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Leia Cientistas

Nem tudo que parece ser dengue é dengue

Pesquisa mostra que pacientes suspeitos de estarem com a doença tiveram infecções por leptospirose

Publicado em 09/10/2024 às 11:10 - Atualizado em 22/10/2024 às 12:13

A leptospirose é transmitida por animais que vivem próximos aos seres humanos, sendo os roedores os principais transmissores. (Foto: arquivo dos pesquisadores)

O vírus da dengue é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti e metade da população mundial vive em países endêmicos para esta virose. Os sinais e sintomas da doença podem ser leves e inespecíficos, com duração de 3 a 7 dias, sendo a febre de início abrupto o principal sinal, associada à dor de cabeça, fraqueza, dor no corpo, dor nas articulações e dor atrás dos olhos. A doença pode evoluir para a fase crítica e mais grave. Em regiões endêmicas para a dengue, há uma tendência em se pensar nessa doença como provável diagnóstico, já que ela ocorre em grande frequência, subestimando-se a ocorrência de outras doenças febris agudas, como a leptospirose. 

A leptospirose é uma doença infecciosa febril de início abrupto, causada pela bactéria Leptospira sp. A leptospirose apresenta quadro clínico variando desde sintomatologias leves e/ou inaparentes até formas mais graves. É transmitida por animais sinantrópicos (que vivem próximos aos seres humanos), sendo os roedores os principais transmissores. Estes animais podem manter as leptospiras nos rins e passam a liberá-las na urina para o meio ambiente, contaminando água, solo e alimentos. 

O homem pode adquirir leptospirose por contato direto com um animal infectado ou por contato indireto com o meio ambiente, como solo e água contaminada, especialmente com a urina de animais infectados, onde as leptospiras penetram em mucosas e na pele. Após um período de incubação de 5 a 14 dias, em média, podem começar a aparecer sintomas como febre, dor de cabeça e no corpo, cansaço, náuseas e vômitos. A doença pode evoluir para a fase tardia com manifestações graves. Devido à semelhança dos sintomas na fase inicial da doença, a leptospirose é difícil de ser diferenciada de outras doenças febris agudas como a dengue. A falta da suspeita oportuna para leptospirose pode acarretar o tratamento com antibióticos tardio, e consequente piora no prognóstico do paciente, podendo levar à morte.

O correto diagnóstico dessas doenças representa um verdadeiro desafio para profissionais de saúde. Há uma tendência para a busca do diagnóstico de doenças endêmicas mais frequentes na região e outras de menor incidência deixam de ser pesquisadas, podendo assim, ocorrer subnotificações daquelas menos frequentes, ocasionando prejuízos ao sistema de vigilância em saúde.

Nossa pesquisa analisou pacientes que foram notificados como suspeitos de dengue e encaminhados para coleta de material biológico para análise laboratorial. Analisamos 449 amostras de soro de pacientes que apresentavam resultados negativos para dengue, no ano de 2019, com os sintomas clínicos de febre, dor de cabeça, dor no corpo e náuseas. Foi utilizado o teste rápido para triagem qualitativa de anticorpos IgM específicos para leptospira (Dual Path Platform - DPP Leptospirose - Fiocruz), e para os reativos foi realizada análise de aglutinação microscópica (Microscopic agglutination test - MAT). Das amostras analisadas com o DPP Leptospirose, 26 foram reativas (5,79%). No MAT, nove amostras (17,31%) foram reagentes, sendo que seis também apresentaram reatividade no DPP Leptospirose. 

Os resultados encontrados neste estudo demonstraram reatividade para leptospiras em pacientes que eram suspeitos de dengue, mas que apresentaram diagnóstico laboratorial negativo para essa arbovirose endêmica na região. 

Tais achados chamam a atenção para subnotificação de doenças febris agudas de menor incidência como a leptospirose na referida área e alerta para a necessidade de um diagnóstico sindrômico que inclua essas doenças menos frequentes.

A pesquisa na íntegra pode ser acessada no link Under-Reporting of Human Leptospirosis Cases in Cities of Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brazil (mdpi.com).

 

Mariani Borges Franco - Discente no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina/UFU. 

Lara Reis Gomes - Servidora/pesquisadora no Laboratório de Doenças Infectocontagiosas da Faculdade de Medicina Veterinária/UFU. 

Cristina Rostkwoska - Discente no Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas/UFU.

Ana Cláudia Arantes Marquez Pajuaba - Médica veterinária / Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas/UFU. 

José Roberto Mineo - Docente do Instituto de Ciências Biomédicas / Laboratório de Imunoparasitologia/UFU.

Anna Monteiro Correia Lima -.Docente / Laboratório de Doenças Infectocontagiosas da Faculdade de Medicina Veterinária/UFU. 

Stefan Vilges de Oliveira - Docente no Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina/UFU. 

 

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Palavras-chave: leptospirose roedores dengue diagnóstico Saúde pública

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