Publicado em 19/10/2020 às 14:28 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
Atividade física é uma das recomendações no controle dos fatores de riscos (foto: Milton Santos/ARQUIVO)
Em 2020, no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que serão registrados 66.280 novos casos de câncer de mama, o mais comum em mulheres. Vencer essa doença, portanto, é sinônimo de comemoração.
Mas, apesar da vitória, uma outra batalha tem que ser travada, alertam pesquisadoras da Universidade Federal de Uberlândia (UFU): o enfrentamento a fatores de riscos para doenças cardiovasculares.
Isso porque as mulheres sobreviventes ao câncer de mama apresentam maior risco de doenças cardiovasculares (DCVs) do que as da população em geral e, consequentemente, maior risco de mortalidade.
Um desses riscos provém do próprio tratamento, como é o caso das terapias com inibidores de aromatase - uma classe de medicamentos específica para mulheres na pós-menopausa que tem como objetivo evitar a recorrência (ou seja, a volta) do câncer de mama.
Conforme explica a professora Yara Maia, do curso de Nutrição da Faculdade de Medicina (Famed/UFU) e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPCSA/Famed), os inibidores de aromatase, apesar de maior eficácia em mulheres na pós-menopausa, estão associados ao maior risco de doenças vasculares, infarto do miocárdio e angina.
“Uma possível explicação é devido ao fármaco reduzir os níveis de estrógenos, sendo estes hormônios relacionados à proteção cardiovascular”, aponta Maia, que orientou a pesquisa realizada pela então mestranda Fernanda Mazzutti no PPCSA, entre 2016 e 2019.
Segundo Mazzutti, a literatura médica mostra que os tratamentos utilizados no combate ao câncer de mama são potencialmente tóxicos para o sistema cardiovascular, mas são de suma importância e não podem ser desestimulados.
“Por isso, é importante o controle de outros fatores como dieta, atividade física, composição corporal, tabagismo e consumo de álcool, para melhoria da saúde cardiovascular”, alerta a pesquisadora.
Em seu estudo, Mazzutti verificou a presença de fatores de risco cardiovasculares entre pacientes do Hospital de Clínicas da UFU que sobreviveram ao câncer de mama, sendo que parte delas ainda continua a terapia endócrina no hospital.
Foram três avaliações conduzidas ao longo de três anos: 89 mulheres na primeira avaliação; 65 na segunda, que ocorreu 12 meses após a primeira; e 38 na terceira, que ocorreu 24 meses após a primeira.
Nas três avaliações registrou-se, em média, mais de 10 fatores de risco, com as mulheres apresentando consumo da dieta inadequado tanto quantitativamente quanto qualitativamente, além de predomínio de excesso de peso, gordura abdominal e sedentarismo.
Também foi verificado, destaca Maia, que as mulheres com mais fatores de risco apresentaram maiores níveis de inflamação, que está associada tanto com eventos cardiovasculares quanto com recorrência do câncer de mama.
“Assim, sugere-se a avaliação dos fatores de risco para DCVs rotineiramente nos serviços de oncologia e condução de intervenções no estilo de vida. Ressalta-se que as orientações para alimentação saudável e atividade física são importantes para todas as mulheres, mas devem ser individualizadas para atender necessidades específicas”, diz a docente.
A pesquisa também teve colaboração dos doutorandos Isis Custódio e Mariana Lima e da nutricionista Kamila Carvalho, todas do PPCSA, e parceria com os pesquisadores Taísa Pereira (University of the Américas Puebla), Maria del Carmen Molina (Universidade Federal do Espírito Santo), Paula Lajolo (HC/UFU) e Carlos Paiva (Hospital de Amor/Barretos).
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Palavras-chave: Câncer de mama pesquisa Doenças cardiovasculares Outubro Rosa Ciência Divulgação Científica
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