Publicado em 10/08/2020 às 16:46 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
As formigas do gênero Camponotus são mais favoráveis para polinizar pequenas flores no Cerrado (Foto: Kleber Del-Claro)
Algumas plantas precisam de um empurrãozinho para a reprodução: o vento, a água e até os animais, como as abelhas, transportam o pólen (gameta masculino) até as flores para que ocorra a fecundação. Esse transporte de gametas é chamado de polinização.
Até então, a participação das formigas nesse triângulo amoroso era pouco estudada. Em uma pesquisa em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), os pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) concluíram que esses pequenos insetos são importantes cupidos para a reprodução das plantas, especialmente no bioma cerrado.
Os docentes Helena Maura Torezan Silingardi e Kleber Del-Claro, ambos do Instituto de Biologia (Inbio/UFU), publicaram um artigo na revista internacional Annals of Botany - que existe desde 1887 e é bastante renomada entre os cientistas (acesse o estudo aqui). A polinização, nesse caso, acontece em situações bastantes específicas.
Os professores destacam que não são todas as espécies que conseguem participar dessa união. A pesquisa observou as formigas do grupo Camponotus, que abriga cerca de 600 espécies. Elas não possuem a glândula secretora metapleural, e é justamente essa ausência que confere a capacidade polinizadora: “a maioria delas tem essa glândula que produz um antibiótico que mata o pólen. Elas ficam esfregando a substância no corpo inteiro, para não pegar bactérias quando estiverem embaixo da terra”, explica o biólogo Del-Claro.
Como em qualquer relacionamento, há interesses e trocas de favores: a planta oferece comida, e a formiga retribui o presente com o transporte de gametas. Segundo Del-Claro, a formiga sobe nas flores próximas ao solo em busca do néctar: “o néctar tem água, um recurso bastante difícil de ser encontrado no cerrado, além de açúcar e aminoácidos, substâncias nutritiva para as elas.”
Outro fator que influencia a ocorrência desse processo é o ambiente. “Além de acontecer em ambiente seco, onde a disponibilidade de água e nutrientes não é abundante, a polinização pelas formigas acontece em plantas de pequeno porte, como arbustos, gramíneas e ervas, ou seja, em árvores isso não acontece”, informa a professora Silingardi. É comum pensar que a as flores grandes e com cores chamativas são as mais atraentes. Porém, as flores pequenas, brancas ou esverdeadas são as que mais seduzem as formigas.
O tamanho das formigas nos ecossistemas
O trabalho de observação das formigas no meio ambiente exigiu muita atenção e cuidado dos pesquisadores. As idas a campo aconteceram na reserva ecológica do Clube Caça e Pesca Itororó de Uberlândia. “Normalmente, o que a gente faz é ir ao campo semanalmente, prestando atenção nas modificações no ambiente, e observando não apenas as coisas grandes, mas as pequenas também”, explica Del-Claro.
Para se ter uma ideia da importância desses animais para o meio ambiente, alguns cientistas estimam que cerca de um terço de toda a biomassa animal da floresta Amazônica de terra firme é composta por formigas e cupins. Aqui no Cerrado, por exemplo, elas fazem um trabalho importante como predadoras naturais de pragas que podem chegar às lavouras, conforme Del-Claro.
“As espécies do gênero Componotus são grandes participantes das redes ecológicas de interações. Essas redes de conexões ligam as formigas a muitas espécies de plantas, a redes ecológicas de interações distintas, ou seja, são muito importantes para a manutenção da biodiversidade. Elas fazem predação, diminuem o parasitismo, podem fazer até mesmo dispersão de sementes, são seres muito importantes em sistemas estruturadores de comunidades”, explica o biólogo.
Por fim, a professora Silingardi deixa um convite: “alunos interessados em estudar qualquer tipo de interação ecológica são muito bem vindos no Laboratório de Ecologia Comportamental e de Interações. Podem trabalhar com a gente na graduação e na pós-graduação também”.
Helena Maura Torezan Silingardi é professora da UFU desde 2009. A bióloga é casada com Kleber Del-Claro, docente há quase 30 anos. (Foto: acervo dos pesquisadores).
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Palavras-chave: ecologia comportamental interações formigas camponotus
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