Publicado em 20/02/2025 às 09:44 - Atualizado em 21/02/2025 às 09:01
O Estatuto da Juventude (Lei Federal nº 12.852/2013) define como jovem uma pessoa que tenha entre 15 e 29 anos de idade. Logo, hoje esse grupo corresponde, em boa parte, ao que chamamos de Geração Z – pessoas que tenham nascido entre 1995 e 2010, que também são aquelas que chamamos de nativos digitais. Em uma pesquisa realizada pela Open Society Foundations (OSF) com essa faixa-etária, notou-se que eles também são o grupo com menos fé num sistema político baseado na democracia. Pensando nos dois casos, a pergunta que fica é: será que as redes sociais on-line têm algum impacto na percepção que esse público tem sobre a democracia e nas manifestações polarizadas em que eles se envolvem? E até que ponto?
Essa é a questão norteadora da pesquisa “Youth, Affectuve Polarization and Trust: a transnational perspective” que conta com a participação da docente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Incis/UFU), Mariana Cortês. O trabalho visa explorar em que medida o envolvimento dos jovens nas redes sociais com manifestações on-line de polarização partidária influencia os seus níveis de confiança social e institucional. O estudo é feito com jovens do sul global, mais especificamente Brasil, Índia e África do Sul e populações diaspóricas desses países no Reino Unido.
Entre os dias 29 e 31 de janeiro, os grupos envolvidos na pesquisa se reuniram no Instituto de Estudos de Desenvolvimento (IDS) da Universidade de Sussex, no Reino Unido. Participaram equipes de pesquisadores dos quatro países envolvidos, além do IDS: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), do Brasil, do qual a Mariana Cortês faz parte; Universidade de Witswatersrand, da África do Sul; e Policy and Development Advisory Group (PDAG), da Índia. Todos esses grupos são co-líderes do projeto e foram convidados pelo IDS por serem importantes na área de estudos de polarização política em países estratégicos do Sul Global.
De acordo com a professora Mariana Côrtes, a parceria entre os centros de pesquisa envolvidos acontece por meio de reuniões on-line mensais e outras presenciais, como o workshop realizado no mês passado, em Sussex. “O workshop foi extremamente produtivo para o desenvolvimento do projeto. [...] Durante os três dias de trabalho produziu-se um esforço coletivo de brainstorming para a definição das ferramentas teórico-metodológicas que são utilizadas na realização do projeto”, afirma Côrtes.
A pesquisadora também comenta que o encontro serviu para discutir qual seria o aparato conceitual a ser utilizado na pesquisa. “[Discutiu-se qual seria] o conceito de polarização afetiva, bem como variáveis relevantes nos processos de polarização, a saber as tensões em torno de questões de classe, casta, gênero, escolaridade, e religião nos três países, com o foco no que há de comum entre eles, mas, também, o que os distingue. Para além da discussão do aparato conceitual, debateu-se intensamente também os métodos a serem utilizados no projeto: os Grupos Focais; o LLM (Large Language Model); e o Mini-Públicos”, conclui a cientista.
O grupo pretende usar os resultados obtidos na pesquisa para descobrir pontos de entrada para a despolarização partidária política. “Hoje, a polarização política é um dos principais desafios para a constituição da democracia em países centrais do capitalismo e nas três das maiores democracias do Sul Global: Brasil, Índia e África do Sul. A compreensão dos mecanismos pelos quais os jovens nesses países - e nas populações diaspóricas do Reino Unido - se polarizam pode contribuir para criar ferramentas de despolarização importantes, como as experiências de democracia deliberativa”, comenta Mariana Côrtes.
Para isso, no Brasil, na África do Sul e na Índia, os estudos se concentrarão na compreensão das dinâmicas de polarização, confiança e comportamentos entre os jovens urbanos. Já no Reino Unido, o projeto trabalhará com jovens da diáspora dos três países, analisando o seu envolvimento nas redes sociais com debates polarizados nos seus países de origem. O estudo é interdisciplinar e combinará pesquisas qualitativas e participativa para captar vozes de jovens com análise de mídias sociais que acontecem o debate polarizado on-line em grande escala.
As conclusões preliminares informarão a concepção de MiniPúblicos deliberativos, seguidas por outra etapa de investigação qualitativa, que explorará se é possível envolver os jovens de forma que reduzam os debates polarizados e aumentem a confiança social e institucional.
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Palavras-chave: internacionalização política geração z
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