Publicado em 21/10/2020 às 17:29 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
O artigo está disponível na Revista Online de Pesquisa Cuidado é Fundamental, vinculada à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) (Foto: Pixabay)
Em uma tarde de 2015, Ana Maria Praxedes Paixão chegou em casa, após passar o dia no trabalho, e pegou o cesto de roupas sujas para colocá-las para lavar. Parecia mais um dia comum na sua rotina, até que ela escorregou, machucou um dos seios em um compartimento da máquina e sentiu muita dor.
Por causa do acidente, Ana começou a ficar mais atenta ao toque dos seios, sentiu alterações e buscou orientação na Unidade Básica de Saúde da Família do bairro em que mora. A confirmação do câncer de mama chegou dias depois das primeiras desconfianças.
Histórias e diagnósticos como esse acontecem a todo momento no Brasil. O INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA) estima 66.280 casos de câncer de mama no país em 2020.
Ana também faz parte de outra estatística: assim como 31% dos brasileiros, ela se considera evangélica. E a soma desses dois aspectos - câncer de mama e religiosidade - foi o tema da pesquisa desenvolvida pelas enfermeiras Anna Claudia Yokoyama dos Anjos, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (Famed/UFU), e Cristiane Soares Campos, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, e pela estudante Gabriella Santos Ribeiro, do curso de graduação em Enfermagem da UFU.
O artigo foi publicado na REVISTA CUIDADO É FUNDAMENTAL. Elas descrevem a maneira como outra paciente, de 54 anos, utilizou a espiritualidade e a religiosidade durante o tratamento quimioterápico em uma instituição pública de saúde. Seis entrevistas foram realizadas no domicílio da paciente, que também se identifica como evangélica.
“Cada vez mais observamos que as mulheres têm buscado estratégias para o enfrentamento do câncer de mama e das reações adversas decorrentes dos tratamentos. A religião tem se sobressaído como uma dessas estratégias que fazem com que as mulheres sejam resilientes”, explica a professora Yokoyama.
A ciência foi importante na cura, mas a espiritualidade também foi crucial para Ana lidar com a notícia do câncer de mama. Após o diagnóstico, ela realizou exames no Hospital de Clínicas da UFU e foi informada, inicialmente, que a cirurgia para a retirada da mama tinha a previsão de acontecer nos próximos seis meses. Mas, segundo ela, essa demora não estava nos planos divinos, e nem no planejamento dos médicos, uma vez que o tumor estava avançado e a cirurgia precisava ser feita de forma urgente.
“O médico previu um tempo de seis meses para a cirurgia. Eu pensei: misericórdia. Mas, que seja feita a vontade de Deus. Eu e minha família passamos um fim de semana orando. Na segunda-feira, três horas da tarde, a atendente ligou e perguntou se eu poderia ir ao hospital para ser internada, porque havia uma vaga para a minha cirurgia. Olha como Deus age na nossa vida”, relembra Ana.
Yokoyama também defende, no artigo, que os enfermeiros compreendam o papel da espiritualidade no processo saúde-doença. Em geral, segundo a pesquisadora, eles têm o olhar voltado para os aspectos biológicos e técnico-científicos do tratamento. “Mas a religiosidade pode compor o arsenal de medidas para o suporte dessas mulheres nessa fase tão difícil em que se encontram fragilizadas e vulneráveis”, explica a enfermeira.
As pesquisadoras também sugerem melhorias na forma de assistência em saúde aos pacientes religiosos. “É necessário que rituais e práticas religiosas façam parte dos conhecimentos e do trabalho cotidiano do enfermeiro inserido na assistência ao paciente oncológico e à sua família, contribuindo para que estes se sintam melhor apoiados e assistidos", escrevem no artigo. "Sendo assim, salientamos a importância de espaços destinados a práticas religiosas, nos ambientes públicos e privados de saúde, assim como profissionais sensíveis e conscientes da importância de integrar em suas práticas profissionais maior compreensão das necessidades espirituais e promover maior acesso no exercício da assistência”, argumentam.
Ana conta que a prática religiosa criou uma rede de apoio durante o tratamento de radioterapia e quimioterapia. Os pastores e os membros da igreja que ela frequentava na época compareciam à casa onde ela estava repousando para orar. “Eles oravam comigo, e isso me deu mais forças, eu me sentia mais forte. E foi assim, até eu recuperar”, conclui.
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Esta é a última reportagem da série Outubro Rosa do portal Comunica UFU. Confira as outras matérias que publicamos sobre pesquisas científicas desenvolvidas na universidade que podem auxiliar a sociedade na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer de mama e de colo do útero.
Palavras-chave: Outubro Rosa Câncer de mama Enfermagem
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