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Pesquisa

UFU investiga as interações ecológicas entre animais e plantas no cerrado

Trabalho é um dos cinco aprovados em edital do CNPq nessa linha de pesquisa

Publicado em 24/03/2022 às 08:08 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39

Com o objetivo de selecionar propostas para apoio financeiro a projetos que visem a contribuir significativamente para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, no final de 2021, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) divulgou a Chamada Universal. Por meio dela, R$ 250 milhões foram destinados às pesquisas, que foram divididas em Faixa A - Grupos Emergentes, que são aqueles compostos de no mínimo três doutores, e Faixa B - Grupos Consolidados, que são aqueles compostos de no mínimo cinco doutores, de ao menos duas instituições distintas.

Pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) estão em um dos grupos contemplados na Faixa B. O trabalho sobre resiliência em redes de interações ecológicas no cerrado e o impacto do fogo na biodiversidade interativa é um dos cinco aprovados no Brasil nessa linha de pesquisa.

A proposta é coordenada por Kleber Del Claro, professor do Instituto de Biologia (Inbio) da UFU e conta com os também professores do instituto Helena Silingardi, Vanessa Moreira e Nicolas Pelegrin; com a professora Denise Lange, da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR); com o  professor Eduardo Calixto, da Universidade da Flórida (UF); e com os professores Renan Moura e Diego Anjos, da Universidade de Jerusalém. O grupo ainda é composto por alunos de Iniciação Científica, mestrado e doutorado em Ecologia e Biologia da UFU e de Entomologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP).

 

Mapeamento das redes ecológicas

Há 30 anos, Del Claro lidera o grupo que investiga as interações ecológicas entre animais e plantas no cerrado. As pesquisas indicam que a biodiversidade interativa, mapeada com redes ecológicas, está se degradando rapidamente pelo aquecimento global e fogo intenso. Nos últimos 10 anos, o grupo mostrou que a região do cerrado estudada, a reserva do Clube Caça e Pesca Itororó de Uberlândia, sofreu quase o aumento médio de 1ºC em temperatura, ocasionando uma ruptura em floração sequencial de plantas da família Malpighiaceae, com prejuízo à fauna associada de herbívoros, predadores e parasitóides.

Os sistemas multitróficos estudados (plantas, herbívoros, formigas, aranhas, polinizadores e dispersores) permitiram os pesquisadores mapearem, através de redes ecológicas, as principais espécies associadas, a modularidade e a conectância das redes. As manipulações experimentais revelaram o papel funcional dos organismos envolvidos e os resultados das interações, que advêm da variação fenológica dos produtores; da biologia e comportamento dos consumidores; e dos fatores físicos e antrópicos (fogo).

Da esquerda para a direita, professor Kleber Del Claro, professora Helena Silingardi, aluna Priscila Cardoso e professor Eduardo Calixto, em trabalho de campo no Clube Caça e Pesca Itororo em 2017. (Foto: Arquivo pessoal / Kleber Del Claro

Em julho de 2021, a reserva de cerrado sofreu com geadas seguidas por incêndios, que atingiram, em especial, o estrato arbustivo. Com isso, o grupo viu a oportunidade de acompanhar a resiliência das redes ecológicas de interações previamente documentadas, avaliar a perda e/ou recuperação da biodiversidade interativa, além de testarem, experimentalmente, se os resultados das interações ecológicas serão mantidos.

Essas três linhas de investigação permitirão testar a hipótese dos pesquisadores de que a composição das redes ecológicas pode se alterar no tempo e espaço, mas que os resultados das interações se mantêm, demonstrando a resiliência e confirmando uma das premissas básicas da teoria dos mosaicos geográficos evolutivos de Thompson.

 

Evolução e conquistas da pesquisa

Desde 1992, quando chegou à UFU, Del Claro viu no cerrado a oportunidade de desenvolver estudos sobre o impacto do fogo nas interações ecológicas. “O começo foi muito difícil, não tínhamos quase nenhum apoio. Cheguei na UFU e não tinha espaço, laboratório, escrivaninha ou computador. A internet estava no início. Hoje, a situação está muito melhor. Com a revolução da internet, o acesso à literatura e aos colegas do exterior e brasileiros num único clique é fantástico”, conta Del Claro.

Este é o segundo edital Universal em que os principais líderes do grupo, ligados ao Laboratório de Ecologia Comportamental e de Interações da UFU, são aprovados. No anterior, de 2016, os trabalhos principais foram apresentados no Congresso Internacional de Ecologia de Belfast, na Irlanda do Norte, e no British Ecological Society, de Londres.

Da esquerda para a direita, professores Helena Silingardi, Vanessa Moreira, Eduardo Calixto e Kleber Del Claro, representando o CNPq, a UFU e o Brasil no congresso da British Ecological Society. (Foto: Arquivo pessoal/Kleber Del Claro

Para Del Claro, esses editais são importantes, principalmente para jovens, já que são bolsas que apoiam produções em conjunto que alavancam a carreira e possibilitam intercâmbio internacional. "Para a UFU também é muito relevante, pois é um edital de grupos consolidados. São pouquíssimas aprovações no Brasil e pouco dinheiro para distribuir. Então é um reconhecimento de que estamos fazendo ciência de altíssimo nível aqui”, conclui o pesquisador.

A vigência da bolsa aprovada pelo grupo vai de março deste ano a março de 2025. O valor global é R$ 172.200, além de duas bolsas de longa duração na modalidade Apoio Técnico à Pesquisa e Iniciação Científica.

 

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Palavras-chave: pesquisa cerrado Redes Ecológicas CNPq

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