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Cenário

Andifes debate papel das universidades no Plano Brasileiro de Inteligência Artificial

Um dos vice-presidentes da entidade, reitor Valder Steffen Jr (UFU) participou de mesa com pesquisadores de instituições portuguesas

Publicado em 28/06/2024 às 11:46 - Atualizado em 28/06/2024 às 17:29

Debate ocorreu no auditório da associação, na capital federal. (Foto: Ascom Andifes)

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), representante das universidades federais, promoveu uma rodada de conversas sobre o papel das universidades no plano brasileiro de inteligência artificial (IA), em seminário realizado na última quarta-feira, 26, na sede da entidade, em Brasília.

Pesquisadores convidados discutiram as potencialidades das tecnologias de IA e propuseram a criação da Comissão Andifes para o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), com o intuito de aprofundar estudos e sugerir políticas públicas para redução das desigualdades, sobretudo regionais, por intermédio da utilização da ferramenta.

Imagem do reitor Dácio Matheus (UFABC)
Dácio Matheus, reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC). (Foto: Ascom Andifes)

Sob a mediação do reitor Dácio Matheus, da Universidade Federal do ABC (UFABC), de São Paulo, o primeiro tema discutido foi “Subsídios para o PBIA”, pelos pesquisadores Filipe de Oliveira Saraiva, coordenador do Laboratory of Applied Artificial Intelligence e do Centro de Competência em Software Livre da Universidade Federal do Pará (UFPA). Roseli Aparecida Figaro Paulino, professora titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), e Virgilio Almeida, professor emérito de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Iniciando as conversas, Filipe de Oliveira Saraiva apresentou o desenho da proposta de criação da Comissão Andifes para o PBIA que, segundo avaliou, deve ter foco em quatro eixos: infraestrutura e desenvolvimento de IA, formação e capacitação em IA, IA no contexto da inovação empresarial, e regulação e governança da IA.

Imagem de Filipe de Oliveira Saraiva
Filipe de Oliveira Saraiva, pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA). (Foto: Ascom Andifes)

Para Saraiva, as contribuições das instituições para expansão da IA no Brasil deve mirar os desafios nacionais com foco na redução das desigualdades. Ele entende que as universidades têm papel crucial para o avanço da IA internamente, a exemplo de países desenvolvidos como Estados Unidos (EUA), onde as bigtechs (como Google e Apple) foram desenvolvidas pela força das instituições de ensino e pesquisa.

O entendimento é de que a rede das universidades federais deve assumir papel de catalizadora de projetos de pesquisa estratégicos e de programas de formação em IA, em todos os níveis, e ao mesmo tempo, promover a interação com as empresas a partir de projetos em parceria, transferência tecnológica e apoio a startups. “A regulação da IA deve seguir princípios éticos estritos e rigorosos, ao tempo em que não impeça a pesquisa e o avanço tecnológico”, destacou.

 

Inspirações

O mediador Dácio Matheus disse que a proposta de criar a Comissão Andifes para o PBIA foi idealizada pela Comissão de Ciência & Tecnologia e Empreendedorismo da entidade, da qual é coordenador. A ideia surgiu, segundo o reitor da UFABC, de uma provocação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a inteligência artificial no Brasil, em uma reunião com os reitores e reitoras das universidades federais.

“Fomos sensibilizados por essa provocação que nos trouxe luz a muito do que já fazemos na área de inteligência artificial”, disse.

O reitor chamou a atenção para análise do pesquisador da UFPA sobre o potencial das tecnologias de IA na redução das desigualdades nacionais, sobretudo regionais. “Quando fizemos um seminário temático preparatório sobre os biomas brasileiros para 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, eu dizia que deveríamos ter centros de internet artificial sobre os biomas. Porque conhecer profundamente os biomas nos permitirá criar soluções de desenvolvimento regional”, alertou.

Imagem de Roseli Aparecida Figaro Paulino (USP)
Roseli Aparecida Figaro Paulino é docente da Universidade de São Paulo (USP). (Foto: Ascom Andifes)

Em sintonia com o palestrante da UFPA, a pesquisadora Roseli Aparecida Figaro Paulino destacou as potencialidades brasileiras e disse que o país possui “um parque tecnocientífico público com extensão nacional, além de recursos naturais, população conectada e articulação geopolítica com os Brics (que leva o nome dos membros Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), entre outros pontos.

Sob essa ótica, a pesquisadora da USP considerou fundamental mapear cientistas e técnicos que atuam em IA e, ao mesmo tempo, constituir uma rede nacional coordenada por um centro nacional de pesquisa na tecnologia IA, na tentativa de trocar experiência, sinergia entre pesquisadores e potencializar resultados voltados para áreas de interesse nacional, sobretudo nas áreas de educação, saúde e energia.

“Também é necessário potencializar recursos para infraestrutura de centros de pesquisa já existentes que conectariam escolas e faculdades técnicas, potencializando e atualizando a formação de novos recursos humanos. Os professores dessas instituições seriam imediatamente os primeiros a serem atualizados pelo centro de pesquisa”, opinou Roseli Paulino.

Em outra frente, o pesquisador Virgilio Almeida, com participação remota, falou sobre o potencial das tecnologias digitais que, segundo disse, desafiam o mundo de diversas formas. “A tecnologia está desafiando a segurança econômica e moldando uma nova ordem geopolítica mundial, podendo até mesmo aumentar as desigualdades”, observou o professor emérito da UFMG.

