Publicado em 11/03/2021 às 12:07 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Foto: Pixabay/ Arte: Viviane Aiko
A participação feminina no mercado tem aumentado nos últimos anos. Algumas alunas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) buscam conciliar os estudos com o empreendedorismo e incrementar a renda econômica ou até mesmo garantir o próprio sustento, por exemplo, a partir da venda de produtos.
A estudante Talita Araújo, do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, observava e auxiliava o pai, marceneiro autônomo, a planejar e reformar mobílias. Essa ajuda despretensiosa despertou na jovem a admiração pelo ramo. Após ingressar no curso na UFU, percebeu que sua participação poderia virar trabalho. E virou. Ela soube que estava pronta para os negócios, em 2019, quando fez sozinha um orçamento para um cliente e obteve o lucro que considera certo: nenhum desperdício e feedback positivo.
Além de trazer inovação para a arte de montar móveis, ela começou a cuidar da gestão. Com o aprendizado da universidade, Araújo aplica o conhecimento na fabricação das peças e no planejamento de interiores, como o design de uma sala de estar. A jovem mudou a realidade do estabelecimento: "Há 2 anos conseguimos o status positivo da empresa, a contratação de funcionários novos e agora batalhamos para crescer com qualidade’’, afirma.
Um dos motivos que despertou em Araújo o interesse pelo ramo da marcenaria foi a necessidade de ter estabilidade financeira para a família. (Foto: Design e Marcenaria Miwjo)
A professora Márcia Freire de Oliveira, do curso de Administração da Faculdade de Gestão e Negócios (Fagen/UFU), pesquisa empreendedorismo. Em um dos seus estudos sobre pequenas empresas familiares de Uberlândia, ela afirma que existem emoções quando a atuação é passada de pai para filho. Trata-se da transferência de um projeto de família, no qual o herdeiro aceita a sucessão.
De acordo com a pesquisadora, a motivação de continuar o negócio vai além dos interesses financeiros. O sentimento de acolhimento faz a pessoa se identificar com a empresa e as sensações do pai são suscitadas no filho no momento em que as experiências são repassadas. A família distribui afeto, e os membros mais novos tendem a praticar valores que aprenderam com os mais velhos.
A empresa familiar que Araújo administra contribui para a economia local através da geração de emprego e pagamento de impostos. Além disso, traz novas ideias para o mercado, satisfazendo as necessidades dos consumidores.
Empreendedorismo feminino
A professora Oliveira entende que as mulheres têm certa tendência ao conduzir um negócio. Uma das características marcantes é a melhor percepção para definir seus objetivos do que os homens. "O estilo de gestão que as mulheres possuem é impactado por questões relacionadas ao universo feminino, levando-as a valorizar as interações com os colaboradores e estimular a cooperação e integração entre eles’’, explica.
De acordo com a pesquisa sobre empreendedorismo feminino em Uberlândia, produzida por Graciele Dezidério, formanda no curso de Administração, as maiores qualidades das mulheres no mundo dos negócios envolvem liderança acolhedora, tomada decisiva de iniciativas e a observação de detalhes.
“As mulheres são mais resilientes, pois precisam encarar adversidades para conquistar seu espaço no empreendedorismo, superando os contratempos dos negócios com mais paciência e perseverança”, comenta Dezidério.
E determinação é o que Atielly Ramos teve para sair da depressão e começar a vender cosméticos. A estudante de Engenharia Química na UFU investe em seu empreendimento. Além dos produtos, ela oferece às clientes consultoria de maquiagem para quem busca adquirir experiência e orienta mulheres que desejam entrar para o mesmo ramo. "Deixo minha mão estendida para ensinar e ajudar em tudo que precisarem para começar o próprio negócio", revela Ramos.
Ramos explica a rotina de cuidados com a pele e os benefícios de cada produto. (Foto: arquivo pessoal)
O empreendedorismo é marcado pela atuação de um perfil produtivo e inovador. Ao satisfazer as necessidades das pessoas, elas podem estabelecer um vínculo de fidelidade. Para se destacar entre a concorrência, é importante que a administradora crie uma identidade para si ou para a marca, construindo uma relação próxima com o cliente.
“As mulheres vêm se destacando como líderes por conta da alta qualificação, competência e comprometimento com o trabalho. Isso acontece por conta dos desafios que elas enfrentam ao longo da vida”, explica Dezidério.
O diferencial da loja virtual de acessórios e maquiagem de Giovanna Amaro, aluna de Fisioterapia na UFU, é o conjunto de tiara e brinco de glitter. As cores e o brilho atraem a atenção do usuário assim que ele acessa o catálogo. Mas a estudante também se preocupa com a diversidade de produtos, como hidratantes e semijoias para que as clientes tenham mais opções de consumo.
Amaro decidiu criar a loja para ocupar seu tempo livre e para complementar a renda familiar. (Foto: arquivo pessoal)
Dificuldades
A luta feminina no ambiente empreendedor teve um visível avanço. Entretanto, existem obstáculos e desafios que dificultam um desenvolvimento ainda maior. Segundo a professora Oliveira, a mulher precisa acreditar que é capaz de empreender, apesar das questões machistas que estão ao seu redor, como a desvalorização moral.
