Publicado em 18/04/2018 às 09:52 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
Grafismo Asurini que compõe a publicação (Foto: Daniel Pompeu)
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, as regiões da costa já se encontravam ocupadas por índios. O contato se deu com povos que falavam línguas da família tupi-guarani. Através do entendimento desses dialetos pelos jesuítas e outros europeus, a língua foi generalizada como sendo aquela falada por todos os índios brasileiros. É por isso que, quando bandeirantes paulistas “desbravaram” a capitania de Minas Gerais e outras, deixaram para trás cidades, rios e marcos naturais com nomes originários de dialetos de povos que não viviam por aqui.
Araporã (lugar de dias bonitos), Iturama (região de cachoeiras), Paranaíba (rio impraticável ou com pouco peixe), Uberaba (rio brilhante) e Ipê (árvore de casca grossa) são alguns dos principais termos tupi investigados em “Toponímia Tupi da região de Uberlândia no Triângulo Mineiro”. O estudo propõe um glossário de nomes da região mineira visando rastrear suas origens, significados e aspectos histórico-culturais das nomenclaturas.
Publicado pela Edufu, o livro é de autoria de Benedito Prezia, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Juliana Schroden, doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisadora de linguística indígena, e Lídia Maria Meirelles, cientista social e coordenadora do Museu do Índio da UFU. O livro será lançado em 19/4 (dia do índio), quinta-feira, em conversa com os autores às 19h30 no auditório B do Bloco 5O no Campus Santa Mônica da UFU. Na ocasião, Prezia também apresentará seu livro “História da Resistência Indígena - 500 anos de luta”.
“É basicamente um dicionário Tupi-Português. Muitos dos nomes não são originariamente do povo Tupi, muitos foram dados pelos portugueses que vieram, ou pelas pessoas que tiveram contato com eles. E, de certa forma, ‘tupinambizaram’ os nomes de alguns lugares”. É o que conta Schroden sobre o livro. Ela foi uma das responsáveis pelo levantamento de termos indígenas que dão nomes a lugares da região durante seu estágio no Museu do Índio no período em que cursou Letras na UFU. Em 2012, a pesquisadora também lançou “A aventura de Abaré”, um livro infantil sobre um papagaio que vive em uma aldeia indígena.
Lídia Meirelles explica que os nomes de origem Tupi chegaram aqui principalmente pela tentativa dos europeus de padronizar a língua indígena a partir do contato inicial com essas populações. “Os jesuítas aprenderam a língua tupi, criaram gramáticas que generalizaram esse tupi como se todos os povos indígenas no Brasil falassem essa língua”.
Como exemplo, ela cita o fato dos índios Caiapó serem conhecidos por este nome. “Caiapó” foi o nome dado à etnia pelos povos Tupi (exônimo) e significa “macaco” ou “homens-macaco”, um apelido dado às tribos historicamente rivais dos Tupi. “Os jesuítas, quando se aproximam dos tupi, eles não se aproximam só da língua, ou só das pessoas, eles se aproximam da realidade cultural desse povo em detrimento dos demais”, explica Meirelles. Os Caiapós, na verdade, se autodenominam Mebêngôkre (endônimo), que significa homens do buraco d’água.
“A realidade indígena é muito complexa. Existe uma diversidade cultural muito grande nessas populações. Você pegar um xavante e um guarani é o mesmo que você pegar um chinês e um russo. A diferença não é só na língua, mas nos hábitos, nos costumes e nas formas como se vê o mundo.”
Palavras-chave: Indio nativo tupi tupi-guaraní origem história Divulgação Científica
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