Publicado em 02/09/2021 às 11:31 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:25
Cores da logo do projeto remetem à bandeira trans, criada em 1999, na qual o azul representa os homens, o rosa as mulheres e o branco representa a não binariedade, o intersexo e a neutralidade. (Arte: Rede TRANSformação/Divulgação)
A “Rede TRANSformação” é uma plataforma virtual que tem a missão de difundir informações e ampliar o acesso das pessoas trans e travestis a abrigos, saúde e oportunidades de emprego. O projeto, sem fins lucrativos, foi idealizado por estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com o apoio financeiro do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA Brazil), que concedeu os recursos por meio de concurso realizado entre comités locais da Federação Internacional das Associações dos Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA Brazil).
Atualmente, o projeto conta com oito colaboradores, que são orientados por Camila Toffoli, médica e servidora do Hospital de Clínicas (HC/UFU). Laura Borges, que é responsável administrativa e legal do projeto, diz que a escolha do público-alvo parte do entendimento da vulnerabilidade social na saúde, no emprego e nos consequentes resultados dos índices de violência. “Uma palavra que resume o cenário atual para a população trans e travesti nessas três esferas é marginalização”, resume.
Borges comenta que na saúde as pessoas trans e travesti são marginalizadas devido ao preconceito dos próprios profissionais da área, que comumente não sabem tratá-las e, por vezes, não aceitam seu nome social, um direito básico. Já em relação ao emprego a marginalização é ainda mais evidente, segundo a responsável pelo projeto. “A dificuldade de acesso a empregos pelas pessoas trans e, principalmente, travestis, é a ilustração máxima da incapacidade da sociedade brasileira em aceitá-las como cidadãs e conviver com elas no meio social. O que nos leva à violência: as pessoas trans e travestis não são aceitas na sociedade brasileira e, por isso, são assassinadas, como se suas vidas valessem menos”, ressalta.
A inspiração para a realização do projeto partiu dos aprendizados de ética e humanização no curso de Medicina e também no HC, que abriga o Centro de Referência e Assistência Integral para a Saúde Transespecífica (Craist). “A UFU desponta no país como um dos primeiros hospitais-escola a ter um ambulatório voltado para a saúde transespecífica. Assim, poder ajudar a consolidar a imagem da universidade como pioneira no cuidado a essa população marginalizada é uma fonte de inspiração para nós. Também, é da UFU que vem nossa estrutura e mão de obra: por meio do cadastro do projeto no SIEX, almejamos mantê-lo funcionando e sempre renová-lo quando a equipe original se graduar”, comenta.
As principais ferramentas de divulgação da iniciativa são o site e o Instagram, nos quais os próximos passos da “Rede TRANSformação” estarão centrados na disseminação de informações sobre a saúde trans, por meio de textos, publicações e transmissões ao vivo. Segundo Borges, o projeto pretende continuar ampliando a sua rede de contatos com profissionais da saúde e abrigos, como também com estudantes de outros cursos da UFU, de modo a ser fixado permanentemente e usado como um instrumento de troca com o público.
“Carregamos a marca de país que mais mata pessoas trans e nosso governo passa longe de dar a devida atenção a esse grave problema humanitário. Com a Rede TRANSformação, esperamos que, ao menos, um pequeno passo seja dado na direção de uma melhor qualidade de vida para essas pessoas. Há muito que um grupo de estudantes não consegue fazer, mas vamos, ao menos, facilitar o acesso das pessoas trans e travestis aos serviços que cuidam delas e as respeitam como são”, finaliza.
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