Publicado em 03/10/2022 às 11:13 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39
O que começou com um grupo de carnaval mantém ações de preservação da cultura negra até os dias de hoje. (Foto: Unsplash)
Uma manhã de carnaval começa assim: fulana tira do guarda-roupas a mesma fantasia de plumas, tecido não tecido (conhecido como TNT) e retalhos que usa por mais um ano consecutivo, ciclano organiza as crianças que farão a comissão de frente do desfile e beltrano conversa com a vizinha sobre um tal “Bloco do Aché”.
Maria da Graça Oliveira era o nome da responsável por movimentar o grupo que usava a festa de carnaval como fio condutor para transformações sociais no município de Uberlândia. O que crescia em meio aos apitos, línguas-de-sogra e confetes do Bloco do Aché eram debates sobre temas variados e que serviam de conscientização para a população da época, como: gravidez na adolescência, desenvolvimento jovem, identidade e questões raciais.
Maria da Graça Oliveira viveu entre os anos de 1950 e 2000. (Foto: Arquivo pessoal)
Conhecida como uma “mulher em movimento”, Oliveira fez com que o bloco se tornasse uma Organização Não-Governamental (ONG) por volta da década de 80 e realizasse reuniões voltadas para a comunidade negra e a preservação de sua memória e costumes, além de permitir a intersecção de diferentes grupos em um único espaço.
Esse medo da inércia fez com que o nome Graça do Aché soasse por cada rua, viela e bairro de Uberlândia, gritando tão alto até que se tornasse referência para o movimento e luta contra o apagamento de identidades pretas e femininas. O Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché é um desses ecos que permanecem até os dias de hoje, enquanto um dos equipamentos culturais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é usado para difundir os ideais de Oliveira.
“Quero mostrar a todos o poder do povo negro. Acredito na transformação dessa nossa juventude e quero que ela seja protagonista de sua estória. Existe a nossa frente um caminho a ser percorrido em direção ao futuro, e isto significa fazê-lo com consciência individual e coletiva nas trilhas de nossas raízes.”- Maria da Graça Oliveira para a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura.
Por outro lado, como todo som que começa potente e se esvai conforme se distancia de seu objeto de origem, a história de Maria da Graça de Oliveira sofreu com o processo de apagamento inerente ao tempo. Mesmo tendo o nome associado ao centro cultural, os registros documentais de sua história não receberam o mesmo cuidado e corriam o risco de se porem como o sol no fim do dia.
Em busca de manter viva e sempre recente a história de Oliveira, a professora do Instituto de História (Inhis/UFU), pesquisadora e atual coordenadora do Graça do Aché, Ivete Almeida, promoveu um estudo de caso e registro da vida da patronesse do local.
Para a historiadora, quem controla a memória controla não apenas o discurso sobre o passado, mas define quais vivências tomarão parte do repertório da memória coletiva. Por isso, torna-se importante evitar o apagamento não somente de Oliveira mas também de diversas outras figuras como ela.
O estudo, contemplado com recursos aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) em 2021, foi apresentado em setembro de 2022 no 14º Congresso Mundos de Mulheres da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique.
“Maria da Graça foi uma mulher que conseguiu unir diversas culturas e comunidades. Neste ano em que o Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché completa 20 anos, lhe convido a vir conhecer nosso espaço”, encerra Almeida.
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Palavras-chave: Graça do Aché maria da graça oliveira centro de memória da cultura negra
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