Publicado em 24/09/2018 às 15:36 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
Experimentos são realizados nos laboratórios do Instituto de Química da UFU (Foto: Marco Cavalcanti)
Desenvolver uma tecnologia capaz de remover micropoluentes da água. Esse é o objetivo do projeto de iniciação científica da aluna Ingrid Pacheco, do curso de Engenharia Ambiental, e da professora Sheila Cristina Canobre, do Instituto de Química, da Universidade Federal de Uberlândia (IQ/UFU), denominado “Síntese de Argilas Aniônicas e sua aplicação na adsorção de contaminantes da água”.
O estudo, que começou em 2014, é realizado no Laboratório de Armazenamento de Energia e Tratamento de Efluentes (Laete). A ideia é remover contaminantes como herbicidas e fármacos, que estão presentes na água, por meio de uma argila aniônica, denominada de Hidróxido Duplo Lamelar (HDL). “Atualmente, nós do grupo de pesquisa aplicamos [a argila] para remover esses componentes da água, devido aos problemas ambientais que temos hoje. Por exemplo, com o herbicida. Temos uma alta demanda de agrotóxicos”, explica a estudante.
Passo a passo
Na primeira etapa, o material é sintetizado. Para isso, é montado um aparato experimental onde é feita uma solução com sais de cloreto de cobalto e de alumínio e com nitrato de cobalto e de alumínio. Para esse líquido se transformar em argila, é adicionada uma base de hidróxido de sódio, com o auxílio de uma bureta. Aos poucos, a argila vai ganhando forma e adquirindo um aspecto plástico.
Em seguida, é feito o processo de filtração e o material se torna rígido, semelhante à aparência de um solo seco e rachado. O próximo passo é macerar a argila até que ela se transforme em pó, para, posteriormente, ser aplicada na remoção dos contaminantes. “No início, quando utilizamos para remoção de herbicidas, conseguimos bons resultados. Foram cerca de 99,5% de remoção. A princípio foi feito de forma sintética: colocamos a água e a contaminamos com o herbicida”, conta Pacheco.
Argila aniônica é criada sinteticamente (Foto: Marco Cavalcanti)
Outro composto estudado é o diclofenaco, um fármaco utilizado pela população que não necessita de receita médica para ser comprado e, por isso, é um dos medicamentos mais encontrados em ambientes aquáticos, como águas superficiais, esgotos brutos e efluentes de Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs). “Com o diclofenaco temos encontrado bons resultados também, mas usando um outro tipo de argila. Atingimos 96% de remoção nas condições experimentais”, afirma a aluna.
Medicamento tem sido encontrado em quantidades significativas em lençóis freáticos (Foto: Marco Cavalcanti)
Os fármacos são contaminantes emergentes, ou seja, devido à sua grande utilização e descarte nos esgostos domésticos, efluentes de indústrias famacêutica e rurais, têm sido encontrado em rios e recursos hídricos, despertando preocupação ambiental. Entretanto, nas ETEs e nas Estações de Tratamento de Água (ETAs), esses contaminantes não são removidos devido a ausência de tecnologias eficientes e de baixo custo. Além disso, não há uma legislação vigente que determine um valor máximo permitido para a concentração de fármacos na água. “A gente, às vezes, está consumindo uma água que é potável em alguns parâmetros, porém, ela ainda tem alguns resíduos micropoluentes, que são esses fármacos. Acabamos consumindo uma medicação que não é para estarmos [consumindo]. Isso pode afetar nosso organismo”, explica a estudante.
A premiação
Cerimônia de premiação ocorreu na Universidade Federal do Tocantins (Imagem: arquivo pessoal)
Em julho deste ano, o estudo “Uso de argilas aniônicas para remoção do contaminante emergente diclofenaco: estudo cinético” ficou em primeiro lugar na categoria apresentação de trabalhos de pesquisa científica, no XVI Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Ambiental (Eneeamb) e IV Fórum Latino-americano de Engenharia e Sustentabilidade (Flaes).
“Foi muito gratificante. Mostra que o material das argilas é promissor na remoção de micropoluentes”, conta Pacheco. O trabalho é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pela Rede Mineira de Química (RQ-MG).
Palavras-chave: Química ambiente água tratamento
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