Publicado em 19/06/2019 às 18:32 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:33
'Deus e o Diabo na Terra do Sol', de Gláuber Rocha, é referência do cinema nacional (foto: reprodução)
Em 19 de junho é comemorado o Dia do Cinema Nacional. A data foi escolhida devido às primeiras filmagens realizadas em território brasileiro, pelo imigrante italiano Afonso Segreto, que aconteceram nesse dia, em 1898, com o registro da entrada da Baía de Guanabara. Afonso e seu irmão, Pascoal, se tornaram os primeiros produtores no Brasil ao registrarem acontecimentos do país através de uma câmera Lumière.
O primeiro filme de ficção brasileiro foi produzido em 1908 por Francisco Marzullo, intitulado “Os Estranguladores”. O cinema brasileiro passa a se desenvolver, até que em 1944, Ary Barroso recebe um diploma da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood pela trilha sonora do filme “Você já foi à Bahia?”, de Walt Disney. Já em 1953, o filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, é premiado no Festival de Cannes, na França.
Apesar desses prêmios, o professor de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisador em audiovisual, Rafael Duarte Oliveira Venancio, afirma que o Cinema Novo brasileiro, que surgiu em 1955 com o filme “Rio, 40 graus”, de Nelson Pereira dos Santos, gerou a maior influência.
O Cinema Novo tinha como lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. A proposta dos filmes era retratar a vida real, mostrando a pobreza e os problemas sociais do país, em uma perspectiva crítica, contestadora e cultural. “Para uma história ampla do cinema, especialmente o cinema dos anos 60 do Brasil, o impacto foi gigante, e até hoje essa lembrança é ecoada”, declara Venancio.
Nesse período, destaca-se a influência de Glauber Rocha, que dirigiu os filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Terra em Transe” (1967). O diretor defendia uma arte revolucionária, comprometida com a transformação social e política.
Apesar de uma história marcada por prêmios e indicações, o cinema nacional ainda sofre com a resistência do público brasileiro. Para Venancio, parte deste preconceito vem do fato das produções do século XX serem filme-arte, o que causa um estranhamento frente ao cinema comercial hollywoodiano.
O professor considera que um outro problema dos filmes nacionais é seu vínculo com as produções transmitidas na televisão. Assim, o público não se interessa por consumir cinema, já que as histórias passadas ali são adaptações de programas que podem assistir nas emissoras. Segundo ele, para reverter esse quadro, deve-se incentivar novas histórias, que não se relacionem com as novelas e os programas de humor. “O cinema brasileiro precisa ser diferente da televisão”, completa.
No Festival de Cannes de 2019, dois filmes brasileiros foram premiados. "A vida invisível de Eurídice Gusmão", dirigido por Karim Aïnouz, foi o vencedor da mostra Um Certo Olhar. Já Kleber Mendonça Filho foi novamente premiado, agora com "Bacurau" no Prêmio do Júri, em empate com o drama francês "Les Misérables". Foi a primeira vez que o Brasil ganhou nesta categoria, considerada a terceira mais importante do evento francês.
Venancio comenta que o motivo do reconhecimento dessas produções é a inovação da narrativa. “Esses filmes mostram que temos diversas formas de contar histórias, temos uma criatividade latente. Só que ela precisa invadir as salas dos cinemas e os meios de produção e ser incentivadas”, ressalta. Segundo ele, a aproximação com as produções cinematográficas brasileiras desde criança associada a essa mudança no formato e tema das narrativas podem gerar, no futuro, um maior reconhecimento dos filmes nacionais.
Palavras-chave: Cinema nacional cultura celebração
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