A necessidade financeira e o desejo de realização pessoal são os principais motivos que levam mulheres a empreender. Em sua pesquisa, Dezidério afirma que elas tendem a investir seu próprio dinheiro para começar seu negócio, pois a tentativa de buscar o capital de fora, como de investidores e bancos, pode ser recusada por problemas na concessão de crédito e discriminação quanto à lucratividade que o empreendimento pode ter.
Há lutas a serem vencidas na particularidade de cada mulher que decide começar um negócio. A gestora da marcenaria, Araújo, destaca o desafio de demonstrar a eficiência de seu serviço em um ramo ligado a referências masculinas.
Além disso, o horário das aulas nos cursos integrais, como Arquitetura e Urbanismo, dificulta o rendimento no trabalho, que também exige carga horária entre os turnos. Araújo ficou sobrecarregada de atividades na empresa e nos estudos. Por isso, decidiu interromper, temporariamente, o vínculo com a universidade. Quando conseguiu se organizar, a estudante retomou sua participação nas aulas. “Voltei para os estudos com uma visão de vida, curso e emprego mais madura para os negócios”, explica.
Entre os maiores obstáculos, o medo de falhar e desperdiçar investimentos assombram as empresárias. Amaro ressalta a importância de pensar sobre a escolha de produtos para atrair as clientes e evitar prejuízos.
A vendedora Ramos concluiu cursos de maquiagem para poder ministrar a consultoria que oferece, mas confessa ser tímida: "no meu caso, a maior dificuldade é iniciar a conversa com as pessoas", revela.
Estratégias e superação
As mulheres sofrem com disparidades em relação ao homem no mercado de trabalho. Para começar a resolver esse problema, a sociedade e empresas devem oferecer apoio às empreendedoras desde o início. De acordo com a estudante Maria Almeida, do curso de Zootecnia na UFU, a família e os amigos desempenham um papel importante de incentivo."Minha família oferece suporte e credibilidade’’, revela Almeida, afirmando não ter problemas com autoconfiança e o motivo é o suporte de quem está por perto. Mas não basta só o apoio. Nos negócios, a pessoa deve se dedicar e oferecer serviço de qualidade.
Conhecer os limites e calcular riscos de investimentos são dois dos fatores mais conhecidos que auxiliam as empresárias a tomarem decisões sábias. Dezidério revela uma estratégia pouco conhecida, que envolve o autoconhecimento: “Saiba o que você faz de melhor e de pior. Embora pareça contraditório, isso nos liberta da necessidade de sermos perfeccionistas”.Outra dica de sucesso que a formanda em Administração apresenta é refletir se é possível contar, com tranquilidade, sobre a decisão tomada para os funcionários da empresa ou para os filhos e familiares. Se a resposta é sim, provavelmente o que foi decidido respeitou os seus valores morais que a empresária defende.
A internet é uma ferramenta poderosa para o empreendedorismo. Para alcançar a visita digital de mais internautas, Araújo faz questão de publicar nas redes sociais todos os trabalhos produzidos, além de seu portfólio. Isso ajuda a manter a identidade da empresa e mostrar o seu comprometimento com o design e a qualidade dos móveis.
"Em primeiro lugar, apaixone-se pelo que você deseja empreender, pois vai passar muitas noites em branco trabalhando e por momentos difíceis. Mas enquanto você amar o que faz, não vai desistir de entregar o seu melhor. Em segundo lugar, aprenda o máximo possível. Não existe sucesso sem sede de conhecimento. Em terceiro lugar, acredite no que você faz!" - Talita Araújo
Ramos destaca a importância de orientar as clientes sobre como usar a mercadoria. Assim, o interesse em adquiri-los aumenta. Nas redes sociais, ela explica os benefícios de cada creme, além de ensinar traços, contornos e tons de maquiagem. A estudante faz vídeos para se aproximar das mulheres, apresentando o catálogo e as vantagens de cada produto.
“Meu conselho é simplesmente começar. Esse é o passo mais difícil, o mais amedrontador e com certeza o que prova sua coragem. Mas não existe recompensa maior do que a liberdade de trabalhar no próprio ritmo, respeitando seus momentos e necessidades.” - Atielly Ramos
Amaro ressalta que o planejamento é essencial. Tomar escolhas com sabedoria e calcular os riscos é um passo para acertar no lucro.
"Dê cada passo com segurança, mas se arrisque. Busque sua independência, corra atrás do seu sonho. Considere os erros como algo importante. Através deles, você pode pensar em formas diferentes e melhores para levar seu negócio adiante. Mas se nada der certo: não se desespere, com certeza todo o aprendizado será válido e útil em algum momento da sua vida!" - Giovanna Amaro
Com várias demandas que desafiam as empreendedoras, elas buscam alcançar um equilíbrio entre as questões pessoais, familiares e relativas ao trabalho. De acordo com Dezidério, elas persistem e são assertivas ao lidarem com problemas relativos ao financiamento de seus negócios, à competição, à busca de autonomia, bem como os referentes à discriminação de gênero. Por meio do empreendedorismo feminino, essas mulheres encontram uma forma de se sustentar e fazer a diferença em suas famílias, além de conquistarem seu espaço no mercado de trabalho e na sociedade.
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