Publicado em 08/12/2025 às 12:13 - Atualizado em 08/12/2025 às 12:33
“A África tem história para contar", é com essa frase que o historiador Joseph Ki-Zerbo inicia a Coleção Geral da África Volume-I. Você já se perguntou qual a história da África que antecede a colonização no território africano?
Nas próximas linhas, narrarei a história da Rainha Amina de Zaria, uma monarca africana que governou o Reino de Zazzau durante 34 anos, e que, atualmente, está conhecida por conta da música Amina da dupla de rappers brasileiras Tasha&Tracie, que mencionam a soberana e seu reino em sua letra.
A princesa de Amina de Zazzau nasceu em 1533, no século XVI, na cidade de Zaria, localizada no estado de Kaduna. Sendo a filha mais velha de Bakwa — título dado aos monarcas de Zazzau — que foi um dos monarcas mais influentes no reino. Após o falecimento de seu pai, o irmão mais novo de Amina ascende ao trono, já que, naquele contexto, mulheres não podiam ocupar cargos de poder sem uma presença masculina. Até aquele momento, o Reino de Zazzau não havia tido nenhuma mulher como rainha sem um rei ao seu lado.
A rainha guerreira, como era conhecida, foi uma das maiores líderes que surgiu no cenário africano do século XVI. Amina assume o trono de Zazzau logo após a morte do irmão, sendo considerada, portanto, a primeira Rainha da Nigéria, posto que Zaria é localizado onde hoje é o território nigeriano.
Durante seu reinado, ela expandiu seu território ao conquistar várias cidades. Além disso, abriu as rotas comerciais e iniciou o cultivo de nozes de cola. Enriqueceu o território de Zazzau com ouro, produtos tropicais e cidadãos escravizados — esses em sua maioria eram adquiridos por meio de guerras.
Amina liderava pessoalmente as batalhas de conquista. Por conta disso, proporcionou o desenvolvimento da metalurgia em seu estado, trazendo o uso de armaduras de metal para o seu exército. Ela não foi a única mulher a governar os Estados Hauçás, no entanto, foi a primeira mulher a governar o Reino de Zazzau.
Durante seu reinado, ela mandou construir em volta das cidades conquistadas pelo seu reino as chamadas Ganuwar Amina (muralhas de Amina), que eram muralhas feitas de barro. Dizem que os restos do que foram essas muralhas podem ser encontrados até hoje na cidade nigeriana.
Existem muitas versões a respeito da sua morte, mas a mais aceita pelos historiadores é a versão de que ela teria morrido no campo de batalha em Atagara, localizado onde hoje é o estado de Kebbi, na região central da Nigéria, durante o século XVII. Após sua morte, o Reino de Zazzau perde sua importância política e comercial.
Em 2021, a plataforma de streaming Netflix produziu o filme Amina, que narra os anos finais do reinado do pai de Amina e seus primeiros anos de reinado. No filme fica evidente, a Rainha guerreira que é associada à frase “uma mulher tão capaz quanto um homem". Não se sabe, ao certo, em que lugar essa frase surgiu, mas chamamos a atenção para um questionamento: por que ela precisa ser comparada a um homem para ser considerada capaz? Não seria apropriado dizer que: ela é “uma mulher tão capaz quanto uma mulher”?
Ao longo dos séculos, a historiografia colocou sob a história africana espécies de muralhas simbólicas — não muito diferentes das muralhas que a própria Amina construiu para proteger o seu reino. Por muito tempo, a história da África foi narrada sob uma perspectiva eurocêntrica, sob a visão de quem colonizou um território do qual já existiam inúmeros reinos que ali governavam.
Assim, derrubar as muralhas que a história construiu — não somente na história de Amina, mas como também na história da África — não é papel exclusivo da educação básica ou das universidades. É papel também da sociedade como um todo, visto que, a educação antirracista deve começar a ser produzida no corpo social.
Ademais, como Ki-Zerbo escreve ao refutar o filósofo alemão Friedrich Hegel, a África tem história para contar. E essa narrativa é repleta de rainhas, reis e reinos africanos, que antecedem séculos da colonização europeia em África.
*Isabela Roque Tognetti é bacharel e discente da licenciatura em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Foi pesquisadora CNPQ, ex-presidente da Chronos Empresa Júnior do Curso de História: Consultoria Educacional e Histórica e membro do Grupo de Pesquisa Estudos Negros. E-mail: isabela.tognetti@ufu.br
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Palavras-chave: Rainha Zazzau Amina Africa
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