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ACESSIBILIDADE

Universitária realiza projetos para garantir os direitos da população com deficiência física em Uberlândia

Reivindicando acessibilidade, Aleska Trindade Lima busca entender como a maior cidade do interior de Minas Gerais lida com esse tema

Publicado em 20/05/2020 às 15:02 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

Aleska Trindade Lima na organização da Semana de História - UFU, em 2018. (Foto: Arquivo da pesquisadora)

“Não há condições de andar [com a cadeira de rodas] na calçada em volta da UFU. Quando vamos à Prefeitura Municipal, também temos que passar pela rua, porque o passeio não é bom. Além disso, foi sancionada em Uberlândia uma lei que flexibiliza a acessibilidade em vários estabelecimentos”. Este breve relato da estudante Aleska Trindade Lima, do curso de graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), revela um pouco da situação dos direitos da população com deficiência física.

Em setembro de 2015, Uberlândia foi mencionada como cidade exemplo de acessibilidade por um telejornal de abrangência nacional. Por conviver com essa realidade diariamente, Lima questiona esse título atribuído à cidade.

Por isso, a estudante está desenvolvendo uma iniciação científica, desde o ano passado, relacionada a esse tema. A pesquisa é orientada pela professora Maria Andréa Angelotti, do Instituto de História (Inhis/UFU), e investiga a acessibilidade das escolas públicas.

“O motivo [de pesquisar] é a minha vivência, enquanto pessoa com deficiência. A gente enfrenta muitos obstáculos no dia a dia e eu queria saber como as outras pessoas, na mesma situação, lidam com esse problema. Se comparar Uberlândia aos municípios menores, temos mais estrutura. É difícil me distanciar do tema, mas eu não concordo que aqui seja totalmente acessível”, explica a pesquisadora.

Aos 14 anos, Lima foi diagnosticada com uma doença degenerativa. Desde então, é usuária de cadeiras de rodas. Durante os dois primeiros anos, utilizou de forma manual, mas não tinha autonomia para locomoção. Ela conseguiu a cadeira motorizada com auxílio da Associação de Apoio à Criança Deficiente (AACD) de Uberlândia.

A terapeuta ocupacional Caroline Valentini teve um papel fundamental no treinamento para adaptação à cadeira de rodas com motor. A profissional de reabilitação é mestre em Engenharia Biomédica pela UFU e faz parte do Núcleo de Tecnologia Assistivas (NTA/UFU), do qual Lima já foi voluntária em diversas pesquisas.

 “As pessoas acham que é fácil, mas é difícil aprender a ter controle da cadeira de rodas motorizadas, aprender o tempo de parada dela. No começo tive dificuldade, até quebrei móveis da minha casa. A Caroline tem mais contato com as pessoas com deficiência por meio da AACD; ela conseguiu voluntários para as pesquisas do NTA. Eu sempre incentivo os outros usuários de cadeiras de rodas a participar desses projetos”, informa Lima.

A aluna desenvolve projetos de ensino na Escola Estadual Messias Pedreiro. (Foto: Arquivo da pesquisadora)

Em Uberlândia

A estudante exigiu, à gestão superior da UFU, melhorias sobre a acessibilidade dentro da universidade. Ela reconhece os esforços para tornar o Campus Santa Mônica mais inclusivo, mas aponta que ainda há muito para melhorar. Por exemplo, afirma que as regiões dos blocos 3Q, 5O e a área em volta da Biblioteca são mais acessíveis. 

Mas, ao analisar os espaços dos centros de Engenharia, identifica mais dificuldades de locomoção pela calçada, por não caber a cadeira inteira, ou árvores no caminho. “Vejo que há muitos problemas nos elevadores; já tive que ser transferida de bloco. Várias vezes não consegui entrar na biblioteca porque o elevador não funcionava”, relata Lima.

Em resposta, a Prefeitura Universitária (Prefe/UFU) garantiu que os técnicos vão passar a verificar com mais frequência o funcionamento de plataformas e elevadores nos campi da universidade. A Prefe também informou que há projetos a fim de adequar todas as calçadas do Campus Santa Mônica, por meio de obras para alargá-las, assegurando a faixa livre para deslocamento, buscando preservar as árvores e executar travessias elevadas, com o fim de priorizar os pedestres e a acessibilidade física. Em virtude da escassez de recursos orçamentários, foi concluída somente a primeira etapa do projeto.

O trabalho da graduanda em História vai além da universidade. Ela é integrante do coletivo feminista Helen Keller, que tem como objetivo a construção de uma pauta política para mulheres com deficiência. Além disso, a aluna participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), do ano passado até fevereiro desse ano.

“Desenvolvemos, com os alunos do segundo ano do Ensino Médio, o projeto "Social Inclusão", na escola Estadual Messias Pedreiro. Eles fizeram ações pelo Parque do Sabiá, levaram cadeiras [de rodas] e até muletas para conscientizar a população sobre acessibilidade”, relembra a pesquisadora. 

Alunas da Escola Estadual Messias Pedreiro apresentaram o projeto Social Inclusão, durante o Seminário IntegrAções: Sujeitos e Saberes na/da Educação Básica, em novembro do ano passado. (Foto: Arquivo da pesquisadora)

Lima não faz História apenas na sala de aula da universidade. Com os seus projetos, ela quer ensinar às pessoas o valor da empatia, para melhorar a acessibilidade para as próximas gerações: “Acho que as pessoas poderiam se colocar mais no lugar das outras. Você pode não ter uma deficiência, mas não sabe se algum dia vai ter”, finaliza.

 

 

Palavras-chave: acessibilidade história

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