O protagonismo da ciência geográfica nos estudos de erosão por voçorocamento

Voçoroca na Fazenda do Glória, em Uberlândia (MG). (Foto: Banco de dados do Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos)

As voçorocas são feições estabelecidas no relevo tanto pela ação humana quanto pelos processos naturais de esculturação. Os impactos acarretados pelo estabelecimento dessas formas na paisagem imprimem prejuízos ambientais, econômicos e sociais, visto que os problemas relacionados à erosão são influentes tanto nos locais onde os solos são erodidos, tendo a sua fertilidade natural e a área de terrenos utilizáveis comprometidas, quanto em áreas afastadas, que sofrem a influência do assoreamento e de inundações em espaços urbanas. 

As áreas atingidas por voçorocas praticamente são inviáveis para a utilização agrícola, pecuária ou qualquer estrutura urbana. Nas cidades, essas feições muitas vezes se tornam depósitos de lixo doméstico ou industrial, agravando ainda mais a degradação dos solos e a contaminação do lençol freático

A perda de valorização dos imóveis rurais, a redução de água no solo, o comprometimento de estradas e do escoamento dos produtos agropecuários são exemplos da grandeza dos danos decorrentes dos processos erosivos.

Considerando essa problemática, várias áreas do conhecimento têm ganhado expressividade nos estudos voltados para a compreensão da geodinâmica terrestre. O entendimento da gênese e evolução das voçorocas juntamente com as diferentes técnicas de monitoramento e mitigação de impactos têm facilitado a interpretação da paisagem frente às respostas geomorfológicas de uso da terra.

É nesse contexto que a Geografia se mostra indispensável na compreensão da dicotômica relação entre a sociedade e a natureza. O papel do geógrafo na proposição de soluções, de diagnóstico ambiental e controle de riscos geomorfológicos assume destaque, especialmente pelo caráter integrador inerente à essa ciência. 

De acordo com as informações disponibilizadas no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na última década, a ciência geográfica participou com 47,2% das publicações, com ênfase em voçorocas, desenvolvidas nos programas de pós-graduação (gráfico baixo).

Distribuição das teses e dissertações por programa de pós-graduação. Fonte: Plataforma Capes (Organizado pela autora, 2020)

O conjunto dos trabalhos avaliados ratifica que os estudos direcionados para a erosão dos solos demanda conhecimento técnico atrelado ao entendimento das novas formas de produção e reprodução do espaço geográfico, e que nessa conjuntura a ciência geográfica tem marcado presença com trabalhos significativos. Abordam desde as diferentes técnicas de mapeamento de áreas de risco, estudos de vulnerabilidade ambiental, gênese e cronologia dos processos erosivos até a proposição de medidas de reabilitação de áreas degradadas.

E, nessa perspectiva, ao considerar a temática dos processos erosivos, é fundamental a participação da academia na divulgação das metodologias e técnicas desenvolvidas para a mitigação dos impactos gerados, uma vez que o assoreamento, o empobrecimento dos solos juntamente com a desvalorização da propriedade rural são elementos interferentes no equilíbrio ambiental, na economia local e consequentemente no ordenamento do território. 

Nós do Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos desenvolvemos estudos nesse campo do saber e em vários outros relacionados a dinâmica do relevo. Será um prazer recebê-los e apresentarmos nossas pesquisas a vocês.

Voçoroca na Fazenda do Glória, em Uberlândia (MG). (Foto: Banco de dados do Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos)

*Juliana Sousa Pereira é professora na rede estadual de Ensino de Minas Gerais, aluna do curso de Doutorado da Geografia e desenvolve sua pesquisa no Laboratório de Geomorfologia e Erosão dos Solos (Lages/UFU).

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