Publicado em 03/12/2024 às 13:29 - Atualizado em 04/12/2024 às 17:24
Quem passou pela praça localizada entre os blocos 3Q e 5S do Campus Santa Mônica neste fim de semestre letivo certamente notou uma estrutura tridimensional feita com algumas linhas amarelas ligando o topo dos dois prédios pelas janelas. Trata-se da instalação “Alinhavo em Ponto Alto”, criada por estudantes do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (Iarte/UFU).
A intervenção artística faz parte do projeto de extensão “Communi Ficta”, coordenado pelo professor Douglas de Paula, e contou com a participação dos alunos da disciplina Projeto Interdisciplinar 4. No curso de Artes Visuais, esse componente curricular pretende estimular processos de criação, pesquisas e produção de conhecimentos, individuais e/ou coletivos, em acordo com as múltiplas possibilidades espacial, temporal e social de intervenção e criação artística em interlocução com o público como prática educativa e de extensão.
Os alunos trabalharam coletivamente para criar uma obra que conseguisse evidenciar a apropriação do espaço cotidiano entre os dois blocos de aulas. “Primeiro veio a ideia de conectar esses espaços, depois a escolha dos materiais e técnicas. Ligamos os blocos, pelo alto, com fios náuticos, fazendo quatro alinhavos, que podem ser mexidos pelos lados de dentro dos blocos, reconfigurando a altura das linhas no espaço aéreo entre eles. As linhas podem deslizar, funcionar como um visualizador do vento, em termos eólicos”, explica o professor.
“A gente está muito assolado pela lógica da propriedade privada mesmo no espaço público. Aqui, estamos dentro da universidade, mas poderia ser em outros espaços da cidade. Nas praças, por exemplo, parece que não pode, incomoda. Existe uma espécie de censura quanto à apropriação do espaço público. Essa instalação mostra que é possível se apropriar desses espaços e construir afeto”, reflete De Paula.
Segundo o professor, o trabalho se fundamenta nas práticas de artistas que marcaram a história do país com a intervenção nos espaços urbanos. “A gente vem na esteira da arte participativa brasileira, com Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, artistas que viveram nas décadas de 1960 e 1970, enfrentaram a ditadura, propondo essa integração com o público para abrir a mente e ir às ruas”, conta.
Acadêmicos de Aracne
Ao longo do semestre, os estudantes realizaram diversos trabalhos, experimentando formas de se apropriarem do espaço com materiais do cotidiano, como “a linha, a superfície, a estrutura, o desenho, a colagem e o próprio corpo”, cita De Paula. Neste trabalho final, a linha foi a protagonista, especificamente o fio náutico, que é mais resistente e flexível.
O uso mais frequente da linha inspirou o professor a apelidar a turma como "Acadêmicos de Aracne". Douglas de Paula explica o conceito em um texto publicado no instagram do Grupo de Pesquisa Vivência, Estética e Mídias (Vesmídia): “Aracne foi, na mitologia grega, a mortal que desafiou a deusa Atena na arte da tecitura e, como punição, foi por ela transformada em aranha. Sonoramente, o nome evoca ainda o termo ’araque’, que possui o significado de falso ou embusteiro, termos que, muitas vezes, são dirigidos aos campos das artes e aos artistas, sobretudo na academia de modo geral, que, até hoje, em muitas instâncias, têm dificuldades de entendimento acerca das especificidades das artes e suas dimensões científicas.”
“Alinhavo em Ponto Alto” foi instalada ao final do semestre e permanece no local por tempo indefinido. Em novembro, ainda em período de aulas, a turma convidou o público para uma atividade de extensão com o objetivo de estimular a participação lúdica. Na ocasião, surgiram brincadeiras com o movimento, com o corpo e com luvas de fios para vestir, criando formas de comunicação por meio das linhas. Para o grupo, a apropriação desse espaço entre os blocos transforma a praça em mais do que um lugar de passagem: um espaço lúdico.
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Palavras-chave: Artes Visuais instalação arte extensão cultura IARTE
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