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PESQUISA

Dom Benedito de Ulhôa frente a Ditadura Militar

Livro analisa atuação de arcebispo da Diocese de Uberaba no período militar

Por: Aléxia Vilela
Publicado em 09/04/2025 às 08:01 - Atualizado em 15/04/2025 às 13:45

A obra busca resgatar o papel da Igreja Católica na defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil (Foto: Acervo Pessoal - Amanda Oliveira)

Uma dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia (PGHI/UFU) resultou no lançamento de um livro que investiga a atuação do arcebispo católico Dom Benedito de Ulhôa Vieira durante a Ditadura Militar no Brasil. A pesquisadora Amanda Oliveira explorou, em seu estudo, o papel da Igreja Católica na região do Triângulo Mineiro ao longo de um dos períodos mais repressivos da história. Como desdobramento da pesquisa, nasceu o livro “Dom Benedito de Ulhôa Vieira: uma trajetória de Esperança”.

O estudo teve como ponto de partida um trabalho de pesquisa realizado por Oliveira enquanto atuava como coordenadora da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Uberaba. “Quando eu estava pesquisando artigos e notícias relacionadas [a Dom Benedito de Ulhôa], encontrei o jornal ‘O Compasso’, um informativo que ele criou. O meu olhar foi querer trabalhar o discurso dele a partir desses escritos”, relembra. 

Embora outros líderes religiosos costumam ser mais lembrados quando se trata da relação entre a Igreja Católica e a ditadura militar no Brasil, destaca a pesquisadora da UFU, Dom Benedito de Ulhôa foi escolhido como o ponto principal da pesquisa por sua representatividade regional. Oliveira investigou a fundo a atuação do arcebispo, figura de relevância especialmente no Triângulo Mineiro, durante os anos de repressão.

 

Entre a história e a pesquisa

A historiadora Amanda Oliveira inicia seu estudo, “Dom Benedito de Ulhôa Vieira e o combate da Ditadura Militar: uma compreensão a partir de suas práticas e trajetória”, investigando o envolvimento da Igreja Católica com o regime ditatorial. Antes de focar no arcebispo de Uberaba, ela relembra que, nos primeiros anos, a instituição religiosa foi favorável ao golpe de 1964. “A Igreja inicialmente apoiou, não tem como fugir dessa realidade”, afirma. A partir disso, a pesquisadora buscou compreender como esse apoio se transformou em oposição diante do que acontecia no país. 

“Em primeiro momento, fiz o levantamento da bibliografia em relação à ditadura – um tema consolidado na historiografia brasileira –, a ação da Igreja e os documentos da igreja de Uberaba”, explica Oliveira. Por meio da relação com outras personalidades, Oliveira identificou como foi a atuação de Dom Benedito na época. “Eu quis trazer contrapontos, com Dom Lucas Moreira, que conviveu com o Dom Benedito em São Paulo, um bispo mais conservador, que tentava não se envolver tanto com política. E trouxe, ainda, Dom Angélico, que estava atuando nas greves do ABC”, expõe.

Dom Benedito e Papa João Paulo II
Dom Benedito de Ulhôa Vieira foi arcebispo da Diocese de Uberaba entre os anos 1978 e 1996 (Foto: Acervo Pessoal - Amanda Oliveira)

A escolha de focar no arcebispo de Uberaba faz parte de uma abordagem conhecida como micro-história, na qual a pesquisadora se aprofundou e se debruçou ao longo do estudo. Diante dos registros, Oliveira voltou-se especialmente para as práticas e discursos de Dom Benedito no contexto político da época. “Ele tinha uma preocupação sobre a questão dos direitos humanos, a questão da fome e da moradia. [Ele] denunciava o trabalho escravo na região do Triângulo Mineiro, quando visitava as paróquias, principalmente em cidades menores”, afirma Oliveira.

O estudo oferece uma abordagem regional da história da ditadura militar no Brasil, promovendo visibilidade a acontecimentos em regiões distantes dos grandes centros políticos da época. A pesquisadora investigou, a partir de documentos, jornais e posicionamentos públicos, uma forma de resistência que se deu por vias diferentes do confronto direto com o regime.

 

Da universidade à estante

Transformar a dissertação em livro foi a forma que a historiadora Amanda Oliveira encontrou para dar visibilidade à trajetória de Dom Benedito. “A minha grande preocupação era, acho que como qualquer pesquisador, do material que a gente pesquisa [ficar apenas] no repositório”, conta. Durante a finalização do mestrado, ela decidiu se inscrever em um edital da Lei Paulo Gustavo, voltado ao incentivo à cultura, pensando em ampliar o estudo além da universidade.

O livro registra a história de Dom Benedito desde sua infância até os anos em que exercia seu ministério como arcebispo da Diocese de Uberaba. Durante o período à frente da instituição, o religioso se destacou pela liderança e o alcance de grandes ações para os fiéis da região.

Amanda Oliveira com seu livro
O lançamento do livro aconteceu em fevereiro de 2025 (Foto: Acervo Pessoal - Amanda Oliveira)

Durante o período do mestrado no PGHI/UFU, Oliveira destaca o papel fundamental da orientação que recebeu, sob supervisão do Prof. Dr. Deivy Carneiro. Ela ressalta ter encontrado confiança para desenvolver seu projeto com profundidade e autonomia. “Tive o privilégio de ser bolsista e [ter tido] um orientador que esteve ao meu lado que me deu a liberdade para trabalhar”, recorda. Mais do que o produto final, o livro representa para a pesquisadora o esforço coletivo de seu trabalho com objetivo de preservar a memória na região.

 

 

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Palavras-chave: Histórica PPGHI Ditadura Militar Dom Benedito de Ulhôa

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