Pular para o conteúdo principal
#ESPECIALUFU45

Desde quando existe uma Política Ambiental na UFU?

Dos projetos de coleta seletiva ao Selo A3P, a universidade vem se esforçando para honrar os compromissos socioambientais que os órgãos públicos brasileiros devem assumir por um futuro mais verde

Publicado em 01/08/2023 às 10:04 - Atualizado em 22/08/2023 às 17:04

 

Quando se fala sobre um modelo de políticas e ações ambientais e de sustentabilidade, é costume pensar nas empresas e o que é feito por elas para amenizar os efeitos de suas ações, mas você sabia que as universidades também precisam ter um Plano de Política Ambiental?

Isso porque, como explicado pelos pesquisadores Joel Tauchen e Luciana Londero, as Instituições de Ensino Superior (IES) podem ser entendidas como micronúcleos urbanos, pois envolvem diferentes setores sociais, desde o ensino, o transporte e até o comércio. As ações realizadas em um campus geram resíduos sólidos, emitem gases de efeito estufa e consomem muitos recursos naturais; todos esses efeitos precisam ser previstos, observados e compensados por meio de ações socioambientais.

Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), um relatório produzido pelo Observatório de Políticas Ambientais mostra que a questão ambiental começou a ser formalizada por uma questão de logística, por uma necessidade de uma gestão de lixo e coleta seletiva mais firme. Assim, foi criada a Comissão Gestora de Resíduos (CGR), que viabilizou as parcerias com as cooperativas de coleta seletiva para a retirada dos resíduos que são depositados em grandes contêineres nos campi da instituição.

Um ponto importante a ser destacado é que a estruturação desse programa de parceria só foi possível pois já haviam movimentações junto ao Centro de Incubação de Empreendimentos Populares Solidários (Cieps) e à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc), com captações de recursos para subsidiar as cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, em um projeto que prezava pelo socioambiental do ambiente universitário e para além dele.

Em um primeiro momento, os resíduos eram apenas destinados às cooperativas, mas, com a formalização da parceria, elas passaram a também receber pelo serviço prestado. Em um avanço recente, resíduos inservíveis – que são os materiais irrecuperáveis que geralmente vão à leilão – passaram a ser concedidos também, compensando a redução de materiais recicláveis produzidos dentro da UFU nos últimos anos, devido às circunstâncias globais e medidas de sustentabilidade tomadas.

 

Criação de uma diretoria

A partir dessa ação, em conjunto com fatores tais como a elaboração do Plano Diretor Físico-Territorial do Campus Glória, outros setores e planos foram criados para dedicação exclusiva às pautas ambientais da universidade. A Diretoria de Sustentabilidade (Dirsu) é um setor da Prefeitura Universitária (Prefe) que foi criado em 2011, juntamente com o Grupo de Trabalho para Política Ambiental. Posteriormente, em 2012, foi oficializado pelo Conselho Universitário (Consun) o documento da Política Ambiental da Universidade Federal de Uberlândia.

 

 

Essa resolução foi um grande passo adiante na adoção de práticas sustentáveis pela universidade, estabelecendo metas, funções e traçando caminhos para novos projetos. A Comissão Institucional de Gestão Ambiental (Cigea) implementou as políticas, os órgãos institucionais – como a própria Dirsu e Unidades Acadêmicas – a executam e todos os setores da UFU têm a possibilidade de propor projetos e programas de educação e gestão ambiental.

Nelson Barbosa, que está no comando da Diretoria de Sustentabilidade, resume que o objetivo dela é “minimizar os impactos da atuação da universidade e promover ações, programas e atividades relacionadas a uma cultura organizacional relacionada à sustentabilidade”. Ele aponta que, na época, a criação da Dirsu foi um marco, uma vez que a UFU foi uma das primeiras universidades a ter uma diretoria dedicada a questões de sustentabilidade, sinalizando um direcionamento da instituição de preocupação com a pasta ambiental.

