Publicado em 13/06/2025 às 10:14 - Atualizado em 16/06/2025 às 16:58
Ao longo da minha trajetória acadêmica, pude viver experiências incríveis enquanto futuro educador, moldando minha perspectiva e a forma como compreendo o ensino e o papel da escola na vida dos estudantes. Minha pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é fruto dessa caminhada, um processo de amadurecimento profissional e pessoal que me levou a olhar para as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) não apenas como uma distração para os estudantes, mas como forte aliada no ensino, em especial no de Ciências e Biologia.
Minha proposta de pesquisa surgiu do desejo de aproximar o processo de ensino-aprendizagem do cotidiano e da realidade vivida pelos alunos. Hoje, as tecnologias digitais estão totalmente inseridas na rotina dos estudantes, mas muitas vezes são vistas pelos educadores como distrações ou ameaças à aprendizagem. Essa visão, no entanto, desconsidera o potencial dessas ferramentas em tornar o ensino mais dinâmico, acessível e conectado ao mundo atual. Foi com base nessa inquietação que construí minha pesquisa: analisar, de forma crítica e reflexiva, as contribuições e os desafios do uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem, especialmente no contexto das Ciências e da Biologia.
Inspirado por autores como Rosa Maria Bueno Fischer, procurei valorizar a escrita sensível, que considera o lugar do pesquisador e suas vivências. Minha metodologia foi baseada em práticas desenvolvidas em uma escola localizada a cerca de 40 km da cidade de Ituiutaba, onde a maioria dos estudantes são moradores da zona rural. A pesquisa foi desenvolvida a partir de um projeto de extensão interdisciplinar. O projeto foi essencial para observar, na prática, como as TICs podem transformar o modo como se ensinam temas complexos. Na ocasião, foram abordados conteúdos relacionados à Fisiologia Humana, como o funcionamento do cérebro, a memória e os sentimentos.
Para a pesquisa do TCC, desenvolvemos uma sala multimídia, com diversos momentos de interação e aprendizagem. No primeiro momento, recepcionamos os alunos e pedimos para que se sentassem no chão, em formato de círculo. Assim, fizemos uma breve introdução sobre o conteúdo que eles veriam nas estações presentes na sala. O tema abordado era o sistema de recompensa e as conexões cerebrais responsáveis por esse mecanismo, bem como sua íntima relação com as memórias.
Inicialmente, explicamos aos alunos como esse sistema é ativado e qual é a reação do nosso cérebro diante de diversos estímulos do cotidiano, incluindo os estímulos rápidos fornecidos pelos celulares e pelas redes sociais. Além disso, falamos sobre os vídeos curtos e a razão pela qual sentimos vontade de assisti-los repetidamente, um fenômeno que tem ganhado significativa repercussão no universo jovem.
Enquanto os alunos assistiam à explicação, visualizavam atrás de nós imagens das áreas cerebrais ativadas pelos estímulos que estávamos abordando. Posteriormente, os alunos foram direcionados para as Estações de Aprendizagem, onde havia celulares fixados em mesas. Em cada celular, os alunos acessavam uma produção relacionada ao mesmo conteúdo, mas em diferentes formatos, contemplando os estilos de aprendizagem visual, auditivo e cenestésico. No primeiro celular, havia um fone de ouvido pelo qual escutavam um podcast de aproximadamente dois minutos; no segundo, assistiam a um vídeo curto, extraído de um aplicativo bastante conhecido entre os jovens; no terceiro, visualizavam imagens com o conteúdo em formato escrito, acompanhadas de diversos estímulos visuais.
Após o término das atividades nas estações de aprendizagem, propusemos uma pequena competição entre os alunos, utilizando a dinâmica dos QR Codes. Nessa etapa, os alunos eram divididos em pequenos grupos, e cada grupo escolhia um participante para ler o código fixado na parede com a câmera do seu smartphone. Em cada QR Code havia um enigma relacionado ao conteúdo que eles aprenderam dentro da sala multimídia. A turma que resolvesse mais enigmas corretamente no tempo estipulado ganharia um brinde pela participação.
Essas atividades não só despertaram o interesse dos alunos, como também tornaram o conteúdo mais próximo de suas vivências. A integração das mídias digitais permitiu que os estudantes se sentissem protagonistas do seu processo de aprendizagem. Por outro lado, também percebi obstáculos reais dentro do espaço escolar, como: a falta de preparo de alguns professores para utilizar essas ferramentas, a escassez de infraestrutura tecnológica nas escolas públicas e o medo de que as tecnologias venham a substituir o professor. Esses desafios, no entanto, reforçam ainda mais a necessidade de uma formação docente continuada e comprometida com os tempos atuais.
Concluir esse trabalho foi mais do que cumprir uma exigência curricular, foi reafirmar minha crença na educação como prática transformadora. Aprendi que não basta inserir tecnologia por inserir: é preciso planejar e conectar cada recurso a uma proposta pedagógica que faça sentido para os alunos. E quando isso acontece, o conhecimento deixa de ser algo distante e abstrato. Sendo assim, pude concluir que as TICs, quando usadas de forma consciente e crítica não representam um retrocesso, mas sim um avanço significativo na educação, cabendo a nós, educadores, assumir o papel de mediadores desse processo, enfrentando os desafios e construindo pontes entre o mundo escolar e o mundo digital em que a atual geração já está imersa.
*Paulo Eduardo Azevedo Silva é estudante do 7º período do Curso de Ciências Biológicas, do Campus Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
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