Publicado em 07/04/2022 às 14:02 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39
A desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres é profundamente resistente. (Imagem: Freepik)
Nas últimas décadas, as mulheres brasileiras conseguiram aumentar sua participação no mercado de trabalho, bem como seu nível educacional e alcançar maior representatividade política e em cargos gerenciais. Porém, a desigualdade de rendimentos entre homens e mulheres é profundamente resistente. As diferenças salariais têm por base uma série de fatores, em que se pode destacar: i) a segregação ocupacional, que acaba reservando às mulheres ocupações associadas aos papéis de gênero e que, geralmente, são pior remuneradas; ii) o uso do tempo, que, em função da maior responsabilização por tarefas domésticas e reprodutivas por parte do sexo feminino, acaba sendo desfavorável para elas; iii) o “fantasma do salário acessório”, isto é, a percepção de que a mulher faz parte de um núcleo familiar no qual ela não é a figura determinante para geração de renda; e iv) a maior presença feminina nas atividades informais, que decorre de um entrelaçamento de todos esses fatores.
É relevante enfatizar que rendimentos possibilitam o acesso a bens, serviços e a direitos, portanto, a desigualdade daqueles também estará associada à desigualdade no acesso destes, mesmo quando se trata de bens ou serviços públicos. Desta forma, ao discutir acesso ao mercado de trabalho e rendimento, o trabalho, ainda que indiretamente, sinaliza desigualdades no acesso a direitos básicos.
No primeiro trimestre de 2021, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), o rendimento mensal habitual médio das mulheres era de R$ 2.295,95 enquanto o de homens era de R$ 2.871,01, diferença de 24,2%. Este é o menor diferencial da base de dados. No primeiro trimestre de 2012, a diferença de rendimento de homens e mulheres era de 36,7%. Nesse período, de 2012 a 2021, as mulheres tiveram aumento de rendimento de 14,62%, enquanto os homens tiveram aumento de 4,86%. A Tabela 1 mostra os rendimentos médios mensais no primeiro trimestre de cada ano em valores monetariamente corrigidos para o primeiro trimestre de 2021 e o Gráfico 1 apresenta o diferencial de rendimento entre homens e mulheres por trimestre.
Também há significativa desigualdade de rendimento entre as mulheres associadas à dimensão de cor e raça. No primeiro trimestre de 2021, as mulheres pretas recebiam 41,63% a menos que mulheres brancas, 59,86% a menos que mulheres amarelas e 1,32% a menos que mulheres pardas.
Pandemia
As mulheres sofreram uma redução de mais de 220 mil vagas de trabalho no mercado formal, no ano de 2020, ao passo que os homens acumularam o acréscimo de mais de 34 mil novos postos de trabalho. Esse resultado permite uma primeira inferência de que a crise da covid-19 afetou mais adversamente as mulheres. Isso tanto pode decorrer do fato de que as mulheres são, em geral, mais afetadas pelas crises, uma vez que predominam em ocupações precarizadas e instáveis, bem como se enquadram com frequência na informalidade, como também pode ter relação com o contexto de maior necessidade de cuidados que a crise da pandemia surtiu, já que muitas pessoas passaram a permanecer no ambiente doméstico (como as crianças) necessitando cuidados em tempo integral (e, como se sabe, esse tipo de atividade ligada ao cuidado geralmente recai sobre o sexo feminino). No ano seguinte, tanto homens quanto mulheres apresentaram saldos das movimentações mensais positivos no acumulado do ano. Contudo, essa geração de vagas ainda foi superior para o sexo masculino (1,4 milhão) relativamente ao feminino (1,2 milhão).
Os dados completos estão na publicação do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-sociais do Instituto de Economia e Relações Internacionais (Cepes/IERI/UFU) intitulado "Gênero, Trabalho e Pandemia: no Brasil e em Uberlândia -MG", de autoria de Alanna Santos de Oliveira, Ester William Ferreira e Welber Tomás de Oliveira, com colaboração de Rondon Ferreira de Souza Filho.
*Welber Tomás de Oliveira: economista pesquisador do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-sociais do Instituto de Economia e Relações Internacionais (Cepes/IERI/UFU). Doutorando em Economia, com ênfase em Economia Aplicada, pelo Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE/IERI) da Universidade Federal de Uberlândia.
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