Publicado em 31/10/2024 às 14:03 - Atualizado em 05/11/2024 às 12:42
Cientistas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e do Hospital de Amor, em Barretos (SP), estão pesquisando a possibilidade de expandir o uso da hormonioterapia entre pacientes com câncer de mama e formas de monitorar a resposta ao tratamento por meio de exames de sangue, sem a necessidade de repetir biópsias do tumor.
Dentre os casos de câncer de mama – segundo tipo mais comum entre as brasileiras, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, segundo o Ministério da Saúde – 70% apresentam receptores hormonais positivos, o que possibilita o tratamento com hormonioterapia neoadjuvante. Nesses casos, as células cancerosas se alimentam de hormônios, mas como eles são reduzidos ou bloqueados por medicamentos, o câncer deixa de ser alimentado. É uma opção de tratamento que reduz o tamanho do tumor para cirurgias menos invasivas e que possibilita aos médicos observar a sensibilidade do tumor e os biomarcadores, que são sinais no corpo que indicam como o tumor está reagindo.
A equipe de cientistas da UFU e do Hospital de Amor é orientada pelos professores Carlos Eduardo Paiva, do Grupo de Pesquisa em Qualidade de Vida e Cuidados Paliativos (GPQual), e Yara Cristina de Paiva Maia, do Grupo de Pesquisa em Biologia Molecular e Nutrição (BioNut/UFU), e pela pesquisadora Alinne Tatiane Faria Silva, que faz estágio de pós-doutorado como bolsista do CNPq, com a participação de outros pesquisadores e alunos de mestrado e doutorado.
Eles estão na fase da pesquisa clínica chamada ensaio clínico de fase II não randomizado. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as pesquisas clínicas são realizadas com humanos para medir parâmetros de segurança e eficácia de novos medicamentos e são divididas em fases I, II, III e IV, conforme a quantidade de participantes e os objetivos de cada etapa.
A proposta do grupo, chamada Ensaio ANNE (ANastrozol NEoadjuvante), é avaliar o uso de hormonioterapia neoadjuvante para pacientes pós-menopausadas, em estágios II e III, com tumores luminais (que têm receptores de estrogênio e progesterona) e HER2 (proteína que atua como receptora de fatores de crescimento celular) negativo. Será feita a análise precoce de Ki-67, uma substância liberada durante a divisão celular e que é um marcador utilizado na avaliação imunoistoquímica do câncer de mama, em rebiopsia após duas a quatro semanas, para fazer a triagem das pacientes que devem seguir com hormonioterapia ou serem direcionadas para quimioterapia. O estudo foi publicado na edição de 2024 do periódico Cancer Control.
Atualmente, segundo os pesquisadores, a hormonioterapia é reservada para casos de pacientes idosas ou frágeis, em que a quimioterapia seria muito agressiva. As pacientes em hormonioterapia devem fazer rebiopsia do tumor após duas a quatro semanas de tratamento, mas algumas limitações desta estratégia são a padronização da rebiopsia e a confiabilidade da análise por imunohistoquímica do marcador Ki67.
No hospital de Barretos, as mulheres pós-menopausadas com tumores luminais HER2 negativos nos estágios II e III serão submetidas ao tratamento com anastrozol, um inibidor da enzima aromatase que converte a testosterona em estrogênio. Então, após duas a quatro semanas, será avaliada a continuidade da hormonioterapia ou a indicação para quimioterapia através da análise precoce de Ki-67. Em seguida, os pesquisadores vão avaliar a extensão da hormonioterapia por até dez meses, com acompanhamento seriado por ultrassonografia mamária padronizada e critérios clínicos. Serão avaliados também a toxicidade, a qualidade de vida relacionada à saúde e os biomarcadores circulantes que preveem a resposta precoce à hormonioterapia.
Entre as vantagens da proposta estão a personalização do tratamento, ao identificar biomarcadores específicos de resposta à hormonioterapia; o monitoramento mais eficaz e menos invasivo dos tumores, por meio da biópsia líquida com exames de sangue; e melhor qualidade de vida para pacientes, pois a hormonioterapia geralmente apresenta menos efeitos colaterais que a quimioterapia.
A professora da UFU Yara Maia explica ainda que, considerando o grande número de pacientes diagnosticadas com câncer de mama, o início precoce de uma terapia com poucos eventos adversos e de baixo custo poderá ser útil em termos de saúde pública. “Se o estudo identificar marcadores robustos de predição de resposta, essa abordagem poderá selecionar pacientes para início precoce de hormonioterapia mesmo por médicos menos especializados, antes da entrada nos centros de referência em oncologia. Em termos de Sistema Único de Saúde (SUS), poderá levar a uma redução no tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento”, completa a pesquisadora.
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Palavras-chave: Outubro Rosa câncer Câncer de mama
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