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LEGADO

Dr Kerr: um paradigma quebrado

Pesquisadora que trouxe o cientista para a UFU, Ana Bonetti, fala da perda do amigo

Publicado em 18/09/2018 às 12:09 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:36

Dr. Kerr e Prof. Mauricio Machaim (Embrapa/Brasília) e Profª. Ana Bonetti (IBTEC/UFU) - (Foto: acervo pessoal)

Ter em seu quadro de pesquisadores um nome que integra a lista dos 30 maiores Cientistas do Século XX ao lado de Santos Dumont, Einstein, Sabin e Osvaldo Cruz, dentre outros, é, nas palavras da pesquisadora Ana Bonetti, algo que quebra o paradigma de que todos somos substituíveis. “Tudo é substituível?”, pergunta Bonetti, que apresenta a resposta logo em seguida: “Mas, ele não!”.

Dentre os oito convites recebidos de universidades e instituições de pesquisa no ano de 1988, para que compusesse seus quadros, o cientista e humanista, Warwick Estevam Kerr, decidiu pelo chamado da pesquisadora Ana Bonetti, do Instituto de Biotecnologia (IBTEC), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e passou a compor o corpo docente desta universidade, onde atuou, por dois períodos, até o ano de 2010. Sua perda, no último dia 15, provocou reações, no Brasil e no exterior, que reavivam a importância científica e humanística da vida e da obra do Dr. Kerr.

Em sua página oficial, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) lamentou a morte do cientista. "O mundo da ciência, tecnologia e inovação sofreu uma grande perda [...], o primeiro cientista brasileiro a compor a academia de ciências dos Estados Unidos [...], impulsionou o estudo da biodiversidade da maior floresta tropical do mundo e fez outras diversas contribuições para a ciência, possuindo mais de 600 trabalhos publicados, deixando um grande legado para a sociedade brasileira”, lamenta o MCTIC.

Para a colega pesquisadora e amiga Ana Bonetti, além da academia e da ciência de forma mais ampla, a perda atinge também o universo pessoal em razão do convívio desde o início de seu Mestrado, em 1979, na Universidade de São Paulo (USP), quando se conheceram. Ainda impactada pela morte do amigo, Bonetti ressaltou que Dr Kerr foi um “homem de grandes ideias compartilhadas com todos, uma estrela que iluminou muitos caminhos; uma verdadeira lição de Ciência e de Vida. Uma vida de inestimável valor, construída pelo seu trabalho competente demonstrado nas várias posições públicas que ocupou pelo seu reconhecido papel de grande Educador por onde passou nesse Brasil”. A pesquisadora lembra que, mesmo com suas enormes conquistas, Dr Kerr se manteve como homem simples, no qual se destacavam seu notável caráter, sua integridade moral e altíssimo valor. “Um homem para ser admirado, respeitado, um exemplo a ser seguido. Dr. Kerr, uma pessoa inexplicável, inesquecível, insubstituível. Nosso muito obrigado pela sua presença em nossas vidas”, conclui a pesquisadora e amiga Ana Maria Bonetti, do IBTEC/UFU.

 

Espaço KERR sendo visitado por Sebastiana Abadia Inácio (IBTEC) - (Foto: acervo pessoal)

 

Em setembro de 2016, na biblioteca setorial do Campus Umuarama, da UFU, foi inaugurada a Coleção Especial Dr. Warwick Estevam Kerr. Composta por teses, dissertações, periódicos, livros, enciclopédias, honrarias, diplomas, cartas, fotografias e móveis, utilizados ou produzidos pelo pesquisador e por seus orientandos, durante os mais de 60 anos de atuação em várias cidades brasileiras e dos Estados Unidos, o acervo está disponível para visitação e consulta. São cerca de 500 livros de diversas áreas do conhecimento e 600 trabalhos, principalmente resultantes das pesquisas de Kerr com hortaliças, frutas e, sobretudo, abelhas. Principais responsáveis pela polinização das plantas – e, consequentemente, de sua reprodução e existência –, as abelhas fascinaram o geneticista desde a infância e sempre fizeram parte de sua vida acadêmica.

 

Professor Warwick Estevam Kerr falece em SP

Com 96 anos de idade, completados em 9 de setembro, o professor aposentado do Instituto de Biotecnologia (IBTEC), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Warwick Estevam Kerr, faleceu no dia 15/9, por volta das 9 horas, em decorrência de uma parada cardíaca. Ele estava internado em um hospital de Ribeirão Preto (SP). Continue lendo...

