Publicado em 10/01/2022 às 12:22 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:21
Time Enactus da UFU existe desde 2015, em parceria com uma organização internacional sem fins lucrativos, que foi fundada em 1975 e fomenta o empreendedorismo social dentro das universidades, seguindo os pilares econômico, social e ambiental. (Arte: Arquivo Enactus/UFU)
A Enactus da Universidade Federal de Uberlândia (Enactus/UFU) é composta por 25 membros de 11 cursos da instituição, que desenvolvem projetos sustentáveis de empreendedorismo social em comunidades locais, em parceria com organizações não-governamentais e empresas. No momento, dois projetos estão em andamento: “Bread&bug”, que promove a criação de adubo orgânico com pequenos produtores agrícolas, e o “Aroeiras”, que busca gerar renda para mulheres por meio da costura de resíduos têxteis.
Para definir em quais comunidades de Uberlândia serão executadas as ações, primeiramente, é feita uma investigação sobre a situação de vulnerabilidade de cada uma. “Para isso, utilizamos algumas ferramentas. Exemplo: o mapa da empatia, que nos ajuda a estabelecer um raciocínio sobre as dores e os desejos da comunidade, bem como seus pensamentos e sentimentos, com o intuito de compreender melhor a comunidade para, posteriormente, definir e estruturar o projeto que será implementado”, explica Juliane Maia, gerente do Núcleo de Pesquisa e Inovação da Enactus/UFU.
Bread&bug
Inspirado em ser o “ganha-pão” dos pequenos produtores agrícolas, o projeto “Bread&Bug” desenvolve um sistema alternativo de fertilização orgânica do solo com excrementos gerados na criação de insetos de Tenébrio molitor (Larva-da-farinha). A iniciativa objetiva agregar conhecimento sobre os métodos alternativos de adubação para a agricultura de pequena produção, pautando o reaproveitamento de resíduos da própria produção agrícola, com a finalidade de baixar os custos.
Kaio Sardinha, o gerente do “Bread&Bug”, comenta que uma das maiores dificuldades vividas por pequenos produtores são os seus elevados gastos com insumos agrícolas e o projeto os torna capazes de produzir seu próprio fertilizante orgânico, de forma mais econômica e sustentável. “O sistema alternativo foi escolhido devido aos resultados observados em diversos ensaios científicos acerca da composição de macronutrientes dos excrementos da fase larval do besouro Tenébrio molitor, onde identificamos seu excelente potencial. Dessa forma, quando comparamos o nosso produto com os seus concorrentes de mercado, como o esterco bovino, analisamos uma grande vantagem acerca das concentrações de NPK, dos recursos necessários para sua produção e do impacto ambiental gerado durante os processos da produção”, afirma.
Uso dos insetos de Tenébrio molitor (Larva-da-farinha) se deve à sua nutrição com os resíduos de alimentos gerados pela própria produção, fazendo com que o seu excremento seja rico em nutrientes. (Foto: Arquivo Enactus/UFU)
O resultado da adoção desta técnica de adubação orgânica é de 157% de fósforo, 33,5% de potássio e 23,7% de nitrogênio a mais no solo. Além disso, não é necessário o armazenamento em embalagens descartáveis e nem a liberação de gases nocivos que contribuem para o aumento do efeito estufa. No ano de 2020, o projeto “Bread&Bug” ficou em primeiro lugar no “Prêmio Alimentação em Foco”, organizado anualmente pela Fundação Cargill em parceria com a Enactus Brasil.
O time Enactus/UFU já alcançou também o posto de semifinalista durante as edições de 2020 e 2021 do Evento Nacional Enactus Brasil, que é uma competição de todas as equipes da rede. Sardinha conta que agora o “Bread&Bug” está sendo trabalhado para continuar obtendo reconhecimento, como também seguir fomentando o empreendedorismo social: “Atualmente o projeto está atuando na comunidade ‘Migos da Horta’, do assentamento do Pacaembu, que, por sua vez, fornece alimentos orgânicos de qualidade para mais de 50 famílias de Uberlândia.”
