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Dia do Jornalista

Comunicação que transforma realidades

Formada pela UFU, a jornalista Elainy Carmona conta sua experiência com o jornalismo comunitário

Publicado em 14/04/2020 às 10:33 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:29

Elainy: 'Fazendo a minha monografia, percebi como a comunicação comunitária auxilia na autoestima também'. (Foto: Arquivo pessoal)

Quem via Elainy Carmona apresentando seu trabalho de conclusão de curso (TCC) em 14 de dezembro de 2018, intitulado “A Produção de Sentidos sobre o Vale do Jequitinhonha pela TV Praça: um gesto de olhar para a Comunicação Comunitária”, descobria que sua história com o jornalismo não havia se iniciado quando passou pelo portão da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Na verdade, foi em 2012, ainda morando em Itaobim (MG), localizada no Vale do Jequitinhonha, que a comunicação mudou sua vida.

Mas, para começarmos essa história, é preciso contar algumas coisas sobre esta região mineira. Elainy explica que o Vale do Jequitinhonha possui uma formação histórica e cultural complexa. Ao mesmo tempo que é uma das regiões mais pobres do Brasil, tem arte e cultura bem marcantes. A jornalista sempre esteve ligada a essas artes, principalmente graças ao irmão, engajado com movimentos culturais e sociais. 

Aos 10 anos de idade, ela começou a participar do Ballet Popular Vale do Jequitinhonha, onde vivenciou mais a fundo a cultura da região. Ficou no projeto até que ele terminou. Porém, naquela mesma época, um novo trabalho teve início na cidade.

A Assessoria de Comunicação Colaborativa, criada em 2011 dentro do núcleo de comunicação do Polo do Jequitinhonha, iniciativa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), visava a incentivar a comunicação comunitária. “Eles fizeram um formato de comunicação mais longa, dividida em núcleos. Como viram que deu certo, resolveram aplicar em outros lugares. Em 2012, minha cidade, Itaobim, completava 50 anos de emancipação”, relata. E foi assim que o jornalismo apareceu no caminho de Elainy.

Tomada pelas memórias, a jornalista começa a me contar sobre esta experiência. Os critérios para a escolha dos participantes focavam em jovens de baixa renda, com engajamento cultural e social. Após a seleção, houve formações básicas sobre jornalismo e criação visual, para que definissem de qual núcleo participariam. Elainy decidiu aprender mais sobre audiovisual. “Não sei muito bem, mas eu tinha uma vontade de aprender a fotografar; era uma coisa que me atraia", justifica. 

Visita dos participantes da Assessoria para entrevistar Dona Pretinha, artesã de táboa. (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo Felipe Pena, no livro Teorias do Jornalismo (2014), “O jornalismo comunitário atende às demandas da cidadania e serve como instrumento de mobilização social. (...) O jornalista de um veículo comunitário deve enxergar com os olhos da comunidade. Mesmo que já pertença a ela, deve fazer um esforço no sentido de verificar uma real apropriação dos processos de mediação pelo grupo”. Assim, quando a equipe do núcleo aprendeu a manusear os equipamentos, passou a desenvolver uma televisão comunitária digital, a TV Praça. Para Elainy, esta ação foi traçada com o olhar dos jovens de Itaobim, mas também com o dos tutores, através de uma conversa aberta. O projeto durou de abril a novembro de 2012. 

Sobre o jornalismo enquanto profissão, Elainy não enxergava perspectivas sequer de conserguir ingressar numa boa universidade. Como Itaobim fica longe dos grandes centros, o curso superior era tido por ela como uma realidade distante. “Foi uma experiência importante, principalmente para a criação de estima; antes disso, eu não me imaginava com a possibilidade de estar em uma universidade”, revela.

Apesar disso, Elainy se preparou e, em 2015, conseguiu a aprovação para o curso de Jornalismo da UFU. Já em Uberlândia, durante os 4 anos em que esteve na universidade, não encontrou oportunidade de estudar a comunicação comunitária. Quando chegou à reta final do curso, sua proposta inicial para o TCC era falar sobre a exploração sexual infantil, mas este tema não é muito tratado e, por isso, não havia um objeto de pesquisa. Foi conversando com sua orientadora, a professora Ivanise Andrade, e a professora da disciplina de Pesquisa em Comunicação, Ana Spannenberg, que o novo tema surgiu. 

Elainy: 'Foi uma descoberta, entender de onde eu vim historicamente'. (Foto: Milton Santos)

Como queria abordar a sua terra de origem, Elainy se lembrou da TV Praça e a selecionou como objeto para pesquisar jornalismo comunitário. No TCC há a parte teórica da comunicação comunitária, mas também a contextualização da região. “Estudar a formação histórica do Vale foi importante para mim porque entendi várias coisas que cresci ouvindo”, afirma a jornalista.

Elainy ressalta que o jornalismo comunitário vai além de “ir lá e dar a voz”. “É uma possibilidade, um processo de autoentendimento, autovalorização e autoestima. Ele fomenta essa vontade de falar. Às vezes, alguns grupos minoritários e comunidades de camadas populares não entendem que podem falar também. E eu sinto que eu fazia parte disso; achava que a  minha cultura e a minha história não tinham importância”, aponta. “Nas considerações finais do meu TCC, eu escrevo que fica nítido como esse estereótipo que vem de fora ainda perpassa nas produções. É importante a gente falar para a gente. É muito importante que as pessoas escutem as vozes de quem vive, não só de quem foi lá com perguntas prontas. É a vivência mesmo”, completa.

Quando perguntada sobre o impacto dessa pesquisa na sua vida, ela aponta que houve uma mudança na forma como atualmente enxerga o jornalismo comunitário. “A Elainy antes do TCC tinha uma visão muito passional. Quando eu participava, quando era a beneficiada pela comunicação comunitária, eu via tudo como uma coisa muito legal, muito apaixonante e gostosa de fazer. Para além de entender sua identidade, a Elainy pesquisadora viu o lado técnico e teórico de tudo o que viveu na prática”, descreve.

Formada há mais de um ano, Elainy Carmona aqora planeja trabalhar profissionalmente nessa área. “Eu estava aqui vendo as produções e pensando como sou apaixonada por isso. Meu grande sonho é poder transformar realidades, como a minha foi. O projeto me mostrou que eu podia sim ser boa em algo e eu me apaixonei pela comunicação”, finaliza.

 

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