 

 

Conheça parte da trajetória do Dr Kerr e suas contribuições como pesquisador da UFU

 

1922 – ao 9 de setembro, nasce Warwick Estevam Kerr em Santana do Parnaíba-SP;            

1945 – graduou-se como Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Exala), vinculada à Universidade de São Paulo (USP);

1946 – foi contratado como Professor Assistente no Departamento de Genética da Esalq/USP;

1948 – defendeu Tese de Doutoramento sobre a vida das abelhas nativas, sem ferrão, do gênero Melipona;

  •  Também em 1948, obteve o título de Livre Docente

1951 – obteve o Título de Pós-Doutorado na Universidade da Califórnia nos EUA;

1952 – obteve o Título de Pós-Doutorado, na Columbia University, em Nova Iorque;

1954 – (a 1958) é recontratado como professor colaborador da Esalq/USP;

1956 - introduziu as rainhas africanas (Apis Adansonii) no Brasil. Espécie mais produtivas que as europeias presentes no país;

1958 – foi para Rio Claro-SP onde criou o Curso de Biologia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de (FFCL) de Rio Claro, atual Unesp.

1961 – tornou-se o primeiro Diretor Científico da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP), dirigindo a instituição até 1964;

1963 – preside a Sociedade Brasileira de Genética até 1967;

1964 – na Faculdade de Medicina da Ribeirão Preto (FMRP) da USP, implantou o Departamento de Genética e criou o primeiro Curso de Genética em uma Faculdade de Medicina no Brasil;

1969 – assume e presidência da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), e a dirige até 1973;

1970 – criou o Curso de Pós-Graduação em Genética da FMRP e deu início à Pesquisa com Abelhas em uma Faculdade de Medicina, sendo o único sendo Engenheiro Agrônomo na equipe de pesquisadores que iniciaram o estudo que, em sua maioria, era composta por Biólogos;

1975 – assumiu a Direção do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde permanece até 1979;

1977 – torna-se membro da Comissão Internacional de Genética, atuando até 1984;

1979 – retorna à USP de Ribeirão Preto, onde se aposenta em 1981;

1981 – como Professor Visitante, vai para a Universidade Federal do Maranhão (UFM), onde cria o Curso de Biologia e, simultaneamente, atua na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), até 1988, em ambas as instituições;

1987 – a convite do Governador do Estado do Maranhão, Epitáfio Cafeteira, assumiu, o cargo de Reitor da Universidade Estadual do Maranhão;

1988 – passou a compor o corpo docente da Universidade Federal de Uberlândia, a convite da pesquisadora Drª Ana Bonetti do IBTEC, onde atua como professor Titular e Coordenador de Pós-Graduação até 1999;

1990 – é convidado a ser Membro Estrangeiro da National Academy of Sciences of the USA, sendo um dos primeiros brasileiros a ser convidado para essa Academia;

1994 – implantou o Programa de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica na UFU, iniciando o Curso de Mestrado;

1998 – na UFU, o professor Kerr, desenvolveu uma alface supervitaminada, por meio de melhoramento genético. A pesquisa cruzou as cultivares “Moreninha de Uberlândia” e  “Vitória de Santo Antão” e conseguiu uma cultivar de alface com 10.200 unidades de vitamina A.

1999 – volta a dirigir o Inpa, cargo que exerceu até 2002;

1999 – implantou o Curso de Doutorado em Genética e Bioquímica da UFU, onde permaneceu até 2012, orientando alunos de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, nas Linhas de Pesquisa: Genética da Determinação de Sexo e Castas em Abelhas sem Ferrão; Biologia e Estrutura Populacional de Abelhas; Melhoramento de Espécies Hortícolas e Frutíferas.

  • Em 1999, Dr Kerr figura entre os 30 Cientistas do Século XX, ao lado de Santos Dumont, Einstein, Sabin e Osvaldo Cruz.

2003 – o INPA instituiu a Medalha Warwick Estevam Kerr, concedida àqueles que prestam relevantes serviços à Pós-Graduação na Amazônia;

2003 – atua como professor voluntário no Instituto de Genética e Bioquímica da UFU até 2010;

2012 – a UFU instituiu o Prêmio Warwick Estevam Kerr para alunos que se destacam em pesquisa;

2016 – inaugura inaugurada a Coleção Especial Dr. Warwick Estevam Kerr na Biblioteca Setorial do Campus Umuarama da UFU, com o acervo pessoal do cientista;

2018 – falece em 17 de setembro em Ribeirão Preto, SP.

 

Dentre outras realizações, premiações e reconhecimentos por sua contribuição para a ciência, Dr Kerr foi Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade do Estado de são Paulo (UNESP); Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Professor Emérito da USP e da UFU e Pesquisador Emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Recebeu o Mérito Universitário no Grau Ouro da UFMA e os títulos de Cidadão Maranhense (1988), Rioclarense, Ribeirãopretano, Uberlandense e Ludovicense, pelas respectivas Câmaras Municipais.

Palavras-chave: Dr Kerr Ciência pesquisa UFU

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