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MULHERES NA CIÊNCIA

“Uma oportunidade totalmente diferente do que já vivi”

Programa Futuras Cientistas reúne alunas e professoras da educação básica na UFU

Publicado em 04/02/2025 às 08:34 - Atualizado em 04/02/2025 às 16:33

O projeto aproxima meninas e mulheres de centros tecnológicos e instituições de ensino e pesquisa. (Foto: Marco Cavalcanti)

Durante o mês de janeiro, o Programa Futuras Cientistas reuniu alunas e professoras da educação básica da rede pública de Uberlândia para uma imersão científica nos laboratórios da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Além da troca de conhecimentos sobre a preservação da hidrografia do município, o projeto Guardiãs das Águas, selecionado para integrar o programa nacional, promoveu conexões entre mulheres que vão além da ciência e do universo acadêmico.

A iniciativa faz parte de ações no país que buscam ampliar a inclusão feminina na pesquisa científica e despertar o interesse das estudantes por cursos de graduação nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Criado há mais de uma década pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), o Programa Futuras Cientistas se expandiu para todo o território brasileiro em 2023, proporcionando às participantes, além do conhecimento, o incentivo financeiro através de bolsas.  

O Guardiãs das Águas foi desenvolvido pela professora do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia, Jeamylle Nilin, como uma forma de promover a preservação e conservação das águas da região. “O projeto surgiu a partir dos Guardiões do Mar, um projeto que eu tinha na universidade [em] que trabalhava anteriormente em Sergipe. Quando mudei para Uberlândia tentei converter [o projeto] em Guardiões das Águas. A gente já teve outras experiências, e agora a oportunidade de ter o Futuras Cientistas”, explica a docente.

Participantes do programa Futura Cientistas
O Futura Cientistas permite reconhecer o papel de meninas e mulheres na ciência. (Foto: Marco Cavalcanti)

A equipe do Guardiãs das Águas desta edição é formada pelas alunas Ana Beatriz Oliveira, Millena Cardoso e Ana Luiza Viana e as professoras Flávia Silva e Maria Luiza Ferreira. “Eu conheci o programa pelo Portal da UFU. Vi divulgando, me inscrevi e deu certo”, conta a estudante da Escola Estadual Segismundo Pereira, Ana Beatriz, que foi motivada a se inscrever pela curiosidade em conhecer o que acontece nos laboratórios de pesquisa. 

 

Do ensino médio para o laboratório

As três alunas iniciam em 2025 o terceiro ano do ensino médio, e suas experiências em pesquisas científicas na rede pública são desiguais. Enquanto Millena Cardoso e Ana Luiza Viana já participaram de aulas em laboratórios, a realidade de Ana Beatriz Oliveira é diferente. “Na minha escola não tem muita oportunidade de conviver assim tão de perto, foi uma oportunidade totalmente diferente do que eu já vivi. Na escola é sempre mais teórico e, mesmo que o professor quisesse, não dá tempo de passar o conteúdo e levar a gente para a prática”, afirma a estudante.

Vivenciar a realidade de uma pesquisa ainda no ensino médio é uma “experiência gigante. Ela expande a compreensão, porque sai daquele ambiente da escola para um universo que é essa universidade”, declara a professora de química Maria Luiza Ferreira. O Futuras Cientistas oportuniza o contato com a ciência em busca de desenvolver o interesse pela pesquisa científica e tecnológica e estimular uma cultura científica nas escolas públicas.

Ana Luiza Viana com amostra de sementes de alface
“É bom que existam pessoas que pensam nesses projetos, tentam distribuir essas oportunidades e entendam o peso da ciência”, afirma Ana Luiza Viana. (Foto: Marco Cavalcanti)

Durante as atividades do projeto, as guardiãs coletaram amostras de água no Parque do Sabiá e afluentes do município e, posteriormente, realizaram as análises físico-químicas, microbiológicas e ecotoxicológicas. No teste de fitotoxicidade, junto às amostras de água, “a gente colocou algumas sementinhas na placa, envolveu em um papel filme e papel alumínio e deixou na estufa. Com isso a gente percebeu que a do Parque do Sabiá teve um crescimento um pouquinho a mais por conta dos nutrientes”, relembra Millena Cardoso.

