Publicado em 03/12/2024 às 16:32 - Atualizado em 03/12/2024 às 18:40
A escrita tornou-se um verdadeiro tesouro para os estudantes do Centro de Educação de Jovens e Adultos da Asa Sul (Cesas), em Brasília. Por meio do “Diário de Ideias”, criado e desenvolvido por Luciana Soares Muniz, professora da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia (Eseba/UFU), eles têm a oportunidade de registrar vivências e reflexões em cadernos personalizados, fortalecendo o aprendizado e a troca de experiências.
Introduzido pela professora Lucinete Teixeira, o projeto oferece uma abordagem lúdica e autoral. “A iniciativa parte da ideia de uma aprendizagem criativa e compreensiva, onde o aluno constrói, de forma autoral, o seu conhecimento”, explica Lucinete. Semanalmente, as conversas promovem diálogos e compartilhamento, transformando os registros em uma rica troca de saberes.
A metodologia foi originalmente desenvolvida por Luciana Muniz para crianças em séries iniciais. Com a autorização da criadora, Lucinete adaptou o conceito para a realidade da EJA, respeitando as particularidades geracionais e utilizando uma linguagem própria para os alunos do Cesas. O projeto se ancora na Teoria da Subjetividade, de González Rey, que valoriza as dimensões subjetivas do aprendizado.
“A proposta combina muito para jovens e adultos, porque esses estudantes não vêm para a escola sem conhecimento. Eles já trazem as experiências de vida deles. Então, a escola e os professores têm de aproveitar o que eles já sabem e a partir daí trabalhar o conhecimento formal”, aponta a educadora do Cesas.
Inclusão
Uma das características da EJA é a diversidade. E, para implementar o projeto, o Cesas promoveu oficinas de expressão oral, meditação e história da escrita, além de aulas práticas de escrita criativa. O objetivo foi preparar os cerca de 80 participantes para que pudessem se expressar de forma confiante e autoral.
As atividades preparatórias foram essenciais para Marco Leite, 43 anos, criar confiança e estimular a criatividade: “Passei a me sentir confortável para expor ideias, tanto boas quanto ruins, e isso nos ajuda a aprender mais e a nos conectarmos uns com os outros”. O artesão aprendeu a ler e a escrever no Cesas e considera importante que as atividades, além de ensinar, desenvolvam nos alunos a oportunidade de se aproximar uns dos outros. “Gosto de estar aprendendo, me comunicando com os colegas e com os professores”, comenta.
O impacto do projeto também é visível para a estudante Mônica Pereira, de 60 anos, que usa o diário para contar a própria trajetória de vida e estudo. “Voltei a estudar há oito anos. Sempre foi um sonho, mas, por ter cuidado dos meus irmãos desde muito nova, só agora pude realizar. Escrever sobre minha história me faz aprender e também fortalecer vínculos com os colegas”, compartilha a cuidadora.
Dados que inspiram
A Educação de Jovens e Adultos no Distrito Federal é um passo importante para a inclusão social. Entre 2019 e 2024, mais de 199 mil estudantes se matricularam em turmas da EJA e atualmente, cerca de 20 mil alunos frequentam as 101 unidades escolares que oferecem o programa. Entre 2019 e 2024, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) contou com 199.475 alunos matriculados na EJA nesta unidade da federação.
Os dados contribuem para que o DF apresente o segundo melhor índice de alfabetização do país, com 97,2% da população sabendo ler e escrever, atrás apenas de Santa Catarina, que tem 97,3%, segundo resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Para a diretora da EJA da Subsecretaria de Educação Básica da Secretaria de Educação, Lilian Sena, a introdução de projetos e programas na Educação de Jovens e Adultos também é uma forma de fazer com que o processo de ensino e aprendizagem seja dialógico e emancipador: “Nossos professores têm autonomia pedagógica, o que garante a construção de currículos voltados para o contexto dos estudantes, seus anseios e necessidades ao retornarem para a escola ou ao iniciarem seus estudos”.
O processo de aprendizagem foi importante para a haitiana Erline Jaccy, 30 anos, que atualmente estuda no Cesas. Acompanhada do marido e de três filhos, ela chegou na capital federal em busca de oportunidade de emprego e vê na educação a chance de prosperar: “Acredito que me alfabetizar no Brasil vai me ajudar a conhecer ainda mais sobre o país e sobre as pessoas. É a oportunidade de uma nova vida”, comemora.
Veja, abaixo, um vídeo com registros da implantação do projeto da Eseba/UFU no Centro de Educação de Jovens e Adultos da Asa Sul.
Expansão e consolidação
Luciana Muniz declara que a metodologia Diário de Ideias é “uma concepção pioneira de educação com base na Teoria da Subjetividade de González Rey, marcando um processo inovador e criativo tendo em vista princípios, ações e estratégias que favoreçam a expressão da criatividade no ensino e na aprendizagem, bem como contribuindo para o desenvolvimento subjetivo dos participantes da ação de ensinar e aprender”. Ainda de acordo com ela, o Diário de Ideias tem como fundamentos três ações – experienciar, registrar e compartilhar – no processo de viver a leitura e a escrita com ênfase no caráter autoral e criativo dos aprendizes.
A professora Albertina Mitjans Martinez, por sua vez, relata que "a metodologia teve sua gênese nos anos iniciais do Ensino Fundamental, porém, tendo em vista as pesquisas e as experiências pedagógicas realizadas e sua ampliação a outras etapas de ensino, como Educação Infantil, anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior e Educação de Jovens e Adultos, se constituiu como uma concepção inovadora e criativa de educação em um sentido mais geral”.
Com a expansão e a consolidação do projeto, a docente da Eseba realiza esforços de formação de professores(as), publicações e realização de eventos científicos, para divulgar e implementar a metodologia em diferentes contextos e etapas de ensino. “Foi assim que meu diálogo com as professoras Lucinete Teixeira e Albertina Mitjans Martinez começou, no III Seminário Diário de Ideias de 2024, e deu início à implementação pioneira na Educação de Jovens e Adultos na cidade de Brasília. Com formação da equipe e planejamento colaborativo, a ação se efetivou em 2024, no Cesas”, informa Muniz.
A educadora do DF também faz o seu relato. “Agradeço o carinho de vocês. Mas, tudo só foi possível graças à generosidade da professora Luciana Muniz em compartilhar a Metodologia Diário de ideias, dando todo suporte antes e durante a implementação do projeto, atendendo os estudantes da EJA. Tudo começou quando a professora Cristina incentivou a participação no III Seminário do Diário de Ideias, onde conheci esse lindo trabalho e me encantei. Tive o privilégio de estar ao lado da professora Albertina, que também incentivou essa articulação com a EJA. Enfim, tem um pouco de cada uma e cada um nesse processo. Sou muito grata”, resume Lucinete.
Ela acrescenta que nesta segunda-feira (2/12), coordenou o encerramento das atividades com a turma da EJA. O momento contou com a participação especial da professora Luciana Muniz, que, de maneira on-line, dialogou com a turma sobre como foi para cada estudante vivenciar o Diário de Ideias.
Confira, a seguir mais alguns registros das atividades presenciais e remotas desenvolvidas neste primeiro ano da ação.
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