Publicado em 20/12/2024 às 10:06 - Atualizado em 20/12/2024 às 16:40
Com uma jornada acadêmica marcada por paixão e dedicação, Carlos Rodrigues Brandão, renomado antropólogo brasileiro, nos deixou um legado que ecoa nos campos da antropologia e da educação popular. Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em 1965, seguiu rumo ao mestrado em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB - 1974) e ao doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP - 1980). Sua presença enriqueceu instituições de destaque como o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde deixou contribuições significativas como professor colaborador e visitante sênior, respectivamente.
Brandão se destacou em temas como cultura, educação popular, campo religioso e questões ambientais. Seu percurso na Unicamp foi emblemático, influenciando a criação de centros de estudo como o Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes) e o Centro de Estudos Rurais (Ceres), além de contribuir ativamente com o Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam). Mesmo após sua aposentadoria, seu interesse pelo ensino e pesquisa seguiu inspirando alunos nos programas de pós-graduação em Antropologia e Ciências Sociais da Unicamp.
Internacionalmente reconhecido, Brandão se destacou como professor visitante em diversas universidades e como pesquisador do Instituto Paulo Freire, acumulando prêmios que testemunham o impacto coletivo de sua obra. Seu legado continua a inspirar gerações de estudiosos e ativistas, por meio de caminhos de transformação por meio da antropologia e da educação popular.
'A CLARA COR DA NOITE ESCURA'
Publicada pela Editora da Universidade Federal de Uberlândia (Edufu) em 2009 e escrita por Carlos Rodrigues Brandão, é uma obra que se destaca na área das Ciências Sociais. O livro é composto por capítulos independentes, alguns retirados de obras anteriores do autor - cujas edições já estão esgotadas - e outros inéditos. O aspecto etnográfico ganha centralidade nesta obra, que se apresenta como um pequeno repertório de imagens que abordam o negro em diferentes contextos. Desde sua pessoa e identidade até seu trabalho, gestos rituais e festas, o livro oferece uma rica combinação de fotografias (cores) e palavras que exploram a temática.
'No Rancho Fundo: Espaços e tempos no mundo rural'
Publicada pela Edufu em 2009 e escrita por Carlos Rodrigues Brandão, é uma obra que contribui na área da Geografia. Os textos presentes neste livro foram pensados, pesquisados e escritos em diferentes momentos, abordando predominantemente dois temas centrais: o dilema humano de existir entre a natureza e a cultura, e o discernimento individual da vida cotidiana e do trabalho em pequenas comunidades rurais do Brasil. Estes temas são frequentemente associados a percepções dos tempos da vida coletiva e da sociedade local, oferecendo uma análise profunda e multifacetada das realidades do mundo rural brasileiro.
'Viver em ilhas'
Publicada em 2013 e coescrita por Carlos Rodrigues Brandão e Angela Fagna Gomes de Souza, é uma obra que se destaca na área da Geografia. Utilizando o método etnográfico como principal ferramenta de conhecimento, o livro oferece uma valiosa contribuição para a disciplina da antropologia, trazendo à luz um grupo frequentemente negligenciado: os ribeirinhos que habitam ilhas.
Embora o método etnográfico não seja uma novidade na pesquisa antropológica, a obra se destaca por sua abordagem original e atualizada, proporcionando uma visão detalhada e íntima da vida dessas populações. Cada capítulo apresenta uma aplicação distinta e original do método etnográfico, revelando aspectos singulares da vida cotidiana e das experiências das comunidades estudadas.
Além disso, "Viver em Ilhas" se caracteriza pela leitura envolvente, com textos bem escritos que conduzem o leitor por meio de diversas perspectivas e reflexões sobre o tema. Essa característica torna a obra acessível não apenas para acadêmicos, mas também para aqueles que estão iniciando suas reflexões sobre a vida em comunidades ribeirinhas e a relação entre ser humano e ambiente natural.
