Entre Moçambique e Brasil: conheça estudo sobre inclusão premiado em congresso de contabilidade

“É uma pesquisa que vai agregar não só para a área de contabilidade, mas também para toda a área acadêmica, abordando atitudes de docentes e discentes em relação às deficiências. Comparando, é uma contribuição tanto para a realidade moçambicana quanto para a realidade brasileira”. Assim o pesquisador Samito Mário Chimoio Taimo, mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), descreve sua pesquisa, que ficou em primeiro lugar no Prêmio Internacional de Produção Contábil Técnico-Científica Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá, na categoria acadêmico-científica, durante a XV Convenção de Contabilidade de Minas Gerais, entre 4 e 6 de junho, em Belo Horizonte (MG).

Intitulado “Atitudes Sociais e Inclusão de Pessoas com Deficiência na Graduação em Contabilidade”, o trabalho é fruto da dissertação de mestrado de Taimo e tem coautoria de sua orientadora, a professora Denise Mendes da Silva, da Faculdade de Ciências Contábeis (Facic/UFU). “O Samito se dedicou a um tema pensando, sinceramente, em contribuir, de forma efetiva, para a inclusão e a permanência de PcD [pessoas com deficiência] no ensino superior de Contabilidade. Ele demonstra que a inclusão de PcD não depende, apenas, da eliminação de barreiras físicas ou comunicacionais, mas também das atitudes pessoais, de estudantes e professores, no sentido de acolher e compreender as necessidades específicas e promover a autonomia da PcD no ambiente universitário”, comenta a docente.

A pesquisa analisou as atitudes sociais de 267 discentes e 77 docentes de instituições públicas de ensino superior do Brasil e de Moçambique em relação à inclusão de PcD na graduação em Contabilidade. O levantamento foi realizado em todas as regiões de ambos os países, utilizando um questionário capaz de medir e comparar indicativos, avaliando experiências pessoais, características demográficas e laborais e percepções com relação às condições de deficiência.

No próprio artigo, Taimo relata seu vínculo pessoal com a temática: “Sou filho de um pai que viveu por muitos anos com deficiência física, consequência de um acidente de trânsito que o deixou com limitações. Além disso, minha esposa tem um irmão que nasceu com deficiência múltipla”. 

Segundo Taimo, o estudo identificou que fatores como formação e experiência profissional dos docentes influenciam diretamente sua percepção sobre a inclusão. De maneira geral, docentes e discentes brasileiros apresentaram atitudes mais favoráveis do que os moçambicanos, o que, para o pesquisador, reflete diferenças nas políticas públicas e no debate sobre o tema nos dois países.

“Em Moçambique ainda precisamos de legislações e políticas públicas que incentivem a recepção de estudantes com deficiência. O Brasil já tem avanços importantes, como a Lei de Cotas e a Lei Brasileira de Inclusão, mas ainda percebemos falta de conhecimento sobre esses direitos tanto entre alunos quanto entre professores”, afirma Taimo.

O estudo recomenda a ampliação de ações de sensibilização e formação continuada, como palestras e projetos de extensão, além da melhoria das infraestruturas físicas e pedagógicas nas universidades. Também sugere a atualização de planos curriculares e maior apoio aos docentes para lidar com estudantes com deficiência em sala de aula.

Para o pesquisador, o prêmio representa o reconhecimento de um tema que ainda precisa ganhar espaço na área. “É uma pesquisa que fala da Contabilidade, mas também da ciência como um todo, e que dialoga com duas realidades distintas, com diferentes desafios em Moçambique e no Brasil. Ainda existe muito a ser explorado sobre inclusão e atitudes sociais no ensino superior. É um desafio que, quando você abraça, passa a fazer parte de você”, reflete.

Docente da Universidade Púnguè, universidade pública moçambicana, Taimo cursou o mestrado na UFU com bolsa de mobilidade acadêmica fornecida pelo Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB). 

A premiação recebida por Samito e Denise homenageia o professor Antônio Lopes de Sá, referência na área contábil, e integra anualmente a programação da Convenção de Contabilidade de Minas Gerais, um dos maiores eventos do setor no país.

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