Publicado em 31/10/2024 às 08:21 - Atualizado em 01/11/2024 às 08:34
O Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Planejamento e Manejo da Paisagem Florestal (Nuplamflor), do Instituto de Ciências Agrárias (Iciag) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus de Monte Carmelo, tem se dedicado ao estudo de temáticas regionais inéditas na área de manejo e conservação florestal para enfrentamento à mudança do clima.
Por isso, no Laboratório de Proteção Florestal temos utilizado de modelagens espaciais, métricas quantitativas, expedições de campo e estudos da legislação florestal do país, para investigações científicas destinadas à melhoria em processos de tomadas de decisões por gestores públicos e empreendedores rurais e socioambientais que sejam baseadas em conhecimento técnico e científico de base.
O laboratório é coordenado pelos docentes do Iciag Luciano Cavalcante de Jesus França e Vicente Toledo Machado de Morais Júnior e conta com um grupo de estudantes pesquisadores de graduação, pós-graduação e colaboradores interinstitucionais.
A pesquisa da UFU e a corrida do Brasil rumo à restauração
Para mobilizar ações de recuperação ambiental em várias frentes no planeta, as Nações Unidas lançaram a ‘Década da Restauração de Ecossistemas’, e o Brasil está no centro das atenções. O país tem múltiplas urgências: o combate ao desmatamento e a busca de oportunidade para a recuperação do que foi degradado.
O estudo, liderado pelo pesquisador Vicente Morais Júnior, contou com a colaboração de sete instituições de pesquisa: as universidades federais de Viçosa (UFV), de Lavras (Ufla) e de Santa Maria (UFSM), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet/MG), a Brandt Meio Ambiente e a BH Geotecnologia e Projetos. Ele traz algumas das mais recentes luzes lançadas sobre o assunto na escala de Minas Gerais, frente ao compromisso climático do país assumido mundialmente, por meio da Política Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), em restaurar 12 milhões de hectares de áreas até 2030.
Em nossa análise, a pesquisa destacou que os compromissos ambientais globais assumidos pelo Brasil — mais especificamente o estado de Minas Gerais (MG) — exigem altos investimentos financeiros para atingir as metas globais assumidas no Acordo de Paris e na Convenção sobre Diversidade Biológica. Minas Gerais possui grandes áreas protegidas pela Legislação da Proteção da Vegetação Nativa que não estão em conformidade e que precisam ser restauradas dentro dos próximos 20 anos.
Nossa pesquisa envolveu o uso de dados públicos do Cadastro Ambiental Rural (CAR), mapas de uso e cobertura da terra do projeto MapBiomas e, utilizou de técnicas de geoprocessamento para estimar as áreas em conflitos ambientais frente ao Código Florestal Brasileiro.
O artigo completo publicado pela revista Environmental Monitoring and Assessment, da editora Springer Nature, pode ser acessado na íntegra aqui. Na publicação, também disponibilizamos integralmente uma base de metadados espaciais que poderão ser utilizados em pesquisas ambientais ou suporte à tomadores de decisão para apoiar no entendimento da ecologia da restauração em Minas Gerais.
Nosso levantamento constatou que Minas Gerais apresenta um déficit de cobertura florestal em áreas protegidas pela legislação ambiental de aproximadamente 3,7 milhões de hectares. Nesse sentido, as áreas de Reserva Legal (RL) (2,2 milhões de hectares) e de Preservação Permanente dos Recursos Hídricos (APPs) (1,3 milhão de hectares) representam as maiores modalidades de áreas em desacordo com a legislação florestal.
As áreas degradadas poderiam estocar cerca de 819 milhões de toneladas de CO2
No Brasil, a conservação e a restauração de ecossistemas estão nos marcos normativos desde 1934, na primeira versão do Código Florestal e, mais recentemente, na nova lei de vegetação nativa que prevê a solução dos passivos ambientais das propriedades rurais.
As emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no estado de Minas Gerais para o ano de 2022 foram de 169.364.450 tCO2eq (tCO2eq significa Toneladas de Dióxido de Carbono Equivalente). De acordo com o levantamento realizado, essas emissões de GEE foram distribuídas da seguinte forma entre os setores da economia: Agricultura (59.888.994 tCO2); Energia (35.829.487 tCO2); Mudança no Uso da Terra e Florestas (40.355.753 tCO2); Processos Industriais (24.013.172 tCO2) e; Resíduos (9.277.044 tCO2).
Constatamos que o potencial de armazenamento de carbono das áreas de APP e RL em conflito com a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (LPVN) é de 819.165.556 tCO2 ± 116.879.956 tCO2. As APPs em conflito com a LPVN têm o potencial de armazenar 319.990.044 tCO2 ± 123.632.517 tCO2, enquanto as áreas de RL podem armazenar 499.175.512 tCO2 ± 192.863.266 tCO2.
Com este e outros estudos desenvolvidos por nós no Nuplamflor-UFU / Laboratório de Proteção Florestal, Monte Carmelo entra, portanto, na rota das pesquisas para conservação florestal dedicada ao enfrentamento e adaptação à mudança climática. Este e outros trabalhos podem ser acompanhados na página do laboratório na rede social: https://www.instagram.com/nuplamflor_ufu/.
* Luciano França é doutor em engenharia florestal e professor adjunto da UFU, atua à nível de graduação na instituição e pós-graduação na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
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Palavras-chave: Carbono restauração florestal Agenda 2030 código florestal pesquisa Monte Carmelo
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