“A minha parte favorita foi a análise de nutrientes, porque eu gostei de ver a interação dos reagentes com as amostras e o que cada interação significava, que dava para tirar dos dados daquela situação e da mudança de cor”, conta a aluna Ana Luiza Viana. As atividades do Guardiãs das Águas foram além dos momentos no Laboratório de Ecologia Aplicada e Ecotoxicologia (Leatox-UFU). A docente Jeamylle Nilin e as monitoras do laboratório apresentaram para as participantes do projeto outros espaços da UFU no campus Umuarama, bem como palestras de temas importantes para a pesquisa científica. 

 

A ciência como possibilidade real para meninas e mulheres

O Futuras Cientistas possibilita para as participantes do projeto a criação de um espaço de vínculo para fortalecimento, reconhecimento e inspiração. “Eu gostei do objetivo do programa, que é trabalhar com as mulheres. Achei muito lindo esse foco, porque a gente é tão desvalorizada”, comenta Maria Luiza Ferreira. 

“Uma coisa que eu acho muito importante durante toda a nossa formação, apesar da estar [como] tutora e as alunas de graduação e pós-graduação como monitoras, é que a gente tinha um momento onde todas éramos mulheres conversando sobre a vida, sobre ciência e sobre nossas experiências”, expõe Jeamylle Nilin. Durante todos os dias de encontro antes de iniciar as atividades, a proposta do projeto envolvia apresentar uma cientista para que todas pudessem conhecer e se inspirar na história real de outra mulher.

Alunas do projeto
Reforçar o papel da mulher na ciência é o propósito do Futuras Cientistas na promoção de equidade nos cursos de tecnologias, ciências da natureza e exatas. (Foto: Marco Cavalcanti)

O impacto do programa vai além das semanas de imersão. As três estudantes logo iniciarão suas graduações e as professoras são fundamentais no futuro das próximas cientistas do país. “A gente foi capacitada por mulheres incríveis e inspiradoras, tanto a Jeamylle, nossa tutora, quanto as monitoras, e conhecer também as meninas, que não são da mesma escola que a minha, mas a gente vai continuar tendo esse contato”, conta Flávia Silva sobre a experiência em participar do Guardiãs das Águas.

“Foi uma área que eu me interessei muito. Eu não tinha tanto interesse em fazer graduação, mas tendo essa oportunidade, já abriu essa opção de curso”, declara Ana Beatriz Oliveira. Apesar do encerramento dos momentos de prática na UFU, as participantes do projeto seguem em atividades remotas com o Cetene por algumas semanas. 

Professora Jeamylle Nilin
“É a partir das experiências que a gente vai introduzindo novos conhecimentos, novas abordagens, novos olhares sobre o meio ambiente, sobre a responsabilidade e a cidadania”, ressalta Jeamylle Nilin. (Foto: Marco Cavalcanti)

As atividades de preservação e conservação das águas pelas guardiãs também não se encerram com o fim da edição do Futura Cientistas. “Vai começar um novo projeto que, apesar de parecer sequência, não é. A gente vai ter 45 meninas em todo o Brasil que vão fazer parte também dessa formação de guardiãs e vão trabalhar tanto a parte da poluição e saneamento como também questões relacionadas aos direitos humanos e a valorização na ciência”, conta a professora da UFU, Jeamylle Nilin. O novo projeto recebeu o nome de Guardiãs das Águas: meninas pelo saneamento, e contará também com a participação das três estudantes Ana Beatriz Oliveira, Millena Cardoso e Ana Luiza Viana.

 

 

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Palavras-chave: futuras cientistas Imersão Científica 2025 mulheres na ciência Equidade de gênero

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