Contudo, disse que a tecnologia de IA apresenta vantagens e desvantagens e, nesse caso, destacou que o Brasil precisa identificar os desafios, oportunidades e até mesmo a posição que pretende alcançar no cenário internacional.

Para Almeida, os pontos positivos do Brasil nessa área são a presença de recursos humanos potenciais (pós-graduação), dados com diversidade racial, gênero e social, além de uma cultura de “early adopter’’ (inclinação para aceitar as novidades rapidamente).

“O Brasil possui ainda um mercado de empresas de TICs crescendo a dois dígitos por ano, tem proximidade com o mercado americano e fronteira tecnológica, além de possibilidades de experimentação regulatória”, exemplificou o cientista da Universidade Federal de Minas Gerais.

Por outro lado, ele argumentou que entre os pontos negativos do Brasil, nessa área, destacam-se a ausência de uma estrutura de coordenação estratégica e política para o avanço de IA, falta de recursos suficientes para investimentos em centros de pesquisa em IA nas universidades, além de poucas ações regulatórias necessárias para habilitar avanço e colaborações internacionais em IA.

O cientista da UFGM apontou, ainda, que para avançar na tecnologia de IA, o Brasil deve focar na capacitação digital e no investimento em ciência e tecnologia para IA. “É importante encontrar nichos que o País pode avançar, identificando setores críticos da economia, sociedade e democracia posicionados para se beneficiar dos avanços em tecnologias de IA, além de implementar governança da IA para promover progresso e abordar riscos”, complementou.

 

A inteligência artificial generativa na educação superior

Imagem aberta do auditório, mostrando plateia em primeiro plano (de costas); ao fundo, uma mesa com dois componentes e uma imagem projetada na parede
Da direita para esquerda, reitora Georgina Gonçalves dos Santos (UFRB) e reitor Valder Steffen Jr (UFU). (Foto: Ascom Andifes)

A segunda parte do seminário discorreu sobre o tema “A inteligência artificial generativa na educação superior”, sob a mediação da reitora Georgina Gonçalves dos Santos, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A cautela na utilização da IA no ensino superior prevaleceu na avaliação dos palestrantes convidados para esse debate.

A reitora iniciou a discussão apontando a diversidade do sistema federal de ensino que, segundo observou, "ainda é o maior desafio das instituições, sobretudo no que se refere à desigualdade social".

Para esse debate foram convidados os pesquisadores António Andrade, doutor em Tecnologias e Sistemas de Informação, professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP). Fernando Santos Osório, professor e pesquisador do Departamento de Sistemas de Computação do ICMC-USP, e Susana Maria Labrincha de Azevedo Caixinha, técnica superior do Núcleo de Ensino e Aprendizagem – Universidade de Aveiro (UA), que participaram pelo formato remoto.

Osório analisou e contextualizou o cenário da tecnologia IA e disse que a discussão sobre essa temática “é muito mais ampla” do que se vê hoje no noticiário e na própria educação. No entanto, ele destacou que a ferramenta, por ora, possui aplicações específicas e limitadas.

“A IA ainda tem muitas limitações; ela é muito boa em linguística, em modelos de linguagem, como é o caso do Chat GPT. É boa em diagnóstico médico, em recomendação de filmes, de produtos e de sites”, disse. “A IA até calcula a contagem de passos que damos, ela prevê o tempo, mas há uma IA diferente para cada um desse itens”, acrescentou. No caso da aplicação da IA na educação, o professor da USP recomendou cautela, até porque inexiste uma ferramenta específica para essa área.

Já o pesquisador António Andrade analisou a literatura relacionada à robotização e inteligência artificial e também apresentou vantagens e desvantagens da utilização de IA no ensino, tanto para os dirigentes, docentes e estudantes. No caso de estudantes, por exemplo, Andrade observou que a IA pode contribuir, positivamente, para resumir matéria, iniciar trabalhos, ter feedback do trabalho e melhorar a escrita. Entretanto, os receios apontados são de que a utilização da IA, por esse mesmo público, deve gerar eventuais acusações de plágio, dependência da IA, desinformação (uso inadequado ou má interpretação da IA), além de perda do trabalho para IA e privacidade e segurança.

Ele alertou, ainda, sobre o risco da substituição de humanos por máquinas. “O nosso dispositivo não tem como fim tornar os empregados mais eficientes, mas sim substituí-los completamente”, disse ele, parafraseando Alexandros Vardakostas (cofundador Momentum Machines, Inc S. Francisco).

Por fim, a pesquisadora Susana Maria Labrincha de Azevedo Caixinha, da Universidade de Aveiro (UA), também preferiu a cautela sobre a aplicação de IA no ensino considerando erros da ferramenta, dificuldades com a IA, falta de privacidade e perda de direitos autorais.

Representando a diretoria da Andifes na mesa de debate e um dos vice-presidentes da entidade, o reitor Valder Steffen Junior (UFU) fez uma análise das conversas e acrescentou que a utilização da AI deve ter como referência a base de dados.: "Se a base de dados for imperfeita, evidentemente, a decisão daquilo que teremos do software acompanhará essa imperfeição. Por outro lado, se a base de dados for uma base extensa, representativa e correta, a chance de termos uma resposta válida é interessante.”

 

A íntegra do seminário está disponível no Canal da Andifes no YouTube. Confira, abaixo:

 

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Palavras-chave: debate inteligência artificial Andifes Seminário

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