Publicado em 27/08/2025 às 09:24 - Atualizado em 09/09/2025 às 09:03
Horas de ensaio diário, repetição exaustiva de movimentos e o impacto constante no corpo exigem dos dançarinos um preparo físico no mesmo patamar de atletas de alto rendimento. Com jornadas que podem ultrapassar oito horas de ensaio, bailarinos precisam do mesmo nível de atenção. Cuidados especializados, como a fisioterapia preventiva, podem garantir não só a performance, mas também a longevidade na carreira. Amanda Resende, dançarina da Class Escola de Dança, compartilhou sua percepção: “A rotina de quem dança é cheia de ensaios e com pouco treinamento físico, e esse desequilíbrio aplica uma demanda ao corpo maior do que somos capazes de suportar.”
Diego Botelho Barba, mestrando em Fisioterapia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), idealizou uma pesquisa que busca identificar e reduzir riscos de lesões musculoesqueléticas, a partir de testes funcionais de equilíbrio, força e amplitude de movimento para avaliar a condição física dos bailarinos. Segundo ele, há poucos trabalhos sobre dançarinos nos estudos da Fisioterapia. “Eu observo muito que é um público que, muitas das vezes, não é tão pesquisado assim, não tem um olhar cuidadoso para que possam trazer mais evidências científicas para a dança”, comentou.
A graduanda Rafaela Fernandes, que também participa da pesquisa, acrescentou que “os bailarinos podem ter lesões como outros atletas, mas a forma com a qual vamos tratar elas é específica para os bailarinos, o que a gente não vê muito hoje na literatura científica da Fisioterapia”.
Com isso em mente, Barba, Fernandes e a graduanda Julia Hasparyk — sob a orientação da professora Lilian Ramiro Felicio, do Laboratório de Avaliação em Biomecânica e Neurociências da Universidade Federal de Uberlândia (LABiN/UFU) — estabeleceram sessões para avaliação física com bailarinos e métodos para a análise dos dados captados por essa pesquisa.
Os pesquisadores enfatizam a afinidade com o tema e o público que estão estudando, a partir da paixão de longa data que todos compartilham pela prática da dança. Hasparyk começou sua história com a dança aos 5 anos, frequentando o balé com sua mãe até os 10 anos de idade, quando começou a fazer aulas em outra academia de dança, onde treinou, além do balé, dança contemporânea. A dança se tornou uma parte essencial da sua vida, e foi a partir dessa paixão que descobriu uma nova, a fisioterapia.
O cluster é um conjunto de testes funcionais que têm alta sensibilidade para identificar dores, possíveis lesões e restrições físicas. Na pesquisa, a proposta é utilizar um cluster cuidadosamente curado para avaliar a condição física de bailarinos e observar como eles respondem a esses testes.
Barba explicou que a meta principal é aprimorar a prevenção de lesões e contribuir para o avanço da pesquisa em dança. “Eu quero que esses bailarinos estejam prontos tanto para as aulas quanto para espetáculos maiores, com um olhar preparado, através dos testes que nós realizamos, para encontrar o que eles precisam melhorar e o que precisa ser feito para que obtenham uma melhor técnica e uma melhor performance”, comentou.
O conjunto de testes, composto por seis exercícios, foi idealizado para simular movimentos comuns da dança, buscando avaliar os músculos e os ossos mais utilizados pelos bailarinos, como o Y-Balance (Teste de Equilíbrio em Y), que é um teste que avalia a estabilização do bailarino em uma perna só, a partir de uma flexão do joelho com a rotação interna do fêmur, que simula um pliê (movimento de dobra dos joelhos no balé).
Outro teste realizado é o Single leg heel rise (teste de elevação do calcanhar em uma perna só), que avalia a potência do músculo da barriga da perna, que simula o élevé, em que o bailarino se eleva na meia-ponta ou ponta dos pés, sem dobrar os joelhos. O vertical jump (teste de salto vertical) foi o teste escolhido para testar a força explosiva dos membros inferiores, ele consiste de um alto pulo — como em vários passos do balé, jazz e dança contemporânea — que é medido por um aplicativo que avalia a altura atingida pelo bailarino.
Pensando na movimentação dinâmica e a mudança rápida de direções pelos dançarinos, o Crossover Hop Test é constituído por três saltos consecutivos com uma perna só, cruzando uma linha central entre cada salto com intuito de identificar assimetrias funcionais entre as pernas. Ademais, utilizando um inclinômetro de celular posicionado rente à Tíbia, o Lunge Test mede a amplitude de movimento da dorsiflexão do tornozelo, que é a capacidade de flexionar o pé para cima, para saber se esse bailarino tem algum tipo de diminuição de flexibilidade, alguma limitação biomecânica da estrutura articular.
Os pesquisadores envolvidos determinaram também a necessidade de avaliar o core, como contou Barba: “Nós queríamos também avaliar a musculatura do core, que compõe toda a região do abdômen, quadril e pelve. Já que ele é super importante para sustentar piruetas e fazer arabesques bonitos, movimentos que necessitam da contração efetiva do abdômen”. Assim, a prancha lateral foi incluída nos testes funcionais para avaliar a força isométrica e a resistência do core, ao contar o tempo que o dançarino mantém a posição de decúbito lateral. Barba disse que, ao concluir os testes com o bailarino, os resultados coletados são calculados para analisar a condição física dos dançarinos.
Após a avaliação física, os pesquisadores da equipe fazem uma tabulação dos resultados acompanhada de um relatório completo e objetivo para que os bailarinos consigam compreender com clareza seus resultados, Além disso, um link é enviado para o dançarino com vídeos específicos de exercícios curados a partir da avaliação física individual para fortalecer e preparar o bailarino.
Hasparyk destacou a necessidade da conscientização sobre a avaliação e o preparo físico, do ponto de vista da fisioterapia na dança. “Os bailarinos não têm essa noção, mas como estudantes de fisioterapia conseguimos mostrar para eles a parte científica e o modo apropriado para realizar o preparo físico”, ressaltou.
Além de suprir a escassez de pesquisas sobre bailarinos na área, o estudo auxilia preparadores de bailarinos e dançarinos com conhecimento sobre as condições musculoesqueléticas dos corpos e os métodos apropriados de preparação, prevenção e até recuperação física.
“Eu quero que esses bailarinos estejam prontos tanto para as aulas, quanto para espetáculos maiores, que requerem uma preparação muito técnica e objetiva. Os bailarinos, tendo esse olhar através dos testes que nós realizamos, conseguem observar o que precisam melhorar e o que precisa ser feito para que obtenham uma melhor técnica e uma melhor performance no baile”, disse Barba quando perguntado sobre a principal motivação para a pesquisa.
Os bailarinos avaliados também consideram a pesquisa importante. Resende buscou a fisioterapia em sua rotina para lidar com seu desempenho comprometido pelas dores que sentia ao dançar. “Através dos testes que fiz, a equipe me sinalizou o que fazer e montou um plano de exercícios que atribuía a minha rotina ajustes rápidos e práticos que, a longo prazo, vão melhorar meu desempenho e diminuir minhas queixas”, relatou.
A equipe ainda está atendendo, no campus da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (FAEFI/UFU), bailarinos que se encaixem nos seguintes requisitos:
Para participar da pesquisa e realizar a avaliação física entre em contato com Diego Botelho Barba pelo Instagram ou pelo número: +55 (69) 992883537.
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Palavras-chave: fisioterapia dança avaliação física pesquisa Faefi
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