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Cultura Popular

Professores da UFU participam do júri técnico do Carnaval de São Paulo 2023

Pela sexta vez seguida, docentes do curso de Música e Dança representam a Universidade Federal de Uberlândia no corpo de jurados dos desfiles das escolas de samba da capital paulista

Publicado em 23/02/2023 às 11:48 - Atualizado em 22/08/2023 às 17:04

Técnica, alegria, atenção, respeito e muita solidariedade são requisitos necessários para julgar escolas de samba, além de muito profissionalismo. E disso, Eduardo Fraga Tullio e Jarbas Siqueira Ramos entendem muito bem. Professores do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (Iarte/UFU), Tullio ministra as disciplinas de Percussão, Percussão Complementar e Bateria, enquanto Siqueira ministra disciplinas que envolvem os estudos sobre memória, cultura, tradição, interculturalismo, identidade, voz, musicalidade e improvisação. Ambos os docentes foram selecionados consecutivamente, desde 2017, para participar da comissão julgadora do desfile das escolas de samba do carnaval de São Paulo (SP).

 

Desde 2006, Eduardo Fraga Tullio é professor efetivo do curso de Música da UFU. (Foto: Arquivo pessoal)

 

E a história de Tullio com o carnaval é antiga; uma paixão que surgiu com seu talento e dedicação para o instrumento bateria, quando iniciou seus estudos nas alas das baterias de escola de samba. Aluno de Odilon Costa, também foi monitor do grande mestre de bateria. “Eu sempre gostei dessa época do ano e das baterias de escola de samba. Fui jurado no carnaval de São Paulo, mas nunca tinha trabalhado com ele. Só tinha tocado no carnaval uma vez, em Rio Quente. Eu usava o carnaval para descansar, mas aí começaram a chegar os convites para os trabalhos como jurado. É um trabalho extra, conceituado e de responsabilidade, além de ser da minha área; é uma coisa que eu gosto. Então, faço com muito prazer”, conta.

O professor do curso de Música explica que iniciou há seis anos sua participação como julgador nas manifestações carnavalescas. Um ano antes, a Liga das Escolas de Samba de São Paulo contratou uma empresa para convocar uma nova equipe de jurados. Foi assim que, a partir do ano de 2017, cerca de 50 novos jurados foram convidados, incluindo Tullio. O docente da UFU passava a assumir esta grande responsabilidade em um dos maiores carnavais brasileiros.

 

Comissão julgadora do Carnaval São Paulo 2023. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Tullio aponta que muitos professores universitários de áreas específicas - como música, dança e artes visuais - foram chamados. Desse modo, a procura foi por jurados que já tivessem excelência na área. O professor, que também já foi jurado de carnaval em Uberlândia, comenta que no início foi convocado para ser jurado do grupo especial. “A gente fez todo um treinamento para conhecer e aprender o jeito de preencher a cédula de julgador. Eu já acompanho o carnaval e já desfilei na bateria da Estácio de Sá, já trabalhei como auxiliar do mestre Odilon, dando oficinas no Festival de Curitiba. Enfim, eu já tinha ligação com as baterias de escola de samba e sabia como seria, mas ser jurado em um carnaval tão grande foi um aprendizado novo”, aponta o professor.

 

 Arquivo pessoal

Desde 2017, Eduardo Tullio participa de comissões avaliadoras do carnaval paulistano. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Questionado sobre a rotina de trabalho nos desfiles, ele conta que os jurados são divididos por quesitos, sendo eles: Harmonia; Bateria; Enredo; Alegoria; Evolução; Samba-Enredo; Comissão de Frente; Mestre-Sala e Porta-Bandeira; e Fantasia. Neste ano foi a primeira vez em que Tullio atuou como jurado especial do grupo de recuo. Mesmo com toda alegria vivenciada, confessa que enfrentou alguns desafios. “Eu fiquei no [setor do] recuo. A bateria vem na frente da escola e fica ali, tocando no recuo, por cerca de 20 a 25 minutos, enquanto os carros alegóricos vão passando. O jurado tem que ficar com um gravador na mão. Eu nunca tinha ficado nessa torre. Agora posso dizer que já passei por todas as torres. As torres dos jurados ficam separadas em diversas posições. A chance da bateria ter erros nesta torre é muito grande, por causa do tempo mais longo em que os músicos ficam tocando ali. Precisamos estar com o gravador digital na mão para que, se houver algum erro ou retirada de pontos, possamos apresentar a gravação [que prova o(s) motivo(s) de desconto(s) na pontuação]. É até um pouco tenso”, revela.

 

 Arquivo pessoal

 

E engana-se quem pensa que a tarefa é simples e não exige concentração. “As baterias do grupo especial são muito boas e já estão muito ensaiadas. Parece que é fácil dar [nota] 10 para todos, mas a gente só pode tirar pontos se a bateria errar, e eles não erravam. Então, não é fácil tirar pontos. Estamos ali para conferir se há algum erro e para avaliar a qualidade artística da bateria. Quem vê muito '10' na apuração precisa saber que há itens no manual do julgador: entrosamento, afinação, equilíbrio musical e performance. A gente tem que dar ou tirar pontos por esses itens. Então, é uma responsabilidade muito grande porque você é específico da área e percebe se há erros ou não na bateria. Eles estão muito ensaiados e dificilmente erram”, detalha o docente da UFU.

 

Apuração das notas teve transmissão ao vivo, pela TV Globo. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Ao contrário do que ocorre nos desfiles do Rio de Janeiro, em São Paulo os nomes dos jurados não são definidos e divulgados antecipadamente. Portanto, Eduardo Tullio foi sorteado como um dos quatro titulares do quesito bateria. O outro jurado ficou como reserva. Ficam os sentimentos de gratidão e de dever cumprido, conforme ele mesmo sintetiza: "Como sou professor da UFU, que é uma universidade renomada e super conceituada, é uma responsabilidade grande representá-la neste evento. Tenho que fazer um serviço muito bem feito, também por conta dessa responsabilidade [de carregar o nome da instituição]. Este ano teve o diferencial de poder participar da última torre de avaliação que faltava para completar sua trajetória. Assim, representei não somente a mim próprio, mas o curso de Música e os demais da Universidade Federal de Uberlândia voltados à arte."

 

'Amor antigo'

Professor do curso de Dança e atual diretor do Iarte, Jarbas Siqueira Ramos também tem uma ligação muito forte com o carnaval. Vindo de uma pequena cidade no Norte de Minas Gerais, conta que, durante muitos anos, houve um desfile de escolas de samba que era muito importante para aquela região. Assim, começou a paixão do docente pela arte carnavalesca. "Esse imaginário esteve presente na minha memória desde sempre. Cresci admirando o trabalho desenvolvido por escolas de samba. Em 2006, tive a oportunidade de ser diretor artístico de um grupo de jovens que participava como bloco carnavalesco da cidade de Grão Mogol, também no Norte de Minas, o que posso entender como um trabalho de carnavalesco. Em 2008, fui jurado no carnaval das escolas de samba de Esmeraldas, na Região Central de Minas Gerais. Como minha pesquisa envolve o estudo sobre as congadas mineiras, a relação com as culturas negras, como é o caso do carnaval, sempre esteve presente, mesmo no período anterior à minha presença no desfile das escolas de samba de São Paulo", conta.

 

Jarbas Siqueira Ramos é professor adjunto da UFU, desde 2013, e também acumula seis participações consecutivas como jurado do carnaval de São Paulo. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Ramos afirma que ser chamado mais uma vez para ser membro do juri do carnaval de São Paulo foi uma grande honra, tendo em vista que foi pego de surpresa com o convite inicial, em 2017. "Ao ser convidado para fazer parte do corpo de jurados, primeiro achei que era um trote ou algo do tipo, pois não imaginaria que um dia receberia um convite como esse. Depois, constatando que era verdade, me senti feliz e honrado, pois sentia que era uma oportunidade de conhecer mais de perto essa manifestação tão importante para a cultura brasileira", relata.

Ele se sente lisongeado por ser um dos representantes da UFU em um evento como o carnaval de São Paulo. "[Ter esta participação no desfile das escolas de samba de São Paulo] é uma honra. Também é um desafio, pois precisamos estar sempre atentos para realizar o trabalho de forma idônea e correta, respeitando todas as escolas de samba", aponta.

O diretor do Iarte considera que "estar em uma torre num patamar de jurado é uma tarefa que exige muito comprometimento e atenção". Ele também já trabalhou em diferentes torres, as de número 4 e 8. "Elas ficam distribuídas ao longo da avenida, iniciando-se na torre 2 e indo até a torre 10; ficam dispostas dos dois lados da pista e os jurados de cada quesito ficam espalhados. Como a televisão mostra apenas o ponto central da avenida, na altura das torres 4 e 5, muitas vezes as pessoas não entendem que alguma falha cometida antes ou depois dessas torres são avaliadas pelos jurados que estão nas demais torres. No quesito 'Mestre-Sala e Porta-Bandeira', hoje os julgadores ficam dispostos nas torres de número 3, 4, 7 e 8", revela.

Na avaliação de Ramos, a cada ano que passa, as escolas mostram um trabalho cada vez mais profissional. "Nosso trabalho, como jurados, é avaliar se elas cumpriram com os pontos de avaliação presentes no Manual do Julgador. Apesar de muitas pessoas não compreenderem como funcionam as avaliações, como é o trabalho do jurado, é sempre uma honra fazer parte dessa equipe; é gratificante poder colaborar para que essa grandiosa festa cresça ainda mais a cada ano", ressalta. Além disso, prossegue ele, não há brechas para rivalidades nessa festa que promove a diversão: "Não há espaço para interpretação se a escola 'A' esteve melhor que a 'B'. Avalia-se apenas se os pontos foram cumpridos e, no caso de alguma falha, é que pode haver uma penalidade prevista nesse manual."  

 

(Foto: Arquivo pessoal)

 

Além de Eduardo Tullio e Jarbas Siqueira, outros membros da comunidade acadêmica da UFU também já participaram de outros carnavais em São Paulo como jugadores, sendo eles: Maurício Orosco, professor do curso de Música; Ana Carolina Mundim, professora do curso de Dança; Aline Rosa Macedo, ex-aluna do curso de Teatro e do Mestrado em Artes; e Emiliano Freitas, que foi aluno do curso de Arquitetura e do Mestrado em Artes, além de ser cenógrafo da UFU. 

 

*matéria atualizada em 01º/03/2023, às 19h, com acréscimo de informações.

 

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Palavras-chave: carnaval docentes IARTE UFU música dança jurados desfile escolas de samba São Paulo

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