Publicado em 02/06/2022 às 13:28 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39
96ª Turma do curso de graduação em medicina realizando atividade prática de territorialização no Assentamento Santa Clara, em Uberlândia. (Foto: Acervo dos pesquisadores)
A formação de profissionais sensíveis à realidade da população ainda é um desafio para a educação médica. Por isso, conhecer o local em que as pessoas vivem e os desafios que encontram para garantir alguma renda, cuidar uns dos outros e acessar serviços básicos — como unidades de saúde e creches —, deve ser parte do processo de ensino dos futuros médicos.
Com este objetivo, o componente curricular de Saúde Coletiva I do curso de graduação em medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (Famed/UFU) tem previsto, entre as suas atividades práticas, a ‘territorialização’. Esse método é utilizado no campo da Saúde Coletiva, entre outras coisas, para obter e analisar informações sobre as condições de vida e saúde de populações, entender os contextos econômicos, sociais, culturais e políticos de uso do território e, consequentemente, se configura como um caminho de aproximação sucessiva da realidade para a produção social da saúde.
Em março de 2022, os professores Flávia do Bonsucesso Teixeira, Mariana Hasse, Stefan Vilges de Oliveira, Tiago Rocha Pinto, Letícia Okada e Lúcio Girotto, todos do Departamento de Saúde Coletiva da Famed, realizaram uma grande atividade de territorialização com duas turmas de estudantes da Medicina no Assentamento Santa Clara, em Uberlândia, possível em razão da presença, apoio e mediação dos integrantes da Pastoral da Terra.
O Santa Clara, que surgiu em agosto de 2013, é um assentamento urbano localizado a 10km do centro da cidade (Figura 1-A), em que vivem cerca de 900 famílias. Não há transporte público de fácil acesso, ligação regular a água, esgoto e energia (Figura 1-B) e o serviço de coleta de lixo não atende a todas as ruas (Figura 1-C e D).
A: Imagem aérea do Assentamento Santa Clara (Fonte: google); B: Vista das ruas do assentamento; C: Acúmulo de material reciclável de moradores utilizados como fonte de renda; D:Instalações elétricas feitas pelos moradores (foto: acervo dos pesquisadores)
Divididos em pequenos grupos, os estudantes visitaram cada uma das casas do assentamento para realizar o cadastro dos domicílios e individual de cada entrevistado (Figura 2). Utilizando fichas do Ministério da Saúde — as mesmas usadas pelas equipes de Saúde da Família — eles levantaram dados sobre as casas e sobre a saúde dos seus moradores. A ideia é, a partir dos cadastros e das informações levantadas nas conversas com informantes chave, como a D. Cida, responsável pela cozinha comunitária do Santa Clara, ter subsídios para a construção de uma Unidade Básica de Saúde no território.
Figura 2: Estudantes de medicina realizando as entrevistas com os moradores do Assentamento Santa Clara. (Foto: Acervo dos pesquisadores)
35% das famílias residentes no assentamento responderam às perguntas do cadastro. Encontramos uma população predominantemente preta e parda e, apesar de muitos terem ensino médio, o ensino superior parece não compor o horizonte de perspectiva do grupo, há muita gente desempregada e quase a totalidade das pessoas estão trabalhando informalmente. Em relação ao acesso a Unidades Básicas de Saúde, identificamos a ausência de vinculação dessa população a qualquer serviço de modo institucionalizado, ou seja, não existe unidade formal de referência.
Há uma grande expectativa de que a prefeitura regularize a área em breve. No entanto, a urbanização da área é urgente para sanar alguns problemas de infraestrutura para diminuir a vulnerabilidade dos moradores.
Apesar do calor penoso nos dias da atividade, os estudantes concluíram com êxito a atividade e no final dos trabalhos deram uma devolutiva preliminar para comunidade (Figura 3), apresentando as informações que foram coletadas e discutindo perspectivas de melhorias das condições de saúde e cuidado da população deste território.
Figura 3: Estudantes de medicina apresentando as informações coletadas durante a territorialização para comunidade do Assentamento Santa Clara. (Foto: Acervo dos pesquisadores)
Um projeto de extensão foi pactuado e dará sequência às atividades desenvolvidas com os moradores do assentamento. Ele deve começar em breve e terá a participação de estudantes da UFU, Pastoral da Terra, membros de movimentos sociais pela reforma agrária e moradores do Santa Clara.
* Mariana Hasse, Stefan Vilges de Oliveira e Flávia do Bonsucesso Teixeira são docentes da Faculdade de Medicina da UFU.
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Palavras-chave: Leia Cientistas Divulgação Científica assentamento Medicina Famed saúde coletiva
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