Publicado em 20/06/2019 às 09:26 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
Difícil não ficar hipnotizado com a cor laranja das flores do mulungu, cujo nome científico é Erythrina mulungu, árvore que normalmente floresce entre julho e setembro e que, nesse período, fica completamente desprovida de folhas. Essa planta é utilizada na medicina popular brasileira há muito tempo como um sedativo e calmante natural. Também aparecem relatos do uso no tratamento do estresse, da ansiedade e da depressão.
Atualmente, a mestranda Karina Cavallieri, orientada pelo professor e pesquisador Marcos Pivatto, do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), está concluindo um estudo que irá trazer mais informações sobre a planta e os compostos existentes na casca do tronco da árvore. O foco da pesquisa é a descoberta e o isolamento de novos compostos bioativos, ou seja, substâncias que possam ser úteis no tratamento de doenças, dentre elas, aquelas negligenciadas, como a malária.
Baseada em pesquisa bibliográfica, a pós-graduanda notou que muitas “teorias” advindas do uso do mulungu na medicina popular já foram comprovadas, como a propriedade calmante, observada nos chás das cascas, além da atividade anti-inflamatória e do efeito analgésico. Mesmo que seu uso na medicina popular seja conhecido de longa data, pesquisas como a de Cavallieri são feitas para comprovar e compreender as propriedades farmacológicas para as quais a planta é utilizada, além de descobrir novas aplicações medicinais, auxiliando diretamente a comunidade. “A ideia é que, ao final da pesquisa, nós possamos propor outros fins medicinais além daqueles já descritos na medicina tradicional, ou ainda, que compostos dessa planta possam servir de inspiração para o desenvolvimento de novos medicamentos”, ressalta.
Karina Cavallieri coleta composto para a pesquisa (Foto: Alexandre Costa)
O mulungu está incluso na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus), uma lista elaborada pelo Ministério da Saúde com base em espécies vegetais já utilizadas nos serviços de saúde estaduais e municipais, que foi baseada no conhecimento tradicional e em estudos químicos e farmacológicos. De acordo com Pivatto, “o estudo sistemático das plantas utilizadas pelo SUS é de extrema importância, uma vez que não há uniformidade na concentração dos componentes presentes na maioria das plantas vendidas nas feiras e, dependendo da época do ano, local e coleta, talvez os princípios ativos não estejam presentes. Assim, o uso de um chá teria apenas efeito placebo”.
Espécie que atrai pelo colorido é comum no cerrado (Foto: Arquivo da pesquisadora)
Para Cavallieri, a pesquisa pode trazer grandes benefícios à sociedade. A pós-graduanda ressalta a importância do incentivo dos estudos científicos: “a pesquisa é nosso trabalho, nós [pesquisadores] dedicamos dois anos das nossas vidas ou até mais no intuito de que os conhecimentos desenvolvidos tragam benefícios para a população”.
Os cientistas alertam que é preciso tomar cuidado com a premissa “se bem não fará, mal não causará”, pois, embora as plantas sejam uma alternativa importante para o tratamento das enfermidades, é necessário associar o conhecimento tradicional ao científico para se ter eficácia e segurança, dois pontos indispensáveis quando se fala em medicamentos.
Palavras-chave: mulungu Química produtos naturais Divulgação Científica
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