Aroeiras
Para empoderar mulheres e gerar renda por meio da fabricação e venda de produtos, o projeto “Aroeiras” pauta a reutilização de resíduos têxteis, que normalmente seriam descartados por indústrias e lojas de Uberlândia. Atualmente, são oito participantes da comunidade Sal da Terra, localizada no bairro Shopping Park.
Fernanda Martins, a gerente do projeto Aroeiras, diz que o primeiro contato feito com a comunidade foi por um grupo de trainees, que realizou a doação de leite no local. “Logo no início, foi possível reconhecer que seria um ótimo ambiente para a desenvoltura de um projeto Enactus. Assim, escutamos suas vontades e a ideia do projeto adveio do próprio interesse da comunidade na arte da costura. As mulheres aroeiras se mostraram muito curiosas e interessadas em aprender a confeccionar produtos”, ressalta.
No momento, ainda não existe uma previsão de renda inicial para as mulheres participantes, pois os cursos de formação não foram iniciados em decorrência da pandemia. (Foto: Arquivo Enactus/UFU)
De acordo com dados informados no site da Enactus/UFU, as mulheres ganham cerca de 79,5% da renda dos homens e a indústria têxtil é a segunda maior poluidora do mundo, além de que é estimado que sejam descartados cerca de 8,5 toneladas de tecidos por ano na maior cidade do Triângulo Mineiro. A equipe recolhe em média 57 kg de tecido por mês, impedindo que sejam descartados indevidamente. “Os membros iniciaram as buscas por parcerias que pudessem dispor dos tecidos para serem reciclados; assim, firmamos parcerias com lojas de tecidos, ateliês, fábricas da cidade de Uberlândia”, esclarece Martins.
Os cursos de capacitação, com previsão de início para fevereiro deste ano, estarão sob responsabilidade da costureira Gabrielly Tatiana, parceira da equipe. Juntamente do curso, serão iniciadas aulas de pinturas para customização dos produtos, noções introdutórias de marketing e gestão financeira, com o objetivo de proporcionar maior independência. Posteriormente, ocorrerá a venda dos produtos por meio do e-commerce, com divulgação no Instagram do projeto “Aroeiras”.
Rede Enactus Brasil fornece apoio à equipe da UFU em seus projetos, por meio de palestras, treinamentos e esclarecimento de dúvidas, quando necessário. (Arte: Arquivo Enactus/UFU)
Ao todo, são seis projetos desenvolvidos, com quatro já finalizados. Dentre os finalizados estão: o projeto “Delas”, que promoveu capacitação no ramo dos negócios para as mulheres da “ONG Ação Moradia”; o “Nidus”, que objetivou a integração de imigrantes haitianos; o “Trilha para Autonomia”, que compreendeu a atuação com adolescentes maiores de 14 anos cujas possibilidades de reintegração à família de origem foram esgotadas; e o “Farinha Minha”, que auxiliou a gestão sustentável da agroindústria de farinha do assentamento Rio das Pedras. “Infelizmente um projeto Enactus não pode durar para sempre. Nosso objetivo é auxiliá-los e empoderá-los até que atinjam autonomia e consigam se estabelecer sem nossa ajuda. Quando percebemos que já conseguem se manter sem nosso auxílio, finalizamos o projeto”, comenta Julia Caroline Vasconcelos, a representante da Enactus/UFU.
Os estudantes da universidade interessados em participar como voluntários devem ficar atentos aos processos seletivos anuais. Já as pessoas da comunidade, que desejam participar dos projetos, podem entrar em contato via Instagram do “Bread&Bug” e do “Aroeiras”. Para mais informações, é possível contatar a Enactus/UFU no Instagram ou no e-mail gp@enactusufu.com.
“Primordialmente, uma das nossas metas é contar com um espaço físico dentro da UFU, para que possamos ter um lugar fixo para reuniões e um ambiente de trabalho coletivo. Dizendo de uma forma geral, queremos que o ciclo de 2022 seja mais um degrau de sucesso na nossa história, que tenhamos mais visibilidade perante a universidade, com parcerias com instituições de fora da universidade. Vencer o ENEB (Evento Nacional Enactus Brasil) esse ano, ser uma referência de trabalho em equipe e de qualidade dentro na nossa rede de conexões são outras metas”, finaliza Advânia Alves, a diretora de Projetos da Enactus/UFU.
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