Para Angela Fagna, o trabalho de Carlos Brandão deixou um legado para várias gerações, devido à sua característica e habilidade de transitar em diferentes áreas e dialogar de forma próxima com as pessoas e com os lugares. O legado que “nos brinda com todas as grandes obras publicadas por ele, desde as poesias, textos mais antropológicos, além de textos mais densos com discussões teóricas, tendo a leveza de saber medir e assim transitar em várias áreas do conhecimento”, ressalta a autora, professora do Instituto de Geografia, Geociências e Saúde Coletiva da UFU e coordenadora no Laboratório de Geografia Cultural e Turismo (Lagecult).
'Os Deuses do Povo: Um estudo sobre a religião popular'
Originalmente publicada em 1981 e depois relançada em sua terceira edição em 2007, talvez seja a obra de maior destaque escrita por Carlos Rodrigues Brandão. Considerada um novo clássico na literatura da moderna antropologia brasileira e nos estudos sobre religião no país, a primeira edição foi amplamente aclamada no Brasil e no exterior.
Esta terceira edição, publicada pela Editora da Universidade Federal de Uberlândia, apresenta a obra em sua forma completa, incluindo depoimentos e casos que enriquecem ainda mais a análise do autor. A leitura deste livro oferece uma nova perspectiva, mais rica e abrangente, dos estudos e pesquisas de campo realizados por Brandão.
"É com imenso orgulho que destacamos a significativa contribuição do renomado professor e autor Carlos Brandão para nossa editora. Seu trabalho vai além das páginas de seus livros; ele deixou um legado inestimável para a sociedade. Suas obras, publicadas pela Edufu, não apenas enriquecem nosso acervo acadêmico, mas também impactam positivamente a sociedade, promovendo reflexões importantes nas áreas de Cultura, Educação Ambiental e Educação Popular. O compromisso do professor Brandão com o avanço do conhecimento e seu dedicado trabalho são um verdadeiro presente para as futuras gerações e um exemplo a ser seguido por todos nós", sublinha o diretor da Edufu, Alexandre Guimarães.
Títulos
Ao longo de sua carreira acadêmica, o professor Carlos Rodrigues Brandão foi agraciado com uma série de prestigiosos títulos e honrarias. Em 1998, foi contemplado com o título de "Comendador do Mérito Científico" pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em reconhecimento à sua contribuição significativa para o avanço do conhecimento científico. Na mesma ocasião, recebeu o título de "Professor Benemérito" do Centro de Memória da Unicamp (CMU), destacando-se pelo seu compromisso com a excelência acadêmica e a preservação da memória institucional.
Em 2006, sua excelência acadêmica foi novamente reconhecida com a "Medalha Roquette Pinto", da Associação Brasileira de Antropologia, em homenagem aos seus notáveis feitos e contribuições no campo da antropologia.
'Professor Honoris Causa' pela UFU
Nos anos seguintes, Brandão continuou a receber honrarias merecidas. Foram concedidos a ele os títulos de "Doutor Honoris Causa" pela Universidade Federal de Uberlândia e pela Universidade Federal de Goiás, respectivamente, em 2008 e 2010, em reconhecimento à sua destacada trajetória acadêmica e ao impacto no campo da educação e pesquisa.
A UFU atribui honrarias por mérito e contribuições significativas para a instituição e para a sociedade. Existem três tipos de títulos honoríficos: "Mérito Universitário", "Professor Honoris Causa" e "Doutor Honoris Causa". As propostas para concessão dos títulos são iniciadas pelo Conselho de Unidade Acadêmica, aprovadas em escrutínio secreto e entregues em sessão solene do Conselho Universitário (Consun).
Por fim, em 2015, Brandão recebeu o título de "Professor Emérito" pela Unicamp, uma honra reservada aos docentes que conquistaram excelência ao longo de suas carreiras e deixaram um legado duradouro na comunidade acadêmica. Alvaro Penteado Crósta, vice-reitor e reitor em exercício à época, presidiu a cerimônia do Conselho Universitário da Unicamp que concedeu o título de "Professor Emérito" a Carlos Rodrigues Brandão, frisa a “enorme contribuição social, com ações de relevância nas áreas de cultura, educação ambiental e educação popular, e que a Unicamp sente-se extremamente honrada em ter essa grande figura humana em seus quadros de professores Eméritos”.
Esses títulos e honrarias refletem o profundo respeito e admiração que Carlos Rodrigues Brandão conquistou ao longo de sua vida, dedicada ao ensino, à pesquisa e a contribuições para os conhecimentos científico e cultural.
Memórias
As memórias de um professor que dedicou sua vida ao estudo e à disseminação do conhecimento são uma rica tapeçaria de experiências e reflexões. Este educador, autor de diversas obras sobre antropologia e poesia, não apenas compartilhou seu conhecimento com inúmeros alunos e amigos, mas também contribuiu significativamente para o campo literário por meio de suas publicações. Suas memórias capturam a paixão pela palavra escrita, a alegria de ensinar e a satisfação de ver seus alunos prosperarem.
Paulo Roberto Padilha, doutor em Educação e diretor pedagógico e palestrante do Instituto Paulo Freire, considera Brandão "um grande educador popular, querido amigo, poeta e, assim como Paulo Freire, um andarilho da utopia, imerso na educação e que sempre produziu poemas e poesias maravilhosas". Paulo Padilha teve a honra de conhecer Brandão por mais de 30 anos e descreve a relação entre eles como marcada pela admiração, escuta e diálogo.
Atendendo a pedidos de Brandão, Padilha musicalizou diversos de seus poemas manuscritos, transformando-os em canções que resultaram no CD "Velho Amigo". Padilha destaca o convívio no Instituto Paulo Freire, onde Brandão colaborava com pesquisas e formação de professores, sempre focado na educação popular e na cidadania planetária, integrando arte, música, poesia e diálogos afetuosos.
Juntos, trocaram experiências, produziram arte e participaram de diversos eventos, como programas de rádio, palestras e a inauguração do Memorial Paulo Freire, na Universidade Federal do Semi-Árido (Ufersa), em Angicos (RN), em 2012. Além disso, Padilha esteve na residência de Brandão para gravar o curso "Paulo Freire e Educação Popular", no qual Brandão era o professor responsável. Esse curso, desde então, conta com várias versões.
"Brandão foi um grande amigo, alegre e extrovertido, que me mostrava com orgulho o jardim de sua casa, suas plantas, e me acolheu calorosamente ao lado de Maria Alice, sua grande esposa. Estar com ele sempre foi uma honra, pois era um educador popular excepcional e uma pessoa extremamente humanizada, coerente com seus princípios e, acima de tudo, acolhedor", relata Paulo Padilha.
Lições para sempre
Professora, pesquisadora e também escritora, Angela Fagna conta que suas memórias com Carlos Rodrigues Brandão começaram durante as pesquisas realizadas no norte de Minas Gerais. Angela, que possui graduação, mestrado e doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, teve Brandão como orientador em sua formação acadêmica.
Ela recorda que iniciou seus trabalhos ainda como aluna de graduação e que foi durante essas primeiras experiências acadêmicas que começou a conviver com Brandão, participando de pesquisas e projetos de campo. As vivências com ele foram fundamentais para seu crescimento pessoal e profissional. Angela destaca que, ao lado dele, "adquiriu um aprendizado de vida, aprendendo como lidar e se comportar perante as adversidades".
As memórias dessas experiências são profundas e marcantes. Elas foram construídas no norte de Minas Gerais, especialmente às margens do Rio São Francisco. Angela lembra com carinho das rodas de conversa e das salas de aula cheias de alunos e diálogos enriquecedores. Essas situações não só proporcionaram aprendizado acadêmico, mas também lições valiosas sobre a vida. "Essas lembranças evocam uma grande saudade de alguém que foi um mestre não apenas na academia, mas também na vida", resume.
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Palavras-chave: edufu homenagem Carlos Rodrigues Brandão
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