Pular para o conteúdo principal
PESQUISA E EXTENSÃO

Pesquisadores da UFU avaliam níveis de alfabetização financeira em Ituiutaba

Primeiros resultados apontam que estudantes do ensino médio se esforçam para usar bem o dinheiro, mas têm pouco acesso ao conhecimento sobre o tema

Publicado em 01/08/2024 às 15:03 - Atualizado em 06/08/2024 às 11:46

Diretrizes educacionais brasileiras recomendam inserção da alfabetização financeira nas escolas desde 2018 (Imagem: Freepik)

Um projeto de pesquisa e extensão do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal, está avaliando os índices de alfabetização financeira em diversos grupos sociais em Ituiutaba (MG). As primeiras análises, focadas em estudantes de ensino médio e superior, revelam baixos níveis de conhecimento sobre o tema desde a educação básica.

Coordenado pela professora Josilene da Silva Barbosa, da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social (Faces/UFU), o projeto “Educação financeira: decisões de investimentos, financiamentos e compras” iniciou em 2023 e segue até maio de 2025 com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (Fapemig).

O tema vem se destacando a cada ano a partir das sondagens sobre hábitos financeiros da população brasileira. Em 2024, a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta que 78% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo que um terço delas está com contas em atraso e boa parte não aparenta ter condições de pagá-las.

Barbosa considera que esse dado é um dos sinais da demanda por alfabetização financeira, que precisa ser enxergada a partir de um conjunto de atitudes, comportamentos e conhecimentos. Ela explica que a atitude é a forma como cada um percebe o dinheiro e lida com ele. Quando uma compra supérflua gera incômodo ou, ao contrário, quando gastos não planejados se transformam em rotina, é de atitude financeira que se trata.

O comportamento financeiro se refere à conduta de maior ou menor planejamento, poupança e investimento. “É o que o indivíduo faz na prática. Ele realiza comparações de preço antes de fazer uma compra? Economiza um pouco para realizar investimentos? Pode ser até que alguém ache importante investir, mas na prática não faça isso. Evitar comprar com impulso, pagar as contas em dia, tudo isso é comportamento”, explica a pesquisadora.

Por fim, o conhecimento financeiro diz respeito ao nível de compreensão sobre conceitos econômicos do cotidiano, tais como taxa de juros, inflação, impostos, aplicações financeiras, produtos ofertados pelo mercado de capitais, rentabilidade, riscos e tipos de investimento, dentre outros.
 

Primeiros resultados

Por enquanto, o projeto já propiciou a publicação de dois artigos científicos sobre o tema. Em um deles, na Revista Ambiente Contábil, os pesquisadores Gladstone Souza, Josilene Barbosa e Odilon de Oliveira Neto avaliaram a atitude, o comportamento e o conhecimento financeiro de um grupo de alunos do ensino médio. 

Em um índice que vai de zero a 100, esses estudantes alcançaram a média 35,25. Apesar de terem consciência e capacidade de usar bem o dinheiro, na prática, falta conhecimento para efetivar uma boa gestão das contas pessoais. “A pessoa sabe que não pode gastar mais do que ganha, que precisa ter um planejamento e controle das finanças, mas não sabe como fazer isso. Sabe que precisa poupar para investir, por exemplo, mas não sabe em quê e como investir: como procurar uma corretora, como fazer comparações de risco de investimento ou mesmo calcular valor de juros”, expõe Barbosa.

Com o acesso ao ensino superior, conforme os dados de outro estudo com esse público, assinado por Rafael Santos, Kelly Jacques, além de Barbosa e Oliveira Neto, a apreensão desses conhecimentos se amplia e, consequentemente, os estudantes se tornam mais alfabetizados financeiramente. 

Na média, de zero a 100, foi atribuído aos estudantes do ensino superior o índice 61,42 de alfabetização financeira. Apesar disso, os indicadores variam muito entre os cursos de origem. “Obviamente, esses índices são mais elevados em áreas relacionadas aos negócios, já que eles têm disciplinas sobre planejamento financeiro, orçamento, matemática financeira, mercado de capitais, dentre outros conteúdos”, detalha a professora.

Gráfico comparando os níveis de alfabetização no ensino médio e no ensino superior
Segundo a sondagem realizada entre 2023 e 2024, em Ituiutaba, ensino médio ainda propicia pouco conhecimento financeiro. (Arte: Maria Clara Medeiros)

O caso do ensino médio

Desde 2018, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento de referência obrigatória para todas as escolas brasileiras, recomenda que conceitos básicos de economia e finanças sejam abordados em sala de aula. Contudo, de acordo com a análise publicada pelos pesquisadores da UFU, “o fato é que muitos estudantes do ensino médio ainda não têm acesso a conteúdo que trata de finanças nas disciplinas cursadas nas instituições públicas em que estudam”.

Para Barbosa, o conhecimento financeiro pode ser inserido em diversas disciplinas e circunstâncias. “A princípio, o tema da educação financeira é tratado no ensino médio dentro da disciplina de matemática, quando estudamos juros simples, compostos e outros conteúdos similares. Mas a BNCC deixa claro que eles [elaboradores da BNCC] enxergam esse conteúdo como algo transversal e interdisciplinar, que pode ser discutido em vários momentos. O professor de história, por exemplo, pode abordar a relação entre o dinheiro e o tempo, a evolução e função do dinheiro na sociedade, a implantação de impostos em sociedades diversas”, propõe.

A pesquisa aplicada no contexto de Ituiutaba se justifica. Estudantes de diferentes localidades podem apresentar especificidades demográficas e socioeconômicas que são relevantes para o planejamento adequado das ações previstas no projeto. 

 

Para ampliar a alfabetização financeira

Diante do cenário analisado nas pesquisas com diferentes públicos, o projeto prevê ações de extensão para ampliar o acesso ao conhecimento financeiro na cidade. “Queremos conhecer quais são os nichos que possuem mais fragilidades em alfabetização financeira para depois realizar ações, oferecer cursos e conteúdo educativo focados nesses públicos, envolvendo pesquisa e extensão”, projeta Barbosa.

No caso das escolas, embora a inserção do tema esteja prevista na BNCC há seis anos, ainda é preciso subsidiar os profissionais da educação para este trabalho. A pesquisadora conclui que “falta levar esse conteúdo para as escolas, sendo que as noções mais simples podem ser introduzidas desde o ensino básico”. 
 

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU. 

 

Palavras-chave: Alfabetização financeira contabilidade FACES ensino médio BNCC

A11y