Publicado em 07/04/2025 às 16:02 - Atualizado em 14/04/2025 às 16:02
Um estudo realizado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) pela bióloga Dayana Nascimento Carvalho e publicado no fim de fevereiro deste ano na revista europeia Diversity, que é dedicada à publicação de pesquisas relacionadas à biodiversidade, analisou os efeitos da vegetação nas comunidades de aves e nas interações entre aves e plantas em duas áreas ribeirinhas urbanas de Uberlândia que foram reflorestadas visando a restauração ecológica.
Ela constatou que a diversidade de espécies na vegetação, a abundância de cada uma dessas espécies vegetais e a composição nativa delas, além de sua atratividade para a fauna, ou seja, para os animais, com uma diversidade de recursos alimentares, formam um corredor ecológico fundamental para o aumento do número de diferentes organismos, entre eles, as aves.
“Na prática, essa pesquisa prova, demonstra cabalmente, que o reflorestamento, a preservação das margens dos rios, dos riachos que nós temos, recupera a biodiversidade, traz de volta as espécies animais, as espécies vegetais, para o nosso convívio”, destaca Kleber Del-Claro, docente do Instituto de Biologia da UFU e orientador do estudo.
A manutenção e recuperação da vegetação, salienta o docente, não só preserva as margens de rios e riachos contra o desmoronamento, assoreamento e inundações, mas também atrai espécies da fauna, como os passarinhos. O Brasil, por sinal, é o terceiro país com maior diversidade de aves.
“Só uma espécie de beija-flor é capaz de comer 400 pernilongos por dia!”, exemplifica Del Claro. “Então, você tem uma ideia do impacto desses animais para o nosso bem-estar humano e social, além da beleza, além do bem-estar que eles trazem”, reforça o professor.
O estudo foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais da UFU durante o curso de mestrado de Dayana Carvalho, que, hoje, está cursando doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ela analisou, entre janeiro e outubro de 2019, áreas verdes do Praia Clube — espaço privado que margeia um trecho do Rio Uberabinha — e do Parque Linear Rio Uberabinha, público, também às margens do rio, em um trecho seguinte ao clube. Elas totalizam 58,6 hectares. Neste levantamento, foram identificadas as espécies vegetais e de aves existentes nesses espaços.
As áreas verdes do Praia Clube (30,1 ha) incluem espécies nativas da região já presentes antes de sua construção e as que foram plantadas, a partir de 2010, como medida de compensação ambiental previstas em lei, tendo em vista sua localização em área de preservação permanente (APP).
Nesse replantio, diz o artigo publicado, também foram adicionadas outras espécies “com características relevantes para a restauração, como adaptabilidade, rápido crescimento, flores melíferas [polinizadas principalmente por abelhas], flores ornitófilas [polinizada por aves] e produção de frutos atrativos à fauna”.
Com 28,5ha dentro do limite urbano estudado, o Parque Linear também é composto por vegetação tanto nativa remanescente quanto de não nativa plantada na década de 2000. Além disso, uma restauração feita em 2012 ampliou as espécies nativas dessa área.
Das 98 espécies de plantas registradas pela pesquisa nas duas áreas, existem as nativas do cerrado, as nativas não regionais (de outro bioma do Brasil) e as exóticas, ou seja, de outros países. A restauração — realizada por analistas ambientais de suas respectivas instituições — foi feita principalmente com plantas que têm suas sementes dispersas por animais (zoocoria), dispersas por aves (ornitocoria) e dispersas pelo vento (anemocoria).
A interação entre aves e plantas, como a alimentação por meio de flores, frutos, néctar e sementes, foram registradas por meio de fotografias. As imagens e a conclusão do estudo registrado no artigo mostram a importância do planejamento nas restaurações ecológicas para a manutenção e expansão da biodiversidade vegetal e de aves, além de contribuir para a permanência de espécies de aves endêmicas do Cerrado e ameaçadas de extinção encontradas neste estudo.
“A preservação destas áreas verdes para as cidades têm sua importância em dimensões mais amplas, tanto na funcionalidade destes ecossistemas para a biodiversidade e conservação de espécies destacadas neste estudo, quanto pela formação de ilhas de frescor urbanas essenciais para a saúde da população humana e da fauna, atenuando, assim, os efeitos microclimáticos urbanos e seus desdobramentos para as mudanças climáticas futuras”, destaca Dayana Carvalho.
Também assina o artigo, além de Del Claro e Carvalho, o doutor em entomologia e egresso da UFU, Eduardo Soares Calixto, do Departamento de Entomologia e Nematologia, da Universidade da Flórida (EUA). A pesquisa teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por meio de bolsa.
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Palavras-chave: meio ambiente ecologia aves Rio Uberabinha Biologia reflorestamento
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