O escopo de atuação da Dirsu inclui, além do monitoramento da coleta seletiva, a questão da eficiência energética nos campi – com diversos projetos voltados para isto aprovados junto à Cemig, de modo a captar verba extraorçamentária –, controle da qualidade da água de consumo, destinação de resíduos perigosos, diagnóstico e promoção de consumo racional de recursos na universidade, assim como de atividades de formação e educação ambiental e de conscientização, tanto para a comunidade universitária quanto para a população em geral.

Além disso, por meio do Painel da Sustentabilidade, é posto em prática o princípio da transparência e acessibilidade a dados públicos, que também são utilizados para dar suporte ao planejamento geral da instituição, como, por exemplo, o Plano Institucional de Desenvolvimento e Expansão (Pide) e outros relatórios de gestão, assim como para a colocação da universidade em rankings de sustentabilidade internacionais.

Do ponto de vista institucional, uma das conquistas mais importantes da UFU, por meio da Dirsu, foi a adesão ao Selo A3P e ao Programa Sala Verde, ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). A3P é a sigla para Agenda Ambiental na Administração Pública, que estimula órgãos públicos ao redor do Brasil a implementarem práticas de sustentabilidade. Segundo o site do MMA, a “adoção da A3P demonstra a preocupação do órgão em obter eficiência na atividade pública enquanto promove a preservação do meio ambiente”.

 

 

Presidente em exercício da Cigea, Eunir Gonzaga relembra que foi necessário um esforço coletivo, a partir de meados de 2017, para conseguir o Selo Verde da A3P, que requer uma manutenção anual com a submissão dos dados de consumo da universidade para uma plataforma do MMA, o ResSoA. Para ele, “é preciso dar mais musculatura para a A3P, já que entendemos que a agenda ambiental é muito séria; não é um protocolo de intenções, é o que está sendo executado de fato”.

Já a Sala Verde é um projeto voltado para a “implantação de espaços socioambientais para atuarem como potenciais centros de informação e formação ambiental”, coordenado pela Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (SBIO/MMA). A Sala Verde UFU Sustentável é o centro de educação ambiental da universidade, com diversos projetos de extensão e iniciação científica realizados a partir dela, assim como a aderência a outros programas do MMA, como o Circuito Tela Verde, uma mostra de filmes e curtas independentes sobre a temática ambiental que ocorre anualmente. Por meio de sua Sala Verde, a UFU é um dos espaços para exibição utilizados neste evento.

O Plano de Logística Sustentável (PLS), aprovado em 2019, foi outro marco na história da política ambiental da UFU. Contém planos de ação direcionados a políticas de nicho, como materiais de consumo (água, copos descartáveis e cartuchos de impressão), energia elétrica, água e esgoto, telefonia, e qualidade de vida no ambiente de trabalho, além do planejamento de ações de divulgação. Infelizmente, assim como muitas iniciativas, a pandemia de covid-19 interrompeu muitos desses planos. Com o restabelecimento de uma certa ordem e a volta das aulas presenciais, é necessário uma reavaliação do que foi construído até aqui.

 

O agora e o futuro

“Agora que renovamos, em dezembro [o Selo A3P], para os próximos cinco anos, temos um plano de trabalho que foi apresentado para a Cigea, que está, nesse momento, contemplando esse plano junto com planejamento de trabalho da própria comissão”, relata Gonzaga. Ele explica que, quando o convênio da A3P foi condicionado, muitos órgãos e autarquias que passaram a atuar nesse sentido ainda não tinham uma comissão responsável pelas questões ambientais.

Mas, como essa necessidade já havia se apresentado por aqui, essa não era a realidade da UFU. “No nosso caso, já tínhamos uma política ambiental e comissão antes; então, o entendimento foi de constituir a comissão gestora da A3P, no entanto sem chocar com o trabalho da Cigea, que já estava empreendendo ações para eficiência energética, qualidade da água, educação ambiental, arborização e paisagismo, entre outros […] era importante que a Comissão A3P estivesse alinhada com isso; daí, foi definido que ela ia funcionar em conjunto com o regulamento interno da Cigea. Desde então, há uma parceria entre as comissões, com a da A3P funcionando como um grupo técnico de trabalho até o momento”, especifica o presidente em exercício.

 

 

Barbosa, que também é membro da comissão, completa que “sobre a Política Ambiental em específico, vamos iniciar um trabalho de revisão ou reavaliação, ver no que precisa ser aprimorada; [uma vez que] é uma política de 2012, nós já temos mais de 10 anos dela […] vamos agora nos debruçar, como Cigea, em uma importante tarefa de reavaliar os pontos positivos, negativos, o que precisa avançar, o que precisa corrigir, para que a universidade continue progredindo na Política Ambiental”.

Eunir Gonzaga finaliza afirmando o compromisso de tornar a Cigea um espaço “amplo, democrático, transparente, acessível, inclusivo e diverso”. Pretende, também, trabalhar em algumas lacunas na atuação socioambiental da universidade, que, "apesar de estar se colocando como referência regional e despontando nessas questões, ainda precisa lidar com problemas tais como a fragmentação de iniciativas, uma vez que, devido ao amplo escopo de operação (com campi em quatro cidades), é preciso criar mecanismos, canais de comunicação e promover um diálogo ainda mais próximo”, como ele coloca.

 

Participação da sociedade civil e comunidade acadêmica

O Observatório de Política Ambiental da UFU (OPA-UFU) surgiu em torno de julho de 2022 e é um espaço dentro da UFU dedicado ao desenvolvimento de discussões e maior engajamento da comunidade acadêmica pelas questões ambientais da universidade e do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Uma das coordenadoras do projeto, Samara Carbone, também professora no Instituto de Ciências Agrárias da UFU, diz que o OPA surgiu a partir de um conjunto de fatores, motivados pela baixa relevância que é dada às questões de sustentabilidade nesses espaços: “É neste contexto que surge o OPA-UFU. Queremos pautar as discussões nesta temática, contribuindo, assim, para a melhoria da gestão socioambiental não apenas da UFU, mas da região como um todo. As pessoas sabem, mas frequentemente ignoram o fato de que a sustentabilidade e, portanto, as políticas que a regem, são determinantes para a sobrevivência da nossa e das demais espécies neste planeta.”

 

 

O observatório começou com trabalho de escuta de demandas das comunidades externa e interna, analisadas em um grupo de estudos, o GEOPA, funcionando inclusive com algumas parcerias, como a com o Observatório do Plano Diretor (OPD), onde foram debatidas as questões ambientais urbanas, que dependem do plano diretor de cada campus para funcionar. Além das rodas de discussão do próprio grupo, o OPA realizou mais recentemente um painel na primeira Mostra UFU Sustentável, onde os participantes puderam trazer e debater sugestões de melhorias para as práticas ambientais na universidade.

Nessa perspectiva, Carbone comenta que, apesar da existência dos documentos da Política Ambiental e da PLS, esses instrumentos ainda são fragmentados e a UFU ainda é carente de um plano de metas de curto, médio e longo prazos, que possam facilitar de fato o trabalho dos gestores. Além disso, a docente reforça a necessidade da implantação de programas de preservação e reflorestamento dos espaços e reservas vinculados à UFU, como a Fazenda Água Limpa e a Estação Ecológica do Panga, bem como as fazendas e os campi da universidade. “São necessários programas com metas que visem a mobilização e sensibilização da comunidade interna; um mapeamento e diálogo entre as mais variadas unidades da UFU que realizam práticas ambientais”, finaliza.

 

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

A série "ESPECIALUFU45" reúne textos escritos por membros da equipe da Diretoria de Comunicação Social (Dirco), mas também está aberta à contribuição de outros integrantes da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). As sugestões de temas a serem abordados, bem como o envio de materiais para avaliação e, em caso de aprovação, posterior publicação, podem ser realizados por meio do formulário eletrônico disponível em: www.comunica.ufu.br/divulgacao.

 

>>> Leia também:

Palavras-chave: #especialUFU45 meio ambiente desenvolvimento sustentável DIRSU sustentabilidade

A11y