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Leia Cientistas

Da pesquisa acadêmica à inovação voltada para o mercado

Fruto de doutorado na UFU, startup de saúde digital utiliza tecnologias avançadas na reabilitação de pacientes

Publicado em 17/12/2024 às 08:09 - Atualizado em 17/12/2024 às 14:05

Pesquisa teve como foco o uso de jogos sérios como ferramenta para reabilitação de pacientes pós-AVC. (Imagem: Freepik)

No dia 4 de novembro de 2024, um marco importante aconteceu na minha trajetória profissional. Foi assinado um Contrato de Licenciamento de Tecnologia entre a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa e a Reabnet Tecnologia Ltda., envolvendo dois programas de computador registrados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), frutos da pesquisa que iniciou durante meu doutorado. Ao lado de amigos e sócios (Andressa Rastrelo, Camille Alves, Felipe Martins e tantos outros que também contribuíram), tivemos a oportunidade de transformar uma pesquisa acadêmica em uma solução prática que pode impactar a vida de muitas pessoas. Hoje, sou um dos fundadores e CEO da Reabnet Tecnologia Ltda., a startup que vai explorar comercialmente essas inovações.

A Reabnet Tecnologia é uma startup de saúde digital que utiliza tecnologias avançadas, como realidade virtual, inteligência artificial e jogos sérios, para transformar a reabilitação em uma experiência dinâmica, acessível e eficaz. E tudo isso iniciou-se durante meu doutorado, sob a orientação do professor Eduardo Naves.

Minha pesquisa foi focada no uso de jogos sérios como ferramenta para reabilitação de pacientes pós-AVC, já em estágio crônico. Para ter qualidade de vida e funcionalidade adequada, esses pacientes precisam estar em constante processo de recuperação, ou seja, precisam fazer fisioterapia para o resto da vida. Entretanto, com a fisioterapia convencional, os ganhos terapêuticos para essa população são muito sutis, o que acaba sendo desanimador a longo prazo.

Nesse sentido, a proposta de utilizar jogos sérios foi uma estratégia promissora que mostrou resultados contundentes, pois os voluntários melhoraram em todos os parâmetros mensurados durante a pesquisa. Com certeza, essa experiência foi um alicerce importante para a criação de um produto que pudesse ser utilizado na prática, levando benefícios para pacientes que estavam desacreditados dos tratamentos tradicionais.

Após o doutorado, continuei a aprofundar meus conhecimentos sobre jogos sérios e, no pós-doutorado, sob orientação dos professores Adriano Andrade e Yann Morere, tive o prazer de trabalhar com mais pesquisadores brilhantes e desenvolver mais tecnologia inovadora. Nesse período, desenvolvemos o RehaBEElitation, que já não era apenas um jogo sério para reabilitação, mas todo um sistema composto por sensores, softwares inovadores para análise de sinais da doença de Parkinson e que também oferecia reabilitação. O sistema também foi registrado no INPI, está em processo de licenciamento e será colocado em breve no mercado, para impactar mais vidas.

Com a finalização do pós-doutorado, estava pronta para o próximo desafio, e o professor Eduardo Lázaro Martins Naves foi fundamental nesse processo. Ele sempre acreditou no potencial do projeto e, mais do que isso, incentivou a levar essa pesquisa para fora da academia, para que pudesse realmente fazer a diferença na vida das pessoas. E assim o fez, ele escreveu um projeto que foi aprovado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa e garantiu o investimento inicial que permitiu transformar nossa pesquisa acadêmica em um produto viável. Esse investimento foi o ponto de partida para que um grupo de pesquisadores se tornasse também empresários, fundando a Reabnet Tecnologia.

No entanto, esse processo de levar um projeto acadêmico para o mercado, não é fácil, é preciso ter apoio financeiro, emocional e muita resiliência. Mas, por outro lado, é extremamente gratificante ver que a semente plantada no doutorado está começando a dar frutos e que o trabalho que estamos conseguindo desenvolver hoje, dentro da Reabnet, está se tornando um exemplo de como a inovação pode ser levada ao mercado para beneficiar a sociedade.

A UFU foi essencial nesse processo, proporcionando o ambiente acadêmico e o suporte necessário para que projetos como o meu pudessem florescer. Para mim, essa experiência é uma prova de que a pesquisa acadêmica não precisa ser limitada ao ambiente universitário. Ela pode, sim, ser transformada em soluções práticas e impactantes para a sociedade. Eu, particularmente, devo toda minha formação acadêmica a essa universidade que tanto me orgulha. E nós, da Reabnet, pretendemos seguir fazendo parcerias com a universidade e contribuir com projetos de extensão, na formação de estudantes e na produção de tecnologia.

Se você quiser saber mais sobre a Reabnet e conhecer melhor nosso trabalho, acesse nosso site https://reabnet.com/home/. Nossa missão é unir ciência e tecnologia para expandir o acesso a serviços de reabilitação e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Sou grata por fazer parte dessa transformação. 

 

*Isabela Marques é mestre e doutora em ciências pela Faculdade de Engenharia Elétrica da UFU Universidade Federal de Uberlândia, com ênfase em engenharia de reabilitação. Concluiu três pós-doutorados, sendo dois na área de Engenharia Biomédica, na UFU e outro em Engenharia de Automação pela Université de Lorraine, França. Trabalha há mais de 10 anos com desenvolvimento de dispositivos médicos, protocolos de avaliação objetiva e jogos sérios com realidade virtual para auxílio de pessoas com distúrbios neurológicos, voltados para aplicação na prática clínica.

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

 


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