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Dezembro Vermelho

O que é preciso saber sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis?

Marcelo Simão, infectologista do HC-UFU, esclarece dúvidas e dá dicas sobre o tema

Publicado em 20/12/2022 às 12:53 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39

Houve uma crescente em casos de HIV/Aids de 64,9% entre pessoas de 15 a 19 anos e de 74,8% dentre aqueles de 20 a 24, no período de 2009 a 2019. (Foto: Unsplash)

A sala de espera era um lugar gelado, solitário e silencioso. Ali não havia o que se pudesse fazer, a não ser aguardar o diagnóstico. Na década de 1980, caso a palavra “resultado” viesse seguida de HIV, um prazo de validade era decretado à vida do paciente que, mais uma vez, era encaminhado para a sala onde a esperança era cortada pela metade.

Hoje, mesmo com as inovações médicas e científicas, o passado deixa profundas marcas na lembrança de quem acompanhou a realidade vivida na sala.

Inaugurado em 1970, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU/Ebserh) é um conglomerado de estruturas, onde se concentram atendimentos de média e alta complexidade para municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Em seus profundos corredores, entre linhas amarelas, vermelhas e brancas, Marcelo Simão dava início – por volta de 1970 – à sua atuação como infectologista e acompanhava diariamente o fim da vida de jovens que haviam sido tomados pela síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids).

A infecção, que se alastrava em uma pandemia vermelho sangue pelo país do verde e amarelo, comumente era identificada em homens que ousaram amar e, por anos, tiveram sua existência rodeada de preconceito e exclusão social em decorrência da “doença homossexual”.

Hoje se sabe, pois a ciência comprova, que as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) não têm cor, raça, gênero ou orientação sexual, e ainda são rodeadas de estigmas, dúvidas e desejos de cura.

Após anos acompanhando as evoluções acerca dessas doenças e com a experiência inerente ao tempo, o infectologista pelo HC-UFU, Marcelo Simão, esclarece a temática do Dezembro Vermelho.

 

ISTs ou DSTs

Ao contrário do que o antigo nome sugere, as infecções sexualmente transmissíveis são silenciosas, muitas vezes assintomáticas e sem características perceptíveis por vários anos. Por esse motivo, o Ministério da Saúde (MS) passou a adotar o termo IST no lugar de DST.

As infecções – causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos – são transmitidas por meio de práticas sexuais orais, anais, vaginais e outras em que possa haver a troca de fluídos, sem o uso de preservativos com pessoas que estejam infectadas.

Dentre as doenças mais comuns no Brasil, estão o HIV, a sífilis, a gonorreia, a clamídia, o papiloma vírus e o cancro mole. Além disso, hoje, outras infecções entram para a lista de sexualmente transmissíveis, como a hepatite A, B e C.

 

Silêncio

Ao contrário da maioria das doenças em que os sintomas rapidamente permitem a sua identificação, as ISTs podem passar anos adormecidas, sem emitir nenhum “ruído” e continuar sendo transmitidas sem que o indivíduo saiba que está infectado.

Arte: Ministério da Saúde

Em meio ao desconhecimento e à ausência de proteção, as infecções se alastram, atingem novas pessoas que, caso não sejam diagnosticadas e não realizem o tratamento devido, continuarão criando mais ciclos de infecção. Uma roda gigante sem ponto de parada.

Simão esclarece que, na dúvida, e em situações em que haja prática de atos sexuais com novos parceiros, o exame deve ser realizado e, se necessário, fazer o uso de medicamentos preventivos em até 48 horas.

 

Idade

Entre 15 e 24 anos. Esta é a faixa etária coberta pelo Boletim Epidemiológico HIV/Aids e que revela o aumento de casos de infecções sexualmente transmissíveis entre jovens. Segundo os dados, houve uma crescente de 64,9% entre pessoas de 15 a 19 anos e de 74,8% dentre aqueles de 20 a 24, no período de 2009 a 2019.

Ao contrário do pavor que marcou a geração da década de 1980, os jovens de hoje possuem uma falsa sensação de segurança e minimizam as consequências de possuir uma IST. Para o infectologista, o resultado é consequência das evoluções médicas no tratamento das infecções e que possibilitam que o paciente possa viver bem e por muitos anos.

Por outro lado, mesmo com efeitos minimizados, os soropositivos podem apresentar sintomas colaterais, como cansaço, e ainda terem de se manter regulares com o tratamento.

 

PrEP

A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) consiste no uso de medicamentos – de maneira diária e contínua – que previnem a infecção em casos de exposição. A estratégia, realizada através da ingestão de um fármaco 2 em 1, composto por tenofovir e entricitabina, é totalmente eficaz no combate à Aids. Contudo, é importante ressaltar que o indivíduo não está livre de adquirir as demais ISTs.

Para aqueles que já possuem o HIV, é importante que seja realizado o acompanhamento médico e o uso constante do coquetel antirretroviral. Ao contrário do que se possa pensar, a série de medicamentos que justifica a nomenclatura (coquetel), não mata o vírus, mas impede a sua multiplicação. Essa característica evita que o sistema imunológico do paciente seja amplamente prejudicado e o torna não detectável – condição em que o HIV não é transmitido.

Simão ainda esclarece que urinar e lavar a região genital após o ato sexual pode reduzir os riscos de ser infectado por uma IST; no entanto, uma das prevenções mais simples é o uso do preservativo.

“As pessoas não deveriam pensar que adquirir uma infecção sexualmente transmissível e depois tratá-la com medicamentos é uma solução, uma vez que há inúmeros efeitos colaterais desses usos. Seja para os rins, coração e outros órgãos. A longo prazo, há um envelhecimento precoce e um maior risco de se desenvolver doenças cerebrais e cânceres”, alerta o infectologista.

Hoje, a sala de espera já não tem a conformação do passado, a esperança pode existir por completo e com cuidado, tudo é possível.

 

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Palavras-chave: HIV aids IST dst prevenção Dezembro Vermelho

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