia no processo em que você tá. Não é porque você não consegue fazer algo mais difícil hoje que você não é capaz, que não consegue. Você tem que dar tempo ao tempo e treinar a Skill e não avançar essas etapas [...] o cheer tem níveis, do 1 ao 7; o nível que a gente tá aqui agora é o 7, o mais avançado. Quando comecei na ‘La loba‘, estava no nível 2.”
Todos os processos constroem a "obra de arte" citada por Maria Julia. As atletas destacam que essa construção não é feita de forma isolada e sozinha, já que o esporte requer a presença de todos. “Uma pessoa só não faz um time. Uma pessoa só não faz cheer”, diz a capitã da “La loba”. Ao que Laura também aponta que, se não fosse aquela equipe, o cheer universitário e a UFU, ela não estaria onde está hoje. “Com certeza, a ‘La loba' e as pessoas que estiveram no meu time me ajudaram a estar onde eu estou hoje!”
Adilson Souza é outro a enaltecer essa característica de parceria. Ele reflete sobre o que considera algo único do esporte: o sentimento de pertencimento a um grupo, a oportunidade de conhecer mais pessoas e de não se sentir sozinho. De acordo com o coordenador da Diesu, apoio e solidariedade fazem parte do espírito das cheers e as equipes são um exemplo disso. “O cheers é um exemplo para nós aqui, nesse sentido. Durante as competições, sempre que uma equipe está se apresentando, as outras 14 estão torcendo por ela; não importa se é concorrente ou não, na hora que acaba é uma vibração. É um respeito, um apoio, um incentivo”, testemunha.
Maria Julia explica que os times torcem uns pelos outros e comemoram os avanços do esporte e o desenvolvimento de cada equipe, tanto em Uberlândia, quanto em campeonatos internacionais. Laura declara que a vitória no Campeonato Americano de Cheerleading 2024 trouxe uma sensação de dever cumprido: “A gente treina muito; os treinos são bem puxados. A gente abdica de muitas coisas aqui, final de semana [...] aí todo mundo fala assim: ‘Ah, mas aonde que você já foi? O que você já conheceu, né? Ai, me conta os lugares que você foi.' Em dois anos, eu não tinha ido em quase lugar nenhum. Fui conhecer a placa de Hollywood ano passado, depois de ter ficado dois anos e meio aqui. Então, a gente abdica de muitas coisas para competir, para treinar e [o resultado do campeonato] é sensação de dever cumprido mesmo."
Finalizando, ela adianta que as expectativas para a próxima competição são altas: a equipe está disputando, nesta semana, o Campeonato Mundial, na Disney. “Se a gente ganhar, nós seremos os primeiros brasileiros a vencer um mundial. A Seleção Brasileira já pegou prata no Mundial de Seleções. Alguns amigos aqui também foram desse mesmo time no ano passado e ficaram em segundo lugar por esse time em que a gente tá agora. Mas, assim, a expectativa é ganhar, ter essa premiação no nosso currículo. Porque a gente conseguiu conquistar nacionais no Brasil e aqui nos Estados Unidos. Agora é o que falta mesmo, né? O Mundial! Então, a gente conseguindo isso, eu fico mais tranquila para 'me aposentar'”, brinca.
Por isso, a torcida é pelas cheers. E a comemoração é por cada vitória, conquista e mudança desse esporte que, muitas vezes, é desvalorizado. Mas, para quem pratica, tem muito valor: o valor da coletividade, de encontrar apoio para enfrentar os desafios e de trazer novas possibilidades para toda comunidade acadêmica. Afinal, como afirmou a atleta Maria Julia, "uma pessoa só não faz cheer!" E, juntos, os brasileiros, que começaram sua trajetória na UFU poderão ser os primeiros a comemorar o primeiro lugar do Campeonato Mundial!
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Palavras-chave: Esporte cheerleaders DIREITO Diesu
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