Publicado em 11/12/2020 às 14:03 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Mineo: ‘Toda vez que uma vacina é liberada pelos respectivos órgãos regulatórios de um país, podemos ter certeza que ela é segura. (Foto: Marco Cavalcanti)
As consequências da pandemia de uma doença causada por um vírus de fácil infecção todos estão conhecendo. Ela atinge a todos, em diversos aspectos. Atualmente, a principal esperança para minimizar os efeitos da Covid-19 está em imunizar o maior número de pessoas.
Mas fazer com que a população fique imunizada contra o novo coronavírus parece ser tão (ou mais) difícil quanto criar uma vacina. Os obstáculos não são poucos. Para falar sobre a importância, a segurança e as reações físicas (e políticas) causadas pelas vacinas, o Comunica UFU ouviu um dos principais pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
José Roberto Mineo, professor de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas, lembra que a vacina é uma questão de cidadania: “É esta consciência que confere um processo de proteção não somente para aquela pessoa vacinada, mas também para todas as pessoas”.
Se o senhor fosse explicar o que é uma vacina para que toda a população entendesse, como explicaria?
Explicaria que as vacinas e o ato de vacinar constituem um dos maiores patrimônios que a humanidade tem conseguido obter, a partir da observação dos milhões de pessoas que têm sido salvas.
Em que tipos de doenças as vacinas são eficazes? Quais vacinas existem? São muitas?
Há vários tipos de vacinas já consagradas como eficazes para proteger as pessoas contra doenças infecciosas, provocadas principalmente por vírus e bactérias. O Brasil tem um Programa Nacional de Imunização que é um dos mais eficientes do mundo e que tem sido copiado por vários países. Cabe salientar que a aplicação dessas vacinas para todas as pessoas é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde do Ministério da Saúde (SUS-MS), o que garante gratuitamente a necessária cobertura vacinal para as várias faixas etárias da população.
É sabido que tanto os idosos como os recém-nascidos pertencem às faixas etárias que merecem uma especial atenção, por estarem em situações especiais do desenvolvimento do sistema imunológico. Levando isso em consideração, é o que irá propiciar a nossa defesa contra infecções. As gestantes também pertencem a um grupo de pessoas que precisam ser vacinadas, mas com aquelas vacinas que irão proteger tanto a elas como aos bebês que elas estão gerando. Assim, basta nós olharmos na nossa caderneta de vacinação que o calendário explica direitinho quais vacinas devem ser tomadas, desde crianças ao nascer até 9 anos, assim como adolescentes, adultos, idosos e gestantes. Podemos, então, constatar que há em torno de duas dezenas de tipos de vacinas que necessitamos tomar ao longo de toda a nossa vida.
As vacinas são seguras? O que elas podem causar de ruim no organismo?
Toda vez em que uma vacina é liberada pelos respectivos órgãos regulatórios de um país, como a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], no Brasil, podemos ter certeza que ela é segura, uma vez que, se ocorrer algum efeito ruim no organismo, ele é mínimo e já observado durante as diversas fases em que aquela vacina foi analisada. Já estão fartamente conhecidos pela população quais poderiam ser esses efeitos adversos mínimos, como uma dor no local da aplicação e febre, por exemplo. Esses efeitos são indicativos de que a vacina está sendo efetivamente reconhecida pelo nosso sistema imunológico que está sendo ativado naquele momento em resposta ao estímulo recebido.
Lamentavelmente, há centenas e centenas de informações nas redes sociais, de autoria de pessoas inescrupulosas que prestam um verdadeiro desserviço para as pessoas e para toda a humanidade. Essas pessoas são as protagonistas dos movimento anti-vacina, hoje infelizmente difundido no mundo inteiro.
Qual a importância da vacinação?
Ter consciência da importância da vacinação é uma questão de cidadania, porque é essa consciência que confere um processo de proteção não somente para aquela pessoa vacinada, mas também para todas as pessoas, sobretudo para aquelas infecções que se disseminam facilmente pelo ar. Essa é uma questão de saúde coletiva em que todos nós devemos fazer a nossa parte.
Qual sua opinião sobre a segurança das principais vacinas que estão sendo criadas para combater a Covid-19?
Por ser um vírus que só nesses últimos 12 meses foi documentado ser causador de infecção entre os seres humanos, a melhor conduta nesse momento deve ser de cautela, mesmo considerando-se os resultados até agora obtidos nos estudos das vacinas contra o SARS-CoV-2. Apesar desses estudos já se encontrarem em fases avançadas, ocasião em que os resultados da Fase III já começam a ser desvendados, não são conhecidos, por exemplo, os resultados finais em termos de eficácia e segurança. Todas essas novas vacinas não foram ainda testadas em crianças e gestantes, por exemplo.
A boa notícia é que, para os grupos populacionais mais vulneráveis, como os profissionais da área da saúde e os idosos, a vacinação em massa já iniciou nessa segunda semana de dezembro. Mesmo assim, será necessário de agora em diante estarmos atentos para a fase da chamada farmacovigilância, no sentido de se verificar se algum provável efeito adverso possa surgir, diferente daqueles já observados na Fase II, os quais são mínimos, quando se compara com os efeitos benéficos que as vacinas estão demonstrando.
Muitas pessoas são receosas em relação às vacinas ou até mesmo contrárias. O que o senhor recomendaria a essas pessoas em relação a uma provável campanha de imunização contra a Covid-19?
A essas pessoas que estão receosas quanto à eficácia e segurança das vacinas contra a Covid-19 que forem autorizadas pelas agências regulatórias nacional e internacionais, por estarem sendo influenciadas por pessoas que fervorosamente são contrárias a todo tipo de vacina, recomendo lerem as notas técnicas e os relatórios produzidos pela Organização Mundial da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil e instituições equivalentes dos outros países. É esse tipo material de leitura que pode ser recomendado, por estar fundamentado em dados científicos, que na sua essência devem ser imparciais e o mais esclarecedores possível, sem nenhum viés político-ideológico.
Na sua opinião, que consequências podem ter os desencontros atuais sobre a vacina contra a Covid-19 entre governantes brasileiros?
É muito preocupante o que tem sido repetidamente veiculado na imprensa e mídias sociais, esse tipo de batalha por protagonismo político que os governantes brasileiros têm empreendido, somente tendo como finalidade uma influência eleitoral. Esquecem esses governantes que, sem termos controlado adequadamente a primeira onda de infecção por esse vírus, por desencontros e negacionismos múltiplos, já estamos em plena segunda onda, estando o Brasil hoje sendo classificado novamente como o epicentro mundial da pandemia.
A nossa única esperança é que, à medida que a vacinação em massa, já iniciada no Reino Unido e que já começa também a ser realizada em outros países, produza os efeitos que todos nós estamos esperando, diminuindo os números de mortes e de novos casos de infecção, será nesse momento que os governantes brasileiros deverão deixar de lado os desencontros atuais e pensar no número de vidas que poderão ser salvas por atitudes responsáveis.
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Palavras-chave: Entrevista vacina segurança Imunização COVID-19 UFUContraOCorona
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