Publicado em 24/07/2025 às 15:46 - Atualizado em 06/08/2025 às 16:23
Um grupo de três estudantes representará a primeira delegação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) no próximo Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (ENEI), que será realizado entre os dias 5 e 8 de agosto em Manaus (AM). Os discentes que estarão nessa viagem são Gabriel de Souza Fernandes Silva, de nome indígena Kuarasy Tupinambá Yberaba; Isaac Pereira Silva, de nome indígena Kaluanã Tupinambá Yberaba; e Isabora Bastida, de nome indígena Omoklekle Kariri. As pesquisas desenvolvidas abordam a realidade e luta dos povos indígenas do Triângulo Mineiro.
“O ENEI é um evento bastante extenso de atividades. Há desde apresentações de trabalhos acadêmicos até meses de debate sobre os rumos dos estudantes e da educação escolar indígena no Brasil, além de manifestações ressaltando que os estudantes estão aqui. Ele é esse grande encontro da diversidade étnica para demarcar a ciência da nossa tradição, do que nós somos por inteiro”, aponta Kuarasy.
A primeira apresentação programada será de Kaluanã, com “Memórias dos Indígenas não-Aldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, na Sala Rio Içá, na tarde do dia 06/08. No dia seguinte, também no período da tarde, Omoklekle apresentará “Entre a terra e a capital: a cultura caipira e a ameaça do agronegócio”, e Kuarasy mostrará “Taba Suí Yberaba: da Cacique Poty aos Povos Yberaba”. Ambas serão realizadas no auditório principal do evento.
“Para nós, isso é dizer que estamos estudando e dentro das instituições. Queremos nossos direitos políticos, e vamos reivindicá-los. Não somos menos indígenas por estar dentro da UFU, do Triângulo Mineiro, ou de Minas Gerais, e vamos estar representando nossa região e nossa aldeia. É levar nosso nome, nossa representatividade, nosso coletivismo e nossa história para esse lugar tão distante”, declara Omoklekle.
Kaluanã apresentará sua monografia do curso de Ciências Sociais, intitulada “Memórias dos Indígenas não-Aldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”. Ela é uma narrativa da história da Aldeia Tupinambá Yberaba, com início no Movimento dos Indígenas Não-Aldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MInA), fundado pela Cacique Poty Guarany com objetivo de retomar a luta dos povos indígenas da região para acesso aos seus direitos e sua terra, resultando no território conquistado em 2011.
Porém, quando a Cacique Poty ficou doente e faleceu em 2017, mais de 90% da terra foi roubada. Além da história, ele trará uma narrativa dos acontecimentos, quem eram as pessoas que estavam ali, e os antepassados dessa luta pelo aldeamento.
Kuarasy apresentará uma exposição fotográfica intitulada “Taba Suí Yberaba: da Cacique Poty aos Povos Yberaba”, trazendo arquivos históricos, com fotos datadas de 2004, e fotos atuais, tiradas nos anos recentes. O conjunto terá 17 fotos e um texto de explicação, além da curadoria e uma capa autoral, feita com colagens. O trabalho também inclui uma minibiografia das Caciques Poty e Kawany, além de outras pessoas da aldeia e as transformações dos povos indígenas, incluindo o apagamento da cultura e a perda de território que os Tupinambá Yberaba enfrentam.
“Quando se debate a questão dos povos indígenas, as pessoas pensam que somos selvagens e atrasados. Pelo fato de eu usar um colar de sementes ou de estar em mais contato com o mato, eu sou o ‘bicho’, eu estou ‘atrasado’, não posso ter celular nem nada. Essa exposição vem provocar que, nesses 525 anos de história, passamos e sofremos por transformações também, seja no sentido linguístico, cultural, ou uma adequação às condições que vivemos, e também o apagamento de nossa cultura”, explicita.
Ir ao ENEI é importante para demarcar o espaço dos estudantes indígenas na UFU e Uberlândia, de acordo com Kuarasy. “Existe nossa história aqui, estamos levando para fora e queremos condições para que estejamos em mais eventos, porque esse saber do meu povo também é ciência. A ciência não é eurocentrada, e um espaço como o ENEI é onde diversos povos do Brasil inteiro apresentam essa ciência plural, pluriepistêmica. É um espaço onde não precisamos apresentar um trabalho nas normas da ABNT, e sim com a metodologia do meu povo, da minha tradição, da minha cultura”, destaca.
Omoklekle apresentará o trabalho “Entre a terra e a capital: a cultura caipira e a ameaça do agronegócio”, onde conta a respeito de onde vêm as raízes e a formação do povo caipiras, o resultado dessa interação deles com os povos nativos da região, e se o povo caipira possui raízes portuguesas, italianas e/ou indígenas em sua cultura e costumes, como alimentação, religião, música e espiritualidade. Outro aspecto que o trabalho aborda é a forte ligação dessa população com o campo, mesmo com a presença capitalista.
A palavra ‘caipira’ vem do Tupi antigo, que traduzido vulgarmente para os dias atuais, seria relativo a uma pessoa que ‘mora no mato’, de acordo com Omoklekle. “Meu trabalho é voltado para essa temática, porque fui criada dessa forma. Quando tive contato com pessoas não-indígenas e não-interioranas, elas não me tratavam como branca, e na minha cidade não temos muito dessa distinção de ‘branco’ e ‘preto’. Temos uma denominação de ‘morador de roça’ e ‘morador da cidade’, ‘caipira’ ou ‘civilizado’”, completa.
Ela também destaca a importância do evento: “Para nós, ir ao ENEI é muito importante. Na nossa região, o apagamento que as pessoas indígenas sofrem em Minas Gerais é muito pesado, especialmente dentro do Triângulo Mineiro. Era impensável para nós termos essa conexão tão distante, e hoje em dia é realidade. E vamos continuar realizando, em prol do nosso conhecimento, da nossa etnia, da nossa aldeia e da nossa região, como indígenas. O Triângulo Mineiro e Minas Gerais são terras de Tupinambás, e vamos estar levando isso para o ENEI”, finaliza.
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Palavras-chave: Cultura Indígena Tupinambá Yberaba ENEI representatividade estudantes indígenas
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