Publicado em 16/12/2019 às 16:33 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
Proposta submetida por Bonami à Unesco foi o Projeto Internacional de Cidadania Digital, que já era coordenado por ela na Universidade de São Paulo (USP). (Fotos: Arquivo pessoal)
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) selecionou, no mês de outubro, 12 embaixadores globais para participarem do Programa Global de Alianças em Literacias de Mídia e Informação (GAPMIL), em Paris, França. Na oportunidade, a ex-aluna do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Beatrice Bonami foi selecionada como Embaixadora da Juventude dos Países Latino-Americanos e Caribenhos.
O programa representa uma iniciativa inovadora, com o objetivo de promover a cooperação internacional para garantir que todos os cidadãos tenham acesso às competências de mídia e informação. A ideia foi lançada durante o Fórum Global para Parcerias sobre as Literacias de Mídia e Informação, que aconteceu em junho, em Abuja, Nigéria.
Para participar do projeto, Bonami e os outros concorrentes precisaram submeter um projeto com ações que poderiam ser desenvolvidas no programa. O proposta submetida pela doutoranda em Comunicação e Educação foi o Projeto Internacional de Cidadania Digital, que já era coordenado por ela na Universidade de São Paulo (USP), em parceria com outras universidades nacionais e internacionais, e que agora será desenvolvido pela Unesco nos próximos dois anos.
A seleção aconteceu segundo a avaliação desse plano de ação e contou com o parecer de pessoas contratadas pela Unesco na sede em Paris e em escritórios regionais. Bonami relata que a sua expectativa é conseguir entender em que as Literacias em Mídia e Informação (MIL) podem contribuir em projetos latino-americanos de educação, o que os principais atores estão executando como projetos correlatos e fortalecer o acesso às TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), já que alguns países peninsulares têm dificuldades técnicas via satélite.
De modo geral, o projeto atua com o objetivo de coletar dados em nível latino-americano para observar como as literacias estão sendo tratadas em nível continental; mobilizar quatro eventos anuais que discutam as literacias sobre algum tema que abra um espaço para que os propositores de projetos se conheçam e compartilhem as experiências; montar uma equipe de voluntários que auxiliem na divulgação das atividades em mídias sociais digitais, análise de dados e sintetização de materiais que sejam legíveis e de fácil apreensão para jovens e criar uma plataforma que reúna todas essas informações e seja um repositório de materiais.
O maior desafio para a pesquisadora está no fato de a América Latina ser um continente “extremamente diverso”. “[É um continente] Tão contrastante ao ponto de ser difícil executar estudos comparados entre países como Peru e Brasil, por exemplo. As estruturas políticas e sociais podem ser desafiadoras, o que demanda frameworks específicos para cada região, às vezes cada cidade”, explica Bonami. “Ainda, é um continente populoso e reunir essas iniciativas requer canais de comunicação e interação que tentaremos criar e manter. Por fim, como boa parte dos países apresentam algum tipo de crise, financiamento de projetos pode ser um desafio, principalmente quando se envolve a provisão da parte técnica e de serviços (como pesquisadores e professores)”, complementa.
Com relação à temática do projeto, a egressa da UFU revela que as pesquisas em Literacias de Mídia e Informação buscam mostrar para pessoas a importância da mídia e de outras fontes de informação, os mecanismos para seu entendimento pleno e crítico para embasar tomadas de decisões inteligentes, além de permitir que os cidadãos tenham acesso às competências e habilidades em mídia e informação.
Pesquisadora é formada em Artes Visuais pela UFU e busca aliar as habilidades adquiridas na graduação com os estudos em Comunicação e Educação
O termo tem ganhado destaque em razão do potencial de empoderamento do cidadão no século XXI. “MIL é a sigla em inglês paro o termo Media and Information Literacy, que promove um usufruto e produção da informação mais sustentável e saudável. Em uma época com tantos dados disponíveis e tantas fontes de recursos, compete à educação ensinar aos seus aprendizes e educadores como lidar com esse contexto”, defende Bonami.
A trajetória da pesquisadora teve início no curso de Artes Visuais, na UFU. A estudiosa da Comunicação contou que, no início, não se viu encaixada em nenhuma das propostas acadêmica do curso e optou por uma carreira que potencializasse a pensar criticamente os recursos visuais e capacitasse a sua expressão criativa. Desde o segundo ano da graduação, Bonami se envolveu com a educação formal e especial para pessoas com deficiência.
“Persegui meu caminho na educação com surdos até a conclusão do curso (tema do meu TCC)”, relembra a pesquisadora. “Quando fui fazer o mestrado, prestei em alguns institutos como UFRGS, Unicamp, UFSC e USP; e foi na USP que minha futura orientadora me aconselhou que uma área transdisciplinar fosse mais apropriada para estudar Educação, Comunicação, Criatividade, Arte, Informação e Tecnologias Digitais e foi assim que ingressei na área de Ciências da Comunicação”, acrescenta.
Ela relata que a migração não foi uma tarefa fácil e que “teve de vencer uma gravidade de referências e leituras que me faltavam por não ter feito Comunicação na graduação”. Apesar disso, a formação em Artes ofereceu uma visão ampla da transdisciplinaridade e um poder de visualização. “Frequentemente encontro metáforas para conceitos e produzo recursos visuais analógicos e digitais”, exemplifica. No doutorado, Bonami estuda a Comunicação e a Educação sob a perspectiva de uma possível interação entre as Transliteracias e as Tecnologias Digitais. O projeto de tese é intitulado: Arquiteturas Interativas entre Transliteracias e Tecnologias Digitais: um panorama entre Núcleos de Pesquisa e Cursos Superiores Transdisciplinares.
Quando questionada sobre a visibilidade que o projeto com a Unesco traz para a universidade, ela afirma que “a visibilidade se dá em dois níveis: a primeira pelo fato de eu ser graduada em dois diplomas pela UFU/Iarte: bacharelado em Artes Visuais e licenciatura em Educação. Isso acarreta em ter sido o começo da minha carreira profissional e no Ensino Superior. E segundo, pelo projeto Cidadania Digital estar associado à Facom (Faculdade de Comunicação) e, agora, à Unesco”, finaliza.
Palavras-chave: Comunicação e Educação Cidadania Digital artes visuais Unesco
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