Publicado em 22/08/2025 às 10:20 - Atualizado em 26/08/2025 às 09:02
Um dos escritores mais lidos do mundo no início do século 20 viveu e publicou seus últimos trabalhos em terras brasileiras. Autor de Brasil, um país do futuro, o escritor judeu-austríaco Stefan Zweig (1881-1942) volta à cena intelectual e literária do país por meio de pesquisas que retomam suas ideias humanistas e pacifistas em tempos de intolerância.
“Enquanto o mundo se afogava em guerras, ele imaginava uma cidadania literária universal”, aponta o pesquisador Geovane Souza Melo Junior, integrante do Laboratório de Estudos Judaicos da Universidade Federal de Uberlândia (LEJ/UFU) e da equipe técnica da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (ProPP/UFU).
Melo Junior é um dos organizadores do livro Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo, publicado em 2024 pelo Museu Casa Stefan Zweig, em parceria com o LEJ/UFU, e em abril de 2025 foi palestrante de um simpósio que leva o mesmo nome do livro, realizado na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
"Esse foi o primeiro livro a reunir diversos textos de autores brasileiros sobre Stefan Zweig, formando um verdadeiro caleidoscópio. Alguns escritores e organizadores do livro participaram com suas comunicações no simpósio em abril, que marcou o encerramento de uma exposição da Áustria, ‘Stefan Zweig, autor universal’, que estava desde dezembro passado na Fundação Biblioteca Nacional para mostrar a atualidade desse autor ainda hoje”, conta Melo Junior.
Zweig foi estudado por Melo Junior no mestrado e no doutorado, sob orientação da professora do Instituto de Letras e Linguística (Ileel/UFU) e coordenadora do LEJ/UFU, Kênia Maria de Almeida Pereira. Primeiro, ele se debruçou sobre correspondências trocadas com Freud, criador da psicanálise. Depois de explorar essas cartas, no doutorado, o objeto de estudo foi um documentário de 1995 do diretor brasileiro Sylvio Back intitulado ‘Zweig: a morte em cena’.
Na dupla condição de pesquisador e técnico administrativo em educação (TAE), Geovane ressalta a importância da qualificação também para suas atividades técnicas na Diretoria de Pesquisa. “Como alguém que há 11 anos tem transitado entre esse mundo técnico, de pesquisa e de pós, eu vejo que somos uma categoria cada vez mais qualificada. A UFU e outras instituições ganham com isso. Eu, por exemplo, trabalho com editais de iniciação científica e sem dúvida nenhuma ter pós-graduado na área de Letras, dos Estudos Literários, me ajuda a entender esse universo e a auxiliar outras pessoas em suas atividades de pesquisa”, avalia.
Atualmente, Melo Junior realiza um estágio pós-doutoral na Universidade de São Paulo (USP), supervisionado pelo professor e romancista Luis Krausz. “Eu estou estudando como a literatura francesa auxiliou Stefan Zweig em seu projeto humanista pacifista de literatura. Nos últimos momentos de vida dele aqui no Brasil, ele estava estudando sobre Montaigne e Balzac. Montaigne serve como um modelo de cidadão que aposta na literatura como saída. Balzac oferta um exemplo de literatura que consegue mimetizar o mundo. Essas duas figuras influenciaram muito os últimos anos de vida dele”, detalha sobre seu projeto de pesquisa atual.
Em setembro, uma parte desse trabalho será apresentada no II Congresso de Pós-Doutorados da USP, entre 15 e 17 de setembro, com o título "Que destino nos fez nascer precisamente nestes tempos? A influência da literatura francesa no humanismo e pacifismo de Stefan Zweig durante o exílio do nazismo".
“Acredito que Zweig precisa ser mais conhecido em nossas escolas, sobretudo por conta de seu pacifismo e humanismo, que oferecem caminhos possíveis em tempos de crise. Ele já passou por isso antes, então a gente pode aprender com ele”, aposta o pesquisador, depois de uma década de estudos sobre o escritor.
Outro fato tem chamado a atenção de Geovane desde sua defesa de doutorado, quando um dos avaliadores apontou que há, na própria UFU, um acervo que pode trazer novos achados para sua pesquisa. "Na Biblioteca Central Santa Mônica a gente tem uma coleção especial que foi doada pela família do Geraldo França de Lima, o imortal da Academia Brasileira de Letras, que nasceu em Araguari, morreu no Rio [de Janeiro], e foi quem apresentou o Stefan Zweig ao escritor francês Georges Bernanos, uma das últimas pessoas a conversar com Stefan Zweig em vida. O que a gente tem hoje é uma ficção sobre esse diálogo entre Zweig e Bernanos e eu estou analisando essa coleção, que contém livros, recortes de jornais, fitas cassetes”, relata.
Tendo vivenciado o período marcado por duas guerras e fugido da perseguição do regime nazista, Zweig é visto pelo pesquisador da UFU como um escritor que testemunhou atrocidades e apontou outras saídas. Em sua conferência durante o Simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo, o pesquisador conclui que a atualidade do autor está em seu posicionamento humanista e pacifista. Segundo ele, o escritor “nos adverte acerca da nossa própria época, suas tensões, suas crises e seus perigos. Em um tempo em que democracias sofrem erosões, discursos de ódio se multiplicam e a desinformação ameaça o pacto civilizatório, relembrar Zweig significa que há alternativas éticas ao colapso”.
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