Publicado em 06/12/2024 às 16:56 - Atualizado em 10/12/2024 às 16:54
Recursos Energéticos Distribuídos (REDs) são tecnologias de geração e armazenamento de energia elétrica que descentralizam e favorecem a gestão do consumo. Boa parte desses recursos está localizada nas unidades consumidoras, como residências e instituições que utilizam energia solar, baterias, veículos elétricos, produção local de combustíveis, redes elétricas inteligentes e formas de autoprodução de energia, por meio de resíduos ou ainda fontes hidráulica, eólica ou fotovoltaica. Em crescente expansão no mercado, esses recursos circunscrevem-se às áreas assumidas por concessionárias de distribuição, como as companhias responsáveis pelo comércio de energia, reguladas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Empresas desse setor, como Energisa, Norven, Calden, Light, UCB Power e Bree, e entidades reguladoras, como a Aneel e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), participaram das palestras e sessões plenárias da 1ª Conferência Brasileira de Recursos Energéticos Distribuídos (CBRED). O evento foi organizado em sua primeira edição pelo Laboratório de Distribuição de Energia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia (Ladee/UFU), entre 2 e 4 de dezembro de 2024.
Na abertura do evento, estiveram presentes: o representante da Aneel, Renato Eduardo Farias de Souza; o reitor da UFU, Valder Steffen Junior; o diretor da Faculdade de Engenharia Elétrica (Feelt/UFU), Sérgio Ferreira de Paula Silva; e o professor José Rubens Macedo Junior, coordenador geral da CBRED.
Transição energética, modelos tarifários e armazenamento
“A geração distribuída dos recursos energéticos sempre tem uma fonte renovável”, explicou Macedo Junior, ao destacar que, por isso, a conferência impulsiona o debate ecológico sobre a transição energética. O evento desdobrou o assunto, abordando os impactos das REDs nos sistemas de distribuição de energia elétrica, a necessidade de revisão dos modelos tarifários em decorrência das mudanças no setor e as estratégias de armazenamento de energia.
O especialista em regulação da Aneel, Renato Souza, abriu as sessões plenárias com empresas do setor. “As REDs colocam um novo cenário para os serviços de transmissão e distribuição da energia elétrica, pois a distribuição se descentraliza, com foco no consumidor e na busca por eficiência energética”, ressaltou.
A questão se complexifica quando se consideram os desafios de cada concessionária. Para o superintendente de regulação de distribuição da empresa Light, Felipe Tenório, “não dá para fazer regulação engessada. Se olharmos para o país todo, entre São Paulo e Manaus, não dá para falar que é a mesma questão. A tecnologia não vai chegar com a mesma velocidade, os impactos serão outros, os recursos são diferentes. A Light tem desafios no Rio (de Janeiro) que não existem na Copel no Paraná e vice-versa”.
Atualmente, a Light é a concessionária responsável pela distribuição de energia elétrica em diversos municípios no Rio de Janeiro, localidades consideradas altamente desafiadoras neste ramo devido às implicações climáticas e políticas. Diante dos diferentes cenários, Tenório defendeu, na conferência, que as legislações precisam prever “uma flexibilidade operativa”.
Um dos pontos críticos apontados pelos representantes das empresas presentes no evento foi a necessidade de adequação da estrutura tarifária ao novo cenário trazido pela geração distribuída no Brasil. A principal preocupação é que o crescimento de subsídios para as REDs acaba por onerar e reduzir o mercado das distribuidoras, de modo que se torna necessário pensar modelos de negócios que permitam a articulação entre esses novos recursos e a estrutura de redes elétricas que atende os consumidores.
A gerente de pré-vendas na UCB Power, Sílvia Sousa Resende, é mestranda na Feelt/UFU e palestrou no evento, abordando benefícios do armazenamento de energia nos sistemas de distribuição de energia elétrica. “O que tem mais viabilidade são os sistemas isolados. Na zona rural, por exemplo, o armazenamento ajuda a levar energia onde a concessionária não chega”, pontuou.
O Brasil e o cenário mundial
Os eventos climáticos que têm assolado cidades brasileiras, como chuvas intensas que acabam deixando milhares de pessoas sem acesso à energia elétrica, constituem um dos desafios que, para os especialistas presentes na conferência, podem ser enfrentados por meio de recursos energéticos distribuídos.
Tenório, da Light, apresentou exemplos como o sistema existente na Flórida, nos Estados Unidos, capaz de prever períodos de interrupção e prazos para restabelecimento dos serviços com até 5% de variação, por meio de planejamento adequado. “O desenvolvimento de recursos energéticos distribuídos dialoga muito com a questão da resiliência. Caso um lugar seja afetado, outro bairro pode continuar fornecendo energia distribuída a partir de seu armazenamento”, detalhou.
Macedo Silva avalia que “o Brasil ainda está engatinhando em relação ao resto do mundo. Mas a gente tá caminhando a passos largos, ainda com muita coisa a ser feita na direção de uma transição energética plena. Eu diria que estamos falando de uma década ou mais para consolidar essa realidade, mas é incontornável, ela vai acontecer. Então, quanto mais cedo a gente estiver preparado para isso, menos drástico e mais fácil vai ser esse caminho nos próximos anos”.
Pesquisa científica
Durante o evento, que privilegiou a sinergia público-privada na busca de soluções, também foram apresentados 40 artigos científicos de pesquisadores vinculados a universidades, empresas e entidades atuantes em todas as regiões brasileiras.
As sessões técnicas foram agrupadas a partir dos seguintes eixos temáticos: energias renováveis e geração distribuída; microrredes, usinas virtuais e agregação de recursos; sistemas de armazenamento e veículos elétricos; integração de sistemas fotovoltaicos e inversores; qualidade da energia elétrica e desempenho de sistemas; planejamento, operação e proteção de sistemas elétricos no âmbito dos REDs.
Ao trazer avanços técnicos sobre recursos energéticos distribuídos, a conferência terminou apontando para a necessidade do debate político na sociedade. “Essa conferência vem tratar desses novos recursos enquanto geração como fontes de energia limpa e seus desafios, impactos e soluções. É um desafio conectar esses sistemas nas redes elétricas. É preciso entender que não é a pessoa, não é a empresa, que demanda esse tipo de geração. É o planeta. Quando são colocadas dificuldades para fazer inserção desse tipo de energia limpa na rede, isso é um problema que precisa ser resolvido pela sociedade”, finalizou Macedo Junior.
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Palavras-chave: CBRED Engenharia Elétrica Recursos energéticos distribuídos geração distribuída Conferência Evento Feelt
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