Publicado em 30/11/2020 às 17:23 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Os crescimentos e decréscimos nas internações e aumentos nas taxas de mortalidade são preocupantes, porque podem indicar a diminuição da vigilância sobre essas doenças (foto: Bruno Cecim/Fotos Públicas)
Nosso estudo (publicado como PREPRINT NA PLATAFORMA SCIELO no dia 26/11/2020) teve o objetivo de avaliar as doenças febris, infecciosas e parasitárias durante a pandemia de Covid-19 no Brasil e discutir possíveis explicações para as variações no número de internações e nas taxas de mortalidade encontradas para leishmaniose visceral, leptospirose, malária e dengue.
Para realizar essa avaliação, coletamos os dados de todo o território brasileiro do período de janeiro a agosto dos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020 no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). Depois, realizamos o cálculo de médias e variações percentuais para comparar os achados de 2020 aos três anos anteriores. Nós escolhemos essas doenças devido à disponibilidade de dados e por compartilharem sintomas semelhantes com a Covid-19, sendo denominadas de doenças febris indiferenciadas.
É válido ressaltar que, a fonte de coleta dos dados foi limitante para nosso estudo, porque nem todas as internações e mortes da realidade brasileira foram incluídas no SIH-SUS, além de notar que, os dados eram modificados em cada atualização ocorrida ao longo dos meses em que fizemos a pesquisa.
O que chamou mais nossa atenção nos nossos resultados são as reduções ocorridas em 2020 nas internações por leishmaniose visceral, leptospirose e malária na ordem de 43,59%, 29,31% e 29,51% e o aumento de 23,47% na dengue em comparação aos três anos anteriores.
Outro achado significativo em nosso estudo são os aumentos nas taxas de mortalidade por leishmaniose visceral, leptospirose, malária e dengue na ordem de 32,64%, 38,98%, 82,55% e 14,26%. No contexto da pandemia de 2020, esses crescimentos e decréscimos nas internações e esses aumentos nas taxas de mortalidade são preocupantes, porque podem indicar a diminuição da vigilância sobre essas doenças.
Para formular possíveis explicações para nossos resultados, nós pesquisamos outros estudos na literatura científica sobre situações ocorridas em outros países que possam estar ocorrendo no Brasil de modo semelhante. Por exemplo, notamos estudos que descreviam atrasos nos diagnósticos clínicos por dificuldades em diferenciar a Covid-19 da leptospirose.
Além disso, também pesquisamos relatos de caso sobre a ocorrência de co-infecções, nas quais infecções de Covid-19 ocorreram conjuntamente à dengue e à malária, além de um caso de co-infecção com a leishmaniose visceral, que levou o paciente a óbito. Também, através desses artigos, identificamos tanto aumentos quanto reduções nas notificações e decréscimos nas medidas de controle e prevenção no Brasil e em outros países, assim como uma possível contribuição do distanciamento social para reduzir a transmissão da dengue no estado de São Paulo.
A partir dos nossos resultados e dos achados provenientes da literatura científica, fica evidente a importância de aumentar a vigilância sobre essas doenças, por meio de medidas de controle dos vetores e do estabelecimento de protocolos e guias clínicos para diferenciar a Covid-19 dessas doenças e abordar pacientes com co-infecções, com objetivo de prevenir e evitar internações que possam levar a óbitos, assim como contribuir para diminuir a lotação de leitos hospitalares.
Nikolas Lisboa Coda Dias é discente do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. http://lattes.cnpq.br/3791407405952020
Álvaro A. Faccini-Martínez e médico e pesquisador, Instituto de Investigaciones Biológicas del Trópico, Universidad de Córdoba, Córdoba, Colombia e membro do Comitê de Medicina Tropical, Zoonoses e Medicina de Viagem, Asociación Colombiana de Infectología, Bogotá, Colombia.
Stefan Vilges de Oliveira é docente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.
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Palavras-chave: Leia Cientistas doenças aumento mortalidade